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Notícias
09-04-2020 |
Aula online |
O manejo da ventilação mecânica em pacientes com insuficiência respiratória grave por coronavírus |
Particularidades referentes à ventilação mecânica em covid-19 pautaram aula virtual (live) promovida pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), em 2 de abril, sendo parte de uma série de apresentações on line a médicos sobre o assunto. Desta vez o convidado foi o professor doutor Carlos Ribeiro de Carvalho, titular da disciplina de pneumologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e coordenador da UTI do Instituto do Coração (Incor) e da UTI do Hospital das Clínicas (HC) destinada a pacientes infectados pelo novo coronavírus. História natural da covid-19 O segundo estágio, a fase pulmonar, se inicia com uma resposta inflamatória marcada por dispneia, respiração curta e hipoxemia, caracterizada por dessaturação na oximetria de pulso. Perante gasometria arterial, pode ser observado que a relação entre PaO2 (pressão parcial arterial do gás) e FIO2 (fração inspirada de oxigênio) cai para menos de 300. Nessas situações, se instala o quadro denominado Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA), que pode se associar também a um quadro inflamatório sistêmico. Em algumas situações, pode evoluir para falência cardíaca e instabilidade hemodinâmica. Em exames de imagem, associadas ao quadro clínico e laboratorial acima, podem aparecer infiltrados bilaterais, em radiografia, ou infiltrados típicos em vidro fosco, em tomografia de alta resolução, além de áreas de consolidação. Em relação ao quadro laboratorial, as transaminases podem se elevar, mas os níveis de procalcitonina tendem a se manter de normais a baixos. Nos casos que evoluem para SDRA, associada a uma reposta inflamatória sistêmica, os marcadores de processo inflamatório como proteína C-reativa (PCR), DHL, D-dimero, ferritina e interleucina-6 podem se mostrar bastante elevados. Início da assistência Ao chegar na instituição para atendimento, passará por protocolo que inclui oximetria e, eventualmente, um exame de imagem, como radiografia. Caso esteja bem, será orientado a voltar para casa. Do contrário, será registrado em um sistema referenciamento, como o Cross (Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde), serviço do Governo do Estado. Síndrome Respiratória Aguda Grave e critérios de internação em enfermaria e UTI Ventilação não invasiva O cuidado com o tempo se deve à possibilidade de lesão pulmonar, por conta de grandes pressões negativas. De acordo com o professor Carvalho, a VNI não pode retardar a intubação e a ventilação mecânica. “Esses pacientes permanecerão intubados por vários dias. Então, não os deixem fazendo esforços por 8 ou 10 horas, levando a uma lesão adicional no pulmão”. O professor lembra que diante de sintomas graves, como hipoxemia intensa, desconforto intenso, alteração de consciência, instabilidade hemodinâmica, arritmia cardíaca, oligúria e disfunção renal, o paciente não deve ir para VNI e, sim, direto para ventilação invasiva. Segundo ele, “não conhecemos o coronavirus. A tendência é que o quadro progrida para a piora rápida e, por isso, é preciso intervir precocemente. Não espere pela piora para depois intubar”. Ventilação mecânica invasiva e parâmetros ventilatórios recomendados
Por fim, é preciso ajustar a PEEP (pressão positiva expiratória final) no ventilador. Para isso, o grupo encabeçado por Carvalho sugere iniciar com uma PEEP de 10 cmH2O. Assim, no exemplo mencionado, os parâmetros ventilatórios iniciais ficam: volume corrente de 400 mL; fluxo inspiratório de 50 L/min, frequência respiratória de 25 p/min e PEEP de 10 cmH2O. Ainda, em relação à FIO2, Carvalho detalha: “como acabamos de intubar o paciente, forneceremos oxigênio puro, ou seja, FIO2 de 100%. Vamos tentar baixar essa FIO2 de 10% em 10%, a cada 10 a 15 segundos, com o objetivo de chegar até 60% de FIO2. Enquanto isso, mantemos iguais os demais parâmetros, baixando até uma FIO2 de 60%, se possível, com algo entre 90% a 95% no oxímetro”. Se o paciente estiver “brigando” com o ventilador, não deixando que o ventilador funcione de forma tranquila, será considerada a hipótese de bloqueio neuromuscular, por um período de 24 a 48 horas, no máximo. Ajustando o ventilador como o mencionado, depois de 20 ou 30 minutos, será realizada gasometria arterial. A partir de então, os reajustes dependerão de tabela de ajuste inicial de PEEP e FIO2 (veja abaixo), mantendo o alvo de saturação de 90% a 95% ou não. Caso for possível baixar a FIO2 até 60% e a PEEP mantida a 10 cmH2O, a partir deste ponto, o médico “caminhará” na tabela para a esquerda e para direita, sendo que ir para a esquerda significa que o paciente está evoluindo de forma satisfatória; e para a direita, que não está conseguindo atingir o alvo de saturação.
Assim, a cada 30 ou 60 segundos, o médico assistente deve “caminhar” à esquerda da tabela, começando por baixar a PEEP. Caso o paciente se mantiver bem, paulatinamente vai baixando, ora a PEEP, ora a FIO2, até chegar ao ponto esperado de equilíbrio, quando será colhida nova amostra de sangue arterial para gasometria. Após mais 24h ou 48 horas após atingido o novo ponto de equilíbrio, é possível tentar “desmamar” o ventilador. Para isso, a cada 2h devem ser feitos ajustes, seguindo a mesma tabela, no sentido da esquerda: “para isso, é necessário esperar até a estabilização do paciente, visto que a recuperação do pulmão demanda de um tempo longo”, esclarece Carlos Carvalho. “A degeneração que este vírus causa nas vias respiratórias e no epitélio respiratório é intensa”. O que fazer em um paciente que evolui de forma insatisfatória: estratégia da PEEP decremental Se isso ocorrer, é o momento de considerar outras alternativas. Estando a PEEP acima de 12 cmH2O e não chegando à saturação-alvo de 90% é indicada a chamada “manobra de PEEP decremental (PEEPd). O prof. Carlos Carvalho explica: “estou com a PEEP acima de 12, subi o FIO2 para 100%, vou manter o volume corrente e a frequência respiratória constantes, e induzir a uma pausa inspiratória curta, na marca de dois décimos de segundo, suficiente para o fluxo de ar entrar, gerar um pico de pressão que, em seguida, durante a pausa inspiratória, deve se estabilizar num platô”. Ou seja, para o respectivo volume corrente, devem ser obtidas duas pressões: a de platô de pausa inspiratória, e a pressão expiratória, que é a PEEP. A diferença entre a pressão de platô e a PEEP é a chamada driving pressure ou pressão de distensão: é a pressão gerada pelo volume corrente que entrou no pulmão durante a inspiração. A manobra de pausa inspiratória, conforme descrita, deve ser repetida para valores decrescentes (decrementais) de PEEP, obtendo-se, para cada um deles, um valor driving pressure correspondente. Assim, inicia-se a manobra de PEEP decremental com uma FIO2 de 100%, e uma PEEP 20 cmH2O, observando-se a pressão no platô, obtida durante a pausa inspiratória de 0,2 segundos. O médico fará a diferença entre a pressão de platô e cada valor de PEEP, que é diminuída em 2 cmH2O por vez, para elaborar um gráfico de driving pressure. Se a driving pressure diminuir após uma diminuição de PEEP, é sinal de que o pulmão estava sobredistendido e aquela PEEP anterior estava exagerada para a condição do pulmão do paciente. “Vou baixar então a PEEP em dois pontos” menciona Carlos Carvalho. No exemplo dado pelo professor, ao final da pausa de 0,2 segundo, a PEEP caiu para 16 cmH2O, e a pressão de distensão caiu mais ainda, indicando que o pulmão está sendo cada vez mais desinsuflado para o ideal. Ele continua: “reduzo mais dois cmH2O de PEEP, meço a pressão de platô e subtraio a PEEP e vejo que a pressão de distensão se elevou, o que significa que o pulmão sofreu colapso e não será mais possível baixar a PEEP, porque ele teria que colabar mais ainda”. O professor conclui que a PEEP em que se obtém a menor driving pressure é aquela que representa a menor insuflação pulmonar, capaz de manter o pulmão sem colabar excessivamente, uma vez que a lesão que o vírus causa leva à Síndrome do Desconforto Respiratória Aguda (SDRA), condição em que o pulmão tende mais ao colabamento. Ao mesmo tempo, protege-se o pulmão de uma pressão inspiratória excessiva, que pode ser lesiva aos alvéolos. Deve-se passar a trabalhar com essa PEEP daí em diante, até a próxima tentativa de desmame, caso o paciente evolua bem, portanto. Manobras de recrutamento alveolar em pacientes refratários Em instituições nas quais não existem condições de pronar o paciente ou fornecer inalação de óxido nítrico, em casos excepcionais, e se a equipe estiver treinada, pode-se tentar manobras de recrutamento alveolar. Em casos excepcionais, ainda é possível titular a PEEP perante impedância elétrica e tentar a técnica de circulação extracorpórea por membrana (ECMO), para oxigenar os pacientes. “No Incor, estamos capacitando uma rede de telemedicina para discutir casos mais complexos como esses, através de teleinterconsulta”, comenta o professor. Ventilação prolongada e infecções respiratórias associadas Equipes de enfermagem e de fisioterapia devem prevenir a broncoaspiração, elevando a cabeceira da cama hospitalar. Além disso, doentes intubados por covid-19 e alimentados por sonda gastroenteral correm o risco de refluxo do alimento para a via aérea superior e aspiração para a via respiratória. Neste sentido é fundamental não exagerar na alimentação, levando a uma grande distensão gástrica e, como consequência, a maiores riscos de refluxo. Caso comece a surgir na cânula uma secreção purulenta é sinal de infecção secundária respiratória, como traqueobronquite ou pneumonia, achado que deve ser associado a um infiltrado radiológico novo e à mudança na curva de temperatura. A elevação da procalcitonina pode fornecer indícios de infecção bacteriana por complicação de covid-19, uma vez que esse marcador não costuma se elevar na covid-19 isolada. Outros cuidados em UTI O uso de corticoides também não é indicado, fora de protocolos de pesquisa, nesses pacientes, exceto nos portadores de doenças obstrutivas que apresentem quadro de broncoespasmo associado. Devem ser tomados cuidados com a alimentação, evitando-se não somente a sobredistensão gástrica, como já mencionado, mas também, a hipercapnia que pode decorrer da hiperalimentação, uma vez que esta se associa a uma maior produção de gás carbônico, possivelmente não tolerada por um paciente que já está sendo ventilado com baixos volumes correntes. Diagnóstico diferencial De qualquer maneira, o diagnóstico de covid-19 baseia-se muito na avaliação clínica dos sintomas dos pacientes. Pacientes com falta de ar associada à hipoxemia intensa e que não respondem ao cateter de O2, principalmente quando é observado que 30%, 40% ou 50% do pulmão estão acometidos, devem ser transferidos o mais rápido possível para UTI, pois a tendência é de que a evolução seja rápida: o mais seguro é estar em ambiente com suporte invasivo, para ser prontamente atendido se descompensar. Veja mais palestras online promovidas pelo Cremesp sobre a covid-19: Orientações para casos de óbitos durante a pandemia de covid-19 – Fluxo de Declarações de Óbito é tema de live do Cremesp
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