

CAPA

EDITORIAL (pág. 2)
João Ladislau Rosa - Presidente do Cremesp

ENTREVISTA (pág. 3)
Tim Swanwick

LEGISLAÇÃO (pág. 4)
Limites da atuação do médico e do farmacêutico

MAIS MÉDICOS (pág. 5)
As falhas do Programa em São Paulo

SAÚDE SUPLEMENTAR (pág. 6)
Contratualização formal dos médicos

MOVIMENTO MÉDICO (pág. 7)
Plano de Carreira

ENSINO MÉDICO (pág. 8)
Avaliação de egressos

ENSINO MÉDICO (pág. 9)
Opinião acadêmica

PLENÁRIA TEMÁTICA (pág. 10
Trote, preconceito e assédio

EBOLA (pág. 11)
Medidas de precaução

AGENDA DA PRESIDÊNCIA (pág. 12)
Inauguração

JOVENS MÉDICOS (pág. 13)
Falsificação de atestado médico

ANUIDADE 2015 (pág. 14)
Desconto para PJ

BIOÉTICA (pág. 15)
Avanço tecnológico e acesso dos pacientes

GALERIA DE FOTOS

EBOLA (pág. 11)
Medidas de precaução
Como proceder em casos suspeitos?
Transporte de paciente com ebola deve ser feito em maca vedada
Apesar de, na opinião de pesquisadores, as chances de haver um surto no Brasil serem baixas, medidas de precaução estão sendo tomadas. A Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro, por exemplo, promoveu um debate, em outubro, sobre o protocolo de atendimento para casos suspeitos da doença.
Durante as discussões, destacou-se a necessidade de capacitação de médicos e outros profissionais da saúde com o objetivo de evitar o que aconteceu nos EUA, onde um homem vindo da Libéria procurou os serviços de emergência e foi liberado mesmo após ter apresentado sintomas da doença. O atendimento dado ao paciente, que veio a falecer, acabou por infectar duas enfermeiras da equipe do hospital que o atendeu, em Dallas.
Protocolo de atendimento
De acordo com protocolo de atendimento, divulgado pelo Ministério da Saúde, a principal medida, quando o médico atende um caso suspeito do vírus Ebola, é isolar o paciente assim que ele apresentar sintomas da doença – que se manifestam entre um e 21 dias após o contágio (mais frequente entre quatro e 10 dias) – como febre, vômito, diarreia, dores pelo corpo, fraqueza e, em casos mais graves, hemorragias. A partir da manifestação dos sintomas é que a doença passa a ser contagiosa, por meio do contato com secreções e sangue do paciente infectado. O vírus não é transmitido pelo ar.
Ao se deparar com um caso suspeito, o médico deve encaminhar o paciente para a sala de emergência de pronto-socorro que possuir antecâmera e ligar para o Centro de Vigilância Epidemiológica – número 0800-555466 (disk-CVE) –, que cuidará do transporte do paciente e internação no centro de referência do Estado.
O transporte do paciente deve ser feito em veículo especial, que possua maca vedada e cabine do motorista isolada. Os médicos e enfermeiros que tiverem contato com o paciente devem estar usando vestimentas especiais, como protetor facial, avental impermeável, cobre bota e duas luvas de proteção em cada mão. Dispositivos descartáveis devem ser utilizados para cada paciente; quando tal prática não for possível, devem ser utilizados materiais de uso exclusivo.
Após o contato com o paciente suspeito de estar infectado com vírus, o médico deve tomar um cuidado redobrado ao retirar a vestimenta especial. O procedimento deve ocorrer ainda no quarto onde o paciente está internado. A vestimenta deve ser corretamente encaminhada para a unidade de processamento de roupas da unidade. O profissional de saúde deve higienizar as mãos imediatamente após a retirada da roupa especial e tomar cuidado de não tocar o rosto antes que todo o processo de higienização esteja completo.
O cuidado no diagnóstico é fundamental, já que a doença pode ser confundida com outras patologias, a exemplo da malária e dengue hemorrágica. Todo caso de pacientes que viajaram para os países onde existe epidemia da doença nos últimos 21 dias é considerado suspeito.
O médico não deve solicitar nenhum exame, somente a transferência para o centro de referência, que no Estado de São Paulo é o Hospital Emílio Ribas. O resultado do exame sai entre 24 e 48 horas. Pessoas que tiveram contato direto com secreções e sangue do paciente com suspeita da doença, ou contato físico, devem permanecer em observação durante 21 dias.
Ebola: cenário apocalítico
Caio Rosenthal
Infectologista e conselheiro do Cremesp
Em 1976, Peter Piot, um jovem cientista belga de 27 anos, trabalhando na Antuérpia, recebeu das mãos de um piloto do Congo, um frasco contendo sangue de uma missionária gravemente enferma, vindo de um vilarejo ao redor do Rio Ebola. Piot deslocou-se com sua equipe para África e, após examinarem o sangue de uma dúzia de doentes, concluíram tratar-se de mais um vírus causador das temíveis Febres Hemorrágicas.
A atual epidemia, a 25ª, é causada por uma das cinco espécies daquele vírus (espécie Zaire), que chega a 70% de mortalidade. Iniciou-se em dezembro de 2013, em Guéckédou, na Guiné. Após milhares de mortes e inúmeros apelos da organização Médicos Sem Fronteiras, apenas em 8 de agosto deste ano a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou estado de emergência internacional.
Guiné, Libéria e Serra Leoa, no olho do furacão, dividem consigo as fronteiras e possuem a miséria como denominador comum. Estão conectados por alto fluxo de vai e vem de pessoas que convivem com conflitos étnicos e tribais. Não há nenhuma estrutura de saúde pública e saneamento. A estrutura hospitalar é caótica e o atendimento médico deficiente. Em 2010, havia apenas 51 médicos na Libéria e, hoje, talvez ainda menos. Para completar o caldeirão de tragédias, esses países ostentam os piores Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo.
Felizmente, não há transmissão por via aérea. Estudos mostram que na atual epidemia uma pessoa doente transmite o vírus para outras três, enquanto o sarampo, nas mesmas condições, acomete 14 a 17 indivíduos.
Levando em consideração que o período de incubação da Aids é, em média, de cinco a sete anos, e que nesse longo período há permanente transmissão, seja horizontal ou vertical, estamos agora diante de uma epidemia potencialmente controlável, sem motivo para pânico. O vírus Ebola só é transmitido por contato com pessoas doentes e suas secreções, ou manuseio de primatas e cadáveres acometidos. Não há transmissão durante o período de incubação (de 2 a 21 dias).
Portanto, não há razões para uma epidemia explosiva. Agora o importante é a união das nações, a tomada urgente de medidas preventivas sem coerção, e informações para a população. O alerta mundial foi dado com atraso. A malária, tuberculose, HIV, doenças entéricas e respiratórias somam-se à miséria naqueles países, mais uma vez esquecidos e negligenciados, com risco de desestabilizar todo um continente, ceifando ainda o que resta de fé e integridade humana.