59 no uso da associação de ideias para capturar novas informações ocultas e, por fim, de Conan Doyle (1859 – 1930) , que dispôs como auxiliar de Sherlock Holmes — e narrador de seus casos — o Dr. Watson, médico que não conseguia perceber as pistas deixadas na cena do crime pelos autores, tais como pegadas na lama, cinzas de cigarros, ou mesmo características familiares de orelhas humanas observadas num quadro . Rosenbaum , ao comentar o paradigma indiciário, afirmou que “se o individuum est inneffabile, pode-se concluir que do individual nada se pode falar. E, se o evento histórico de uma vida é de fato único, só se pode tornar esse registro estritamente ‘científico’ com um enorme esforço de abstração, afrontando, assim, as características constitutivas positivistas do conceito ainda hegemônico de ciência”. Todo médico se vale, em maior ou menor medida, dos três modos de raciocínio que integram o método científico. Entretanto, dos sintomas e sinais coletados durante a consulta o médico deve formular hipóteses preliminares que expliquem as informações obtidas, as quais serão confirmadas no exame físico ou em exames complementares. Vale-se, preferencialmente, do método hipotético-dedutivo como estratégia de raciocínio, completada no diagnóstico diferencial pelo processo indutivo de eliminação. Já o médico homeopata, além de realizar a mesma dinâmica de raciocínio do alopata, ainda deve captar — se surgem — os sintomas mais peculiares, singulares e característicos do paciente, o que impõe o uso intensivo da abdução para a composição da totalidade sintomática que orientará a escolha do medicamento homeopático. Durante a consulta, faz conjecturas sobre os detalhes insignificantes que pouca valia teriam para o médico alopata, testando suas conjecturas apoiado em seu conhecimento da matéria médica homeopática (ou conjunto dos efeitos de cada medicamento homeopático). É notável, portanto, em face das informações a serem coletadas e processadas, a necessidade de maior tolerância à incerteza por parte dos médicos homeopatas, em comparação aos alopatas. Samuel Hahnemann (1755 – 1843) antecedeu Morelli, Freud e Doyle, bem como qualquer outro médico ao propor o método homeopático de seleção dos sintomas mais relevantes para identificar — e tratar — a singular desarmonia na energia vital de um enfermo. Valeu-se da abdução, depois identificada por Peirce, como fértil método para construção do conhecimento. Ao registrar na matéria médica homeopática os sintomas relatados por indiví21 22
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