52 Desta confusão, não escaparam experientes comentadores sobre racionalidade em ciência e Medicina. Os epidemiologistas clínicos Vandenbroucke e de Craen escreveram que “ nenhum médico usaria uma medicação antihipertensiva numa diluição acima do número de Avogadro”, referindo-se aos medicamentos homeopáticos. Apesar de apontarem que médicos tendem a rejeitar provas científicas que são aparentemente robustas apenas por serem contrárias à teoria dominante, a manifestação dos autores denota que estão tratando a homeopatia como se seguisse os mesmos princípios farmacológicos adotados na prescrição por alopatia: quanto maior a dose, maior será o efeito. Ao procederem desta forma, deixam de considerar que medicamentos homeopáticos, prescritos sob a regência do principío da semelhança, devem seguir sua própria lógica interna que não se confunde com a noção de concentração química dos medicamentos alopáticos para obtenção de um maior efeito. A rigor, não se pode falar em princípios contrários, pois a homeopatia não usa a mesma substância aplicada alopaticamente para tratar um mesmo problema tratado pela alopatia, mas se vale, na origem, de uma substância que provoca sintomas semelhantes num indivíduo aparentemente são e que é prescrita de acordo com um diferente princípio — o princípio da semelhança, e não dos contrários como acontece com a terapêutica medicamentosa alopática. Uma diferença sutil, porém fundamental para o entendimento conjunto das duas terapêuticas medicamentosas como complementares e não alternativas, mutuamente excludentes. O professor William Osler combateu firmemente esta tendência separatista e defendeu, no seu discurso de despedida para a profissão médica nos Estados Unidos, a integração entre médicos homeopatas e alopatas, a qual incluiu como um de seus três desejos para união da profissão . Dizia ele: “Nós já deixamos muito para trás o tempo em que qualquer ‘sistema’ poderia satisfazer um médico racional, já ultrapassamos o tempo em que se permite que uma diferença na ação das drogas – o elemento mais incerto em nossa arte! – possa separar homens com as mesmas nobres tradições, as mesmas esperanças, os mesmos objetivos e ambições... É angustiante pensar que tantos homens bons vivem isolados, de certo 11 12
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