etica_em_homeopatia

46 cial” [grifo pessoal]. Ou seja, não poderá jamais ser negado o componente singularizador do ser humano em sua formação, prática profissional e investigação clínica. Os médicos, durante o processo de sua formação, são educados com base em determinadas teorias, que passam a ser incorporadas à sua prática cotidiana — frequentemente sem uma consciente reflexão ou crítica interna — e que guiam os seus comportamentos frente aos doentes. Argyris e Schon (1975), em extensa pesquisa que incluiu o exame de inúmeros casos e a observaçåo de reuniões e outras formas de contato onde ocorresse interação entre as pessoas em ambientes organizacionais, concluíram que era possível explicitar a teoria de ação de um indivíduo a partir da observação direta de seus comportamentos. Além disto, verificaram que a quase totalidade das pessoas está inconsciente de suas teorias de ação e, de modo ainda mais impactante, que para uma grande maioria dos observados se detectou uma incongruência entre a teoria que cada indivíduo pensa ter (teoria expressa ou desposada) e aquela que efetivamente aplica na prática (teoria em uso). Na área médica, estes comportamentos inconsistentes podem se dar tanto em atos relacionados à assistência ao paciente e ao desenvolvimento de pesquisas clínicas, embora em menor escala também possam incidir na elaboração de diretrizes clínicas ou mesmo de políticas públicas de saúde, apesar de outros interesses em jogo. Em seu recorte terapêutico, a Medicina contempla múltiplas estratégias de intervenção que visam prevenir, eliminar ou aliviar o sofrimento humano advindo de doenças provocadas por múltiplos agentes, que podem ser utilizadas isolada ou conjuntamente. Neste capítulo, serão cotejadas as duas terapêuticas medicamentosas mais relevantes no contexto atual, a alopatia e a homeopatia, commenções complementares à cirurgia. As intervenções médicas confluem, eticamente, para beneficiar o ser humano e, sempre que possível, evitar danos decorrentes de atos médicos, em linha com o preceito hipocrático primum non nocere. Serão perscrutados aspectos epistemológicos que são comuns ou distintos entre a teoria e a prática da homeopatia e alopatia, tomando como ponto de partida a concepção básica de ser humano sobre a qual estão assentadas para reconhecer suas teorias de ação expressas e em uso no direcionamento da prática clínica assistencial ou em ensaios clínicos para investigação dos seus efeitos terapêuticos ou danosos aos indíviduos. 3

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