33 Não é que os conflitos não estejam sendo avaliados, e muito menos que não gerem legítima preocupação, mas é que não há uma solução razoável para eles. Pode gerar perplexidade, mas, sendo bem pragmático: um pesquisador subsidiado é, antes de tudo, um funcionário. Sua função é submeter-se a um regime que lhe pede, explicitamente ou não, prestação de contas. Ele precisa produzir para justificar seu custo na linha de produção/geração de tecnologia, daí que papers, que crescem em profusão geométrica, contra leitores que não dão conta de se atualizar, acabam sendo excedentes de luxo. Vale dizer: o problema da produção científica é como uma raiz que não pode ser apropriadamente desmembrada, pois, para controlá-la, precisaríamos de núcleos de pesquisa subsidiados pelo Estado – como sonhava o epistemólogo e historiador da Medicina Henri Sigerist1 --, que também teria de ser relativamente neutro e independente em suas políticas de produção e avaliação científicas. Obviamente, isso não acontece, pois, cada vez menos, os Estados são imparciais em suas políticas de pesquisas. E os programas de pesquisa tendem a seguir a mesma tendência. No desenvolvimento de novas drogas, vale mais o desenvolvimento de uma molécula inédita, que tem potencial para gerar ummedicamento caro, frequentemente para uma enfermidade que tem visibilidade para a opinião pública – ainda que não seja a mais prevalente ou prioritária – do que medidas de caráter sócio-educativas ou técnicas substitutas/complementares, que apresentam menor impacto midiático imediato. Considerando que os pleitos eleitorais são todos eventos de curto ou curtíssimo prazo, não fica difícil deduzir para qual lado habitualmente pendem as decisões econômicas em saúde. Esse é o atual jogo jogado pelos programas de pesquisas científicas quando se trata do mundo político dos subsídios, e não adianta nada – parafraseando Ronald Laing2 – fingir que não se vê o jogo que eles fingem não jogar. Como a maior parte das experiências com novos fármacos e vacinas, assim como o próprio desenvolvimento da biotecnologia, encontra-se em mãos privadas. Não há espaço, quiçá interesse, para ultrapassar a dimensão burocrática da discussão. Ela se torna novamente refém dos vícios que as normas que os combatiam, tentavam, em vão, corrigir. O objetivo é apontar aqui os problemas que funcionariam como pontos cegos ao próprio
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