etica_em_homeopatia

32 Trata-se daquela ideia de que se deve dar algo parecido com a doença ao que adoece, para que ele possa reagir. As vacinas usaram um pouco desse raciocínio. É um antiquíssimo princípio, mais conhecido pelas proposições hipocráticas, mas já presente na tradição judaica e na cultura chinesa há quase 4 mil anos antes da era civil. Já o uso de doses mínimas não foi uma ideia que tenha vindo da cabeça do fundador da Homeopatia, Samuel Hahnemann (1755-1846), mas sim, sistematizada por ele a partir de observações de Hipócrates (400 a.C.) e do médico do século XVIII, Van Helmont, que falava abertamente que a Medicina deveria explorar melhor em suas terapêuticas as doses tênues (artificialmente enfraquecidas) em substituição às doses maciças. Quanto ao uso de medicamentos únicos, trata-se de uma espécie de retomada de um aforismo da Escola Médica de Salerno (famosa escola do medievo que ficou famosa por ter unificado as grandes tradições da Medicina em uma só escola), de que, em primeiro lugar, o médico deveria “não causar dano” ao paciente. Tudo isso já estava na memória da Medicina como aspectos que poderiam, mais cedo ou mais tarde, virema ser resgatados quando algummédico mais curioso os examinasse. ODILEMACONTEMPORÂNEO Não é incomum ouvir falar sobre as crises da Medicina. Mas, por mais que sejam esmiuçadas, não costumam representar ameaça de esgotamento do modelo científico sobre o qual a Medicina se apoia. Pelo contrário, a hegemonia do método científico corrente é cada vez mais sólida e abrangente. Pois, então, onde é que ela, a tal crise, estaria? A pandemia suscitou alguns problemas nametodologia e abordagem científica, abalou alguns atavismos, mas nem chegou a balançar o edifício sobre o qual se apoia a tecnociência contemporânea. As questões não podem estar delimitadas ao sucesso da razão tecnológica, pois o êxito das novas tecnologias não é só estrondoso, mas parece possuir a consistência do que é tanto definitivo como irreversível. O regime de validação dos procedimentos da Medicina é tão extraordinário que não pode se dar ao luxo de se importar demasiadamente com as questões chamadas “menores”, como, por exemplo, os conflitos de interesse que ocorrem nas publicações científicas revisadas por pares, mesmo quando não assumidos.

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