etica_em_homeopatia

157 Esta “ontologia do encontro” que se processa também na relação médico- -paciente pode trazer não apenas benefícios terapêuticos colaterais, mas efetiva capacidade de aprimorar a empatia e a compreensão do sofrimento. Não é uma tarefa fácil, uma vez que o médico se desloca para ir ao encontro de uma outra pessoa com toda sua carga de subjetividade, e, portanto, precisa acolher e envolver-se, porém sem se deixar contaminar psiquicamente, isto é, manter-se dentro da objetividade terapêutica. O tipo de consulta proposta pela Homeopatia, mais detalhada e compreensiva, na qual se investiga desde os hábitos alimentares às características do sono, dos hobbies às hipersensibilidades meteorológicas, das idiossincrasias pessoais ao ambiente familiar, cria, quase espontaneamente, um estreitamento na relação médico-paciente. Deste modo, diante de entrevistas mais intensas e prolongadas, decorrentes de exigências do próprio método, é mais do que natural e resultado desta proximidade, que ocorra um aumento da adesão, e o interesse em seguir a orientação terapêutica proposta pelo médico. Por isto o historiador da Medicina citado fez questão de trazer uma especificidade: não se trata de uma amizade como aquela entendida pelo senso comum, mas de uma amizade médica. Também não se trata de uma forma de psicoterapia stricto sensu — e deve-se mesmo ter precauções com formas involuntárias de psicanálise selvagem — mas de um processo transferencial que implica em compromisso mútuo e responsabilidade compartilhada. Ela, a transferência, é levada em conta, ainda que parte dos médicos ainda não tenha aprendido a usá-la da forma adequada. Não se confunda proximidade e real identificação (ou cumplicidade neurótica) com o paciente (que pode acontecer em um ou outro caso) com a “amizade médica”, um conceito específico que envolve laços de confiança e solidariedade. Mas há sempre que se estabelecer barreiras naturais para que as fronteiras não sejam confundidas. As escolas de Medicina, mesmo as melhores, geralmente concentram-se a ensinar os médicos na disciplina de Propedêutica e Semiologia, em como fazer uma anamnese, buscar os sintomas objetivos, cataloga-los, tudo para que se possa ser capaz de formar um quadro diagnóstico plausível da patologia a ser tratada, e estabelecer a terapêutica e um prognóstico mais adequado e eficaz. Se a Medicina deseja recuperar para si a tradição humanista que foi indevida e involuntariamente, cedendo lugar à hipertrofia da biotecnologia e da

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