155 à consciência do sujeito esclarecimento sobre seu próprio estado e a necessidade de cuidar(se). A filosofia médica que embasa a Homeopatia também considera parte importante de sua atuação o controle e prevenção de moléstias crônicas. Como parâmetro de seguimentos dos casos clínicos, considera vital o acompanhamento prospectivo do enfermo: se o paciente está pior, se a enfermidade inicial ( illness) caminha em direção ao avanço da moléstia ( disease). Detectar o illness, o adoecimento, a pré-moléstia, já seria ampliar muito a percepção do “mal-estar”, já seria dar uma passo adiante no que se entende como papel preventivo da arte médica. Esta migração não ocorre só como gradiente cronológico, mas principalmente de transição qualitativa de estados clínicos. Este é um papel importante na prevenção de que estados funcionais não progridam para estados mórbidos lesionais e/ou incuráveis. Esta tarefa requer a aplicação de pesquisas clínicas qualitativas17 e novas ferramentas que permitam aferir epidemiologicamente os resultados. Outros aspectos da prevenção: o dialógico e o papel da linguagem na semiologia Para Paul Ricoeur18 , só existe sujeito no âmbito dialógico. E o instrumento para que este pertencimento seja operativo, é a linguagem. É mais do que compreensível que as linguagens ocupem lugar central nas terapêuticas. Por dois motivos essenciais: primeiro é que a função de ummédico que pratica a homeopatia não está limitada apenas pela tarefa de sanar determinada patologia, mas a de oferecer condições qualitativas mais apropriadas para que as pessoas também possam se dedicar à tarefa do autocuidado — não circunscrita somente à prevenção de enfermidades e promoção de saúde, mas como uma perspectiva de “ocupar-se de si mesmo” a epimeleia, a qual se referiu Foucault (Foucault, 2002). Este conceito aduz uma auspiciosa renovação do debate ontológico à luz da saúde coletiva, da epidemiologia e das ciências humanas. Epimeleia heautou é uma palavra grega que significa aproximadamente “inquietude de si” — ou seja, que o sujeito tenha tempo e disposição para analisar suas próprias ações — e implica que a verdade (no caso, os conteúdos ou insights percebidos através do estudo de si mesmo) sejam os agentes da transformação do sujeito19 20.
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