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Nesta edição
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Entrevista
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Crônica
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Dossiê/Vacinas/História
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Tecnologia
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Opinião
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Hobby
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Medicina no mundo
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Resenha
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Opinião
Liderança feminina na Medicina
Por Eloisa Silva Dutra de Oliveira Bonfá*
A medicina brasileira tem acompanhado a tendência mundial e se torna cada vez mais feminina. O Censo de Demografia Médica no Brasil 2018, publicado pelo Cremesp, em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), revelou que as mulheres já representam a maioria dos recém-formados e quase metade dos médicos em atividade no país.
No entanto, esse avanço não foi acompanhado por uma representação proporcional em cargos de liderança. Isso é um fenômeno mundial e, segundo artigo recente da Harvard Business Review (junho 2018), nos Estados Unidos apenas 18% dos cargos de direção executiva de empresas, 16% dos cargos de diretores de faculdades ou de chefia de departamento, 10% das autorias principais de trabalhos científicos e 7% dos cargos de editores de revistas científicas renomadas são ocupados por mulheres.
A FMUSP também reflete essa disparidade, pois demorou 85 anos para essa escola médica, fundada em 1912, ter uma professora titular, em 1997: a responsável pela cadeira de Patologia, Professora Dra. Maria Irma Duarte. No mesmo ano, a infectologista Professora Dra. Maria Aparecida Shikanai Yasuda seria a segunda mulher a assumir o cargo de professora titular da FMUSP, como responsável pelo Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias. No ano seguinte, me tornei a terceira professora titular, como responsável pela Disciplina de Reumatologia do Departamento de Clínica Médica. Avançamos um pouco e hoje somos 13 professoras titulares dentre os 68 cargos disponíveis. Contudo, até hoje, nenhuma mulher ocupou o cargo de diretora da Faculdade de Medicina da USP.
Da mesma forma, demorou 70 anos para o Hospital das Clínicas ter uma mulher na sua liderança, fato que ocorreu quando fui eleita para assumir a posição de diretora clínica. O complexo Hospitalar do Hospital das Clínicas é composto de oito institutos (Instituto Central, Instituto do Coração, Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Instituto da Criança e Adolescente, Instituto de Ortopedia, Instituto de Psiquiatria, Hospital Auxiliar de Suzano e Instituto de Medicina Física e Reabilitação) com aproximadamente 20 mil colaboradores e mais de 2 mil leitos. Hoje, as mulheres representam 63% dos cargos de diretoria de corpo clínico de cada um dos Institutos.
Como representante e agente dessa mudança no complexo HC-FMUSP acredito que a mulher traz um novo olhar para a liderança, com um pouco mais de sensibilidade e habilidade de multitarefa. Vejo que hoje existe uma consciência cada vez maior de valorização de mérito sobre o gênero, e a grande questão que se coloca é como resgatar o processo de equidade.
Uma das maiores barreiras para essa igualdade é a questão da maternidade, denominada, em inglês, maternal wall. O avanço na carreira de grandes talentos muitas vezes se perde por falta de compromisso institucional nesse período e a exigência de dupla jornada. O investimento para atender as demandas de lactação, creche e licenças é considerado alto, mas com evidências de que ele pode ser compensador em termos de motivação e fidelização, pois é entendido como benefício de valor inestimável.
Outro aspecto relevante é a necessidade de preparar esse contingente de mulheres que está crescendo na Medicina para assumir o papel de liderança. Isso requer muito mais do que políticas afirmativas e deve necessariamente incluir programas formais de preparo para essa atividade, com apoio institucional. A capacitação é fundamental para podermos ter o orgulho de ser mulheres líderes e não líderes porque somos mulheres.
A sociedade já tem a consciência de que precisa dessa mudança e de que a diversidade é uma força e não uma fraqueza. Falta trilhar o caminho da implementação.
*Professora Titular de Reumatologia da Faculdade de Medicina da USP e Diretora Clínica do Complexo HC-FMUSP