CAPA
PONTO DE PARTIDA (PÁG. 1)
O médico, os planos de carreira e os novos desafios
ENTREVISTA (PÁG. 4)
"É preciso aprender a gerir a própria emoção"
CRÔNICA (PÁG. 10)
Envelhecendo, mas sem desanimar
CONJUNTURA (PG. 12)
Você é Nomofóbico?
VANGUARDA (PG. 16)
Progressos da cirurgia bariátrica
DEBATE (PG. 20)
Planos de Carreira para Médicos
SINTONIA (PG. 26)
O Direito e a certeza médica
HISTÓRIA DA MEDICINA (PG. 29)
Como é bom ser bom
HOBBY (PG. 32)
Paixão pela arte e fascínio pela Medicina
GIRAMUNDO (PG. 36)
Cérebro criativo
PONTO COM (PG. 38)
Quem diria...
CULTURA (PG. 40)
Cultura, emoção e história
GOURMET (PG. 44)
De bem com a vida
FOTOPOESIA (PÁG. 48)
Trajetório Poética do Ser
GALERIA DE FOTOS
CONJUNTURA (PG. 12)
Você é Nomofóbico?
Você é Nomofóbico?
Quando você perde ou esquece seu smartphone, sente-se ansioso, desconfortável
ou angustiado? Atrasa compromissos e diminui sua produtividade em momentos que requerem atenção, por causa dele? Caso sim, é bom saber que você é, ou pode estar se tornando, um(a) nomofóbico(a). O neologismo nomofobia vem do inglês no mobile phobia, ou seja, medo de ficar sem o celular.
Convenhamos que, se o uso do aparelho ainda não virou vício, dá até para entender a
satisfação em usá-lo. Afinal, nunca foi tão fácil falar com um amigo ou familiar distante, acessar redes sociais, pedir uma comidinha gostosa, pesquisar aquela música que você sabe que conhece, mas não lembra o nome; ler as últimas notícias e, provavelmente, quase um número PI de outras possibilidades.
Segundo o estudo anual Google Consumer Barometer, o percentual de brasileiros
que usam smartphones chegou a 62% em 2016. Em 2012, eram apenas 14%. O
Brasil se destaca como um dos países em que o acesso à internet (59% dos brasileiros)
é feito prioritariamente a partir dos aparelhos. A pesquisa mostrou também que 65% dos usuários no País usam os smartphones como despertador e, 59%, como principal relógio. Além disso, 64% disseram fazer fotos com o celular, diariamente, e 60% ouvem
música todos os dias por meio dele.
O uso excessivo do celular interfere na socialização,
no foco e na memória
Mas, como geralmente ocorre, o bônus trouxe o ônus. E acendeu-se a luz amarela. Apesar de não ser considerada, ainda, uma doença, a nomofobia já é, na prática clínica e na literatura científica, tratada como uma forma de transtorno. É o que diz Dora Goes, psicóloga do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso do Instituto do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
O transtorno, ressalta, ativa o Sistema de Recompensa Cerebral (SRC), proporcionando sensações de prazer e satisfação. “É exatamente isso que acaba alimentando uma tolerância menor a qualquer tipo de frustração”, explica. O vício pelo celular pode ser, também, consequência da inibição de outros tipos de vícios. “Como o sistema cerebral das dependências são muito semelhantes, tanto químicas quanto comportamentais, os pacientes podem substituir um vício pelo outro”, afirma.
Depois do diagnóstico
As consequências do uso excessivo do celular podem ser observadas em curto e longo prazos. Em uma primeira fase, estão as interferências na socialização, no foco e na memória. “A pessoa está em um lugar, mas ao mesmo tempo não está. Ela fica o tempo inteiro checando tudo e não consegue se concentrar no que está fazendo”, observa a psicóloga. Ao longo do tempo, os usuários podem apresentar, também, Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e problemas na coluna cervical.
Porém, para Dora, um dos principais problemas é o desenvolvimento da ansiedade, que entra em um círculo vicioso. A pessoa que já possui o distúrbio tem tendência a usar mais o celular, enquanto outras pessoas evoluem para a ansiedade por conta do uso.
Para o tratamento, é preciso, primeiramente, um diagnóstico diferencial, para entender o que, de fato, está por trás do vício, já que esse transtorno pode ser confundido com vários outros. “Tendo essa avaliação, propõe-se um tratamento adequado, que normalmente abrange o uso de medicamentos, receitados por um psiquiatra, e psicoterapia”, afirma Dora.
Em busca do equilíbrio
O celular é apenas uma plataforma. A grande questão, cotidiana e atual, é o uso que a sociedade está dando a ele. Na maioria das vezes, a utilização exagerada do aparelho pode ser uma forma de enfrentar emoções desagradáveis, como autoestima baixa, timidez ou fobia social. Isso torna as relações progressivamente mais superficiais, já que as idealizações ficam nesse lugar comum, nessa zona de conforto, em que só o desejo e a vontade da pessoa são soberanos o tempo inteiro, e as coisas não funcionam dessa forma.
Quanto mais cedo se tem contato com o celular, computador ou tablet, maior a chance de desenvolver uma dependência. Em texto publicado pela Revista Paulista de Pediatria, em 2011, já se afirmava que os padrões de uso do celular influenciam o comportamento de crianças e adolescentes, podendo provocar problemas de concentração e distúrbios do sono.
De acordo com a antropóloga e mestra em Comunicação, Imagem e Informação, Paula Sibilia, “temos, hoje, a impressão de que só acontece aquilo que é exibido em uma tela. Isso prova que é necessário um equilíbrio entre o contato real com a natureza, consigo mesmo e com a tecnologia”.
O principal ponto a ser discutido e abordado, atualmente, é o conceito de meditação
(também chamada de mindfulness) ou atenção plena, na opinião de Dora. As pessoas
precisam se atentar a algumas questões em relação à falta de atenção que a tecnologia
provoca, diz. “Se eu faço alguma coisa, eu estou fazendo inteiramente?”, indaga. O
habitual do ser humano é viver e se atentar ao presente, o que tem sido invertido devido à utilização excessiva do celular, que induz a desvios para desaprender a estar. “Nós precisamos usar outras coisas para voltar ao estado basal, que é poder estar no ‘aqui e agora’”, conclui a psicóloga.
Sintomas de nomofobia
O transtorno se dá por um conjunto de fatores. Entre os sinais que o usuário pode
apresentar, estão:
✓ O celular torna-se o objeto mais importante, tanto em termos de comportamento como de pensamento
✓ Não consegue ficar sem o smartphone por perto e se sente desanimado caso não esteja com o aparelho
✓ Atrasa compromissos e diminui a produtividade em momentos que requerem atenção
✓ Investe muito dinheiro para sempre ter um celular melhor e mais moderno
✓ Nos momentos de diversão ou concentração, fica o tempo inteiro pensando o que
pode estar acontecendo em cada um dos aplicativos que usa
Já tem reabilitação
O maior sinal de que a nomofobia é um transtorno que começa a ficar preocupante
é o surgimento de clínicas de reabilitação, no Brasil, nos Estados Unidos e em vários
outros países. Nos EUA, há uma clínica, a Paradigm, localizada em uma mansão, na cidade de San Rafael, próxima a São Francisco.
Os tratamentos são oferecidos para jovens que passam até 20 horas diárias em frente às telas de aparelhos eletrônicos. A clínica hospeda apenas oito jovens simultaneamente, a maioria formada por filhos de milionários. As internações, compulsórias, duram em média 45 dias, de acordo com o grau de dependência.
Os pacientes possuem hora certa para acordar, estudar, fazer refeições e participar
das terapias coletivas e individuais. O principal objetivo é transformar a relação dos jovens com a tecnologia, reaproximando-os do mundo off line, ou seja, o mundo real.
Dicas contra o vício
Algumas dicas podem melhorar o uso do celular e o desempenho dos usuários em
suas práticas cotidianas:
✓ Monitore seu próprio tempo de uso
✓ Desligue as notificações do smartphone
✓ Deixe de usá-lo como despertador, para dormir longe dele
✓ Pratique atividades que dispensem o uso do aparelho
✓ Desligue-o nos momentos de produtividade, como quando estiver trabalhando,
estudando ou durante alguma reunião
(Colaborou: Julia Martins)