CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Compromisso com a população e a classe médica
ENTREVISTA (pág. 4)
Ian Frazer
CRÔNICA (pág. 10)
Parece Mentira. Só que não...
CONJUNTURA (pág. 12)
"O oposto da paz é fanatismo e morte"
ESPECIAL (pág. 12)
Assistência à saúde atrás das grades
EM FOCO (pág. 22)
Lítio e neuroproteção
SINTONIA (pág. 27)
Pet terapia
GIRAMUNDO (pág. 30)
Arte, genética e ciência
PONTO COM (Pág. 32)
Mundo digital e tecnologia científica
HOBBY (pág. 34)
Adriano Segal
GOURMET (Pág. 38)
Tadeu Franconieri
CULTURA (pág. 42)
Aralquém Alcântara
CARTAS & NOTAS (pág. 47)
Cremesp reivindica mais investimentos na Saúde
FOTOPOESIA (pág. 48)
No circo
GALERIA DE FOTOS
CULTURA (pág. 42)
Aralquém Alcântara
ARAQUÉM ALCÂNTARA
Aquele que enxerga no escuro
“Meu trabalho é a crônica da beleza e do extermínio. Retratos de um país que, breve, não veremos mais. Coleciono rostos, paisagens, movimentos, brilhos, com a esperança de que não estarão condenados a viver apenas na memória e no papel. Cada imagem que capturo conduz à fé de que a natureza e o homem humilde do sertão e das matas resistirão, apesar de tanta invasão, inconsciência, devastação e morte. O genocídio dos povos primitivos, a miséria, a violentação impune dos ecossistemas, de um lado; de outro, a fertilização imensa deste País amazônico, verdadeira sinfonia de belezas. Meu canto é cumplicidade e reverência. Minha fotografia é oxigênio.”
Quando jovem, Araquém Alcântara sonhava tornar-se jornalista ou escritor. Chegou a começar o curso de jornalismo na Faculdade de Comunicação de Santos, em 1970. Mas a fotografia e suas peculiaridades ganharam espaço em sua vida após assistir ao filme A Ilha Nua, de Kaneto Shindo, em uma mostra de cinema. As imagens de um casal que vivia com os dois filhos em uma ilha inóspita, e sua relação com a natureza, atraíram o fotógrafo para os diversos ângulos e formas das imagens. No dia seguinte, lá estava ele fotografando com uma velha Yashica emprestada.
A decisão de trocar os livros de grandes nomes da literatura, como Machado de Assis e Guimarães Rosa, pelos dos reconhecidos fotógrafos Cartier Bresson e Werner Bischoff, entre outros, veio naturalmente. “As palavras já não bastavam, gaguejava nelas, precisava de algo a mais para me expressar”, diz ele.
Desde então, tem se expressado tão bem que se tornou um dos grandes nomes da fotografia no Brasil. Aos 66 anos, é reconhecido pela qualidade de sua documentação fotográfica da natureza e do povo brasileiro, desde os anos 1970. A consagração veio com o livro Terra Brasil – publicação fotográfica mais vendida no País. Lançado em 1998, a obra retrata a herança ambiental brasileira, seu esplendor e extermínio. Para fotografar todos os 36 parques ecológicos brasileiros – tal como o fotógrafo estadunidense Ansel Adams fez com os parques nacionais dos Estados Unidos na década de 1940 – foram necessários 11 anos de esforços, conhecendo os biomas brasileiros e transitando pela Amazônia. Atualmente, em sua 12ª edição, o livro já ultrapassou os 80 mil volumes comercializados, e continua sendo referência do estilo fotográfico.
Ao todo, Araquém tem mais de 50 livros publicados, 22 em coautoria, cinco prêmios internacionais e 32 nacionais, 75 exposições individuais, além de inúmeros ensaios e reportagens para jornais e revistas brasileiras e estrangeiras. Também produziu uma edição especial para a National Geographic Society, denominada “Bichos do Brasil”.
Além dos livros e prêmios, suas fotos chegaram a inúmeros acervos de vários museus, e galerias nacionais e internacionais, como, por exemplo, o Museu do Café, em Kobe (Japão); o Centro Cultural Georges Pompidou, em Paris (França); o Museu Britânico, em Londres (Inglaterra); o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e o Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo.
Da natureza aos homens
Em parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo, para comemorar os 450 anos da cidade, Araquém produziu um livro, em 2004, mostrando, em 150 fotos, o mosaico urbano rico e múltiplo da capital paulista. As ruas do centro repletas de executivos apressados, os prédios históricos, os parques e áreas verdes, a arte: nada escapou às suas lentes.
No final de 2014, Araquém iniciou uma saga, percorrendo 38 cidades de 20 Estados, em um ano e três meses, buscando capturar a dimensão humana do projeto Mais Médicos, para além das questões políticas. Foram entrevistados mais de 40 médicos, suas equipes e as populações assistidas, a fim de conhecer a realidade do atendimento em diversas regiões. “Os problemas são muitos, mas também são reais o sorriso do paciente atendido em casa, o abraço do agente de saúde em uma criança, a abnegação do médico que sobe montanhas, atravessa rios e segue por estradas intransitáveis, com a missão de cumprir bem o seu ofício”, relata Araquém.
A primeira onça
Atualmente, ele atua como freelancer para periódicos nacionais e internacionais, dá palestras, promove workshops, administra a editora Terra Brasil e trabalha no novo livro, Jaguaratê, um ensaio sobre o habitat das onças e seu comportamento. A primeira delas ele fotografou em 1980 e, desde então, capturou com suas lentes inúmeras outras, em várias localidades do País.
O profundo contato com a natureza fez o fotógrafo ser considerado uma espécie de “xamã”. Segundo a Wikipedia, xamã é um termo de origem tungúsica e, nessa língua siberiana, quer dizer, “aquele que enxerga no escuro”. “O querer, sinceramente, criar e repartir belezas é tanto que a floresta te hospeda, e nesse hospedar há uma conexão”, revela.
Com a proposta de combater as ameaças ao ecossistema e priorizando a fotografia como expressão plástica e instrumento de transformação social, Araquém faz uma fotografia engajada e necessária, sendo conhecido, também, como um militante em defesa do patrimônio natural brasileiro. “Este País tem nome de árvore e está destruindo todas elas em nome da ganância e do imediatismo”, declarou durante um discurso. E concluiu: “Meu trabalho carrega consigo o anseio de salvar o que ainda pode ser salvo”.
Principais premiações
• Prêmio Dorothy Stang de Humanidade, Tecnologia e Natureza – categoria Humanidade, 2007;
• Prêmio Fernando Pini, de melhor livro de arte do ano, com a obra “Mar de Dentro”, 2007;
• Prêmio Jabuti para o livro “Amazônia”, na categoria Arquitetura e Urbanismo, Fotografia, Comunicação e Artes, 2006;
• Prêmio “Von Martius”da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha, categoria Natureza, 2002;
• Prêmio Abril de Jornalismo nos anos 1998, 2001 e 2010;
• Prêmio Aquisição da Coleção MASP-Pirelli em 1996;
• Prêmio Associação Paulista de Críticos de Artes – APCA, pela exposição “Saudade Moderna”, na reinauguração da Pinacoteca do Estado, em 1986; e o
• Prêmio Unicef “Presença da Criança nas Américas”, Colômbia, 1981.