CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Mauro Gomes Aranha de Lima - Presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág. 4)
Peggy Cohen-Kettenis
CRÔNICA (pág. 10)
Tufik Bauab*
EM FOCO (pág. 12)
Informação científica
ESPECIAL (pág. 16)
Por que as cotas raciais são importantes? - Aureliano Biancarelli
CONJUNTURA (pág. 24)
Qualidade de vida
CARTAS E NOTAS (Pág. 27)
Cremesp facilita localização de pessoas desaparecidas
HISTÓRIA DA MEDICINA (Pág. 28)
Patrimônio histórico
GIRAMUNDO (Pág. 32 e 33)
Avanços da ciência
PONTO COM (Pág. 34 e 35)
Mundo digital & tecnologia científica
SINTONIA (Pág. 36)
Literatura & Medicina
TURISMO (págs. 40 a 43)
Aurora boreal
CULTURA (págs. 44 a 47)
O Rubaiyat de Omar Khayyam
FOTOPOESIA (pág. 48)
Ano Novo
GALERIA DE FOTOS
PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Mauro Gomes Aranha de Lima - Presidente do Cremesp
Ser médico, sem distinções
Bem poderíamos dedicar esse número da Ser Médico às virtudes dormentes ou vivas da indistinção.
E assim o faremos, não sem antes a conjectura de que o indistinto é mais anseio e abstração do que realidade concreta, visível, e pressupõe, portanto, a experiência da distinção.
Somos seres de pensamento binário, e dele decorrem juízos afins. Daí a natural estranheza ante pessoas cuja identidade de gênero destoa dos corpos que têm; ante o grito que emerge da noite profunda da pátria, da raça ferida, historicamente preterida, por diferença de origem e de cor; a comovente estranheza ante o sol que desponta nos confins obscuros da noite polar; ante os loucos nas ruas, e não ante os poucos que habitam, ainda que há décadas, os espaços sombrios do Juquery; ante a leveza aérea da poesia persa, a inimagináveis atmosferas de paz, em territórios que hoje fenecem sob espessas flores de sangue.
Sim, somos seres binários. O humanismo renascentista de Pico Della Mirandola, assim via o homem, na voz emprestada de Deus: “Não te fizemos celeste nem terreno, nem mortal nem imortal, a fim de que tu, árbitro e soberano artífice de ti mesmo, te plasmasses e te informasses, na forma que tivesses seguramente escolhido. Poderás degenerar até aos seres que são as bestas, poderás regenerar-te até as realidades superiores que são divinas, por decisão de teu ânimo”.
Essa a dignidade do homem, a sua condição humana: até o limite de suas distinções, reconhecê-las, admiti-las e, após, praticar a liberdade (árdua) de se tornar um ser melhor. Sem julgamentos intempestivos e impermeáveis, sem preconceitos, receptivo para todas e quaisquer diferenças. Não um ser melhor do que outrem. Mas, um ser melhor para si e para outrem, para que, ao fim e ao cabo, reconhecer-se um igual, a todos. Para todos.
Essas as virtudes dormentes ou vivas da indistinção.
Esse o humanismo que queremos.
O médico que queremos. Sem distinções.
Mauro Gomes Aranha de Lima
Presidente do Cremesp