CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Mauro Gomes Aranha de Lima
ENTREVISTA (pág. 4)
Kerry Sulkowicz
CRÔNICA (pág. 10)
Fabrício Carpinejar*
CONJUNTURA (pág. 12)
Intoxicação alcoólica
DEBATE (pág. 16)
Lei Maria da Penha e a violência contra a mulher
MÉDICOS NO MUNDO (pág. 23)
Denis Mukwege
HOBBY DE MÉDICO (pág. 27)
Vidal Haddad Júnior
GIRAMUNDO (Pág. 30 e 31)
Avanços da ciência
PONTO COM (Pág. 32 e 33)
Mundo digital & tecnologia científica
HISTÓRIA DA MEDICINA (Pág. 34)
Paulo Tubino* e Elaine Alves**
CULTURA (Pág. 38)
Fernando Zarif
GOURMET (Pág. 44)
Kelma Vera Donuetts
MÉDICOS QUE ESCREVEM (pág. 42)
Luiz Carlos Aiex Alves*
FOTOPOESIA (Pág. 48)
Paulo Neruda
GALERIA DE FOTOS
CULTURA (Pág. 38)
Fernando Zarif
As muitas artes de Fernando Zarif
INRI (Lo Des) c.1998. Mármore e plástico
”Tudo ao mesmo tempo agora” é o nome do CD da banda Titãs, cuja capa é de sua autoria. Por acaso, ou não, a frase tem tudo a ver com sua vida e arte, aliás, várias artes. Fernando Zarif, o autor da capa, fazia pinturas, desenhos, objetos, ilustrações, cenografia, fotos, colagens, bordados, instalações, escrevia textos e poemas, e tocava violão e tabla (instrumento de percussão). Além das múltiplas habilidades, era, acima de tudo, um visionário.
Zarif nasceu em São Paulo, em 2 de abril de 1960, e faleceu aos 50 anos, em 2010, deixando como legado um importantíssimo acervo. Para preservá-lo, foi criado, em 2011, o Projeto Fernando Zarif. O reconhecimento de seu trabalho – que ainda não chegou ao grande público – coroa uma trajetória que começou quando ainda era criança. Aos sete anos, seu talento já começava a ser notado. Cedo também, foi apresentado aos grandes museus, óperas e espetáculos internacionais de dança. O reflexo disso, segundo seu irmão, Ivan Zarif, é que ele respirava e exalava arte.
Sem título, 1997. Acrílico, lápis e papel queimado e colado sobre tela
Zarif frequentou, por cerca de três anos, o curso de Arquitetura, porém abandonou-o para se dedicar ao estudo informal, com cursos livres e aulas particulares. O reconhecimento como artista plástico começou na década de 1980, quando fazia parte de um grupo de jovens artistas já em evidência. Mas, sua independência e forte personalidade o levaram a abandonar a carreira tradicional, ao questionar seu tempo e as relações profissionais impostas. Formou, assim, um sistema próprio de colaborações, trabalhando com diversos artistas de diferentes áreas. Seu apartamento no Itaim, na capital paulista, tornou-se, então, um polo de criação importante, onde se reuniam intelectuais, artistas e criadores de diferentes áreas.
Influências e referências
Também na linha do “tudo ao mesmo tempo agora”, a cultura pop e as referências clássicas tiveram grande influência na produção artística de Zarif. Segundo seu irmão, ele se interessava por tudo e, apesar de muito culto – lia vorazmente, falava diversas línguas, viajava muito, além de conviver com muitos intelectuais e cabeças pensantes de sua época –, não se restringia apenas ao erudito. Ele compôs, por exemplo, a música “Suaves Prestações”, com Branco Mello, para os Titãs.
Fernando Zarif não gostava de expor suas obras
Sem título, s/d, acrílica, pena e relógio de pulso sobre a tela
Os desenhos foram seus trabalhos mais consistentes em termos de arte visual, influenciando suas pinturas, esculturas, projetos e textos. “Ele pensava a vida em linhas. Tinha uma habilidade imensa em se expressar dessa maneira. O texto fazia parte de seu dia a dia, em todos os momentos”, afirma Ivan.
Conhecido como Zara, ou Fernandão pelos amigos e familiares, o artista costumava se isolar em uma fazenda da família, em Botucatu, para produzir. “Ele chegava a passar três meses lá, inspirando-se e criando; adorava realmente aquele lugar. Lá também se reunia com muitos amigos e cultivava suas relações sociais”, contou Ivan.
Sem título, s/d, acrílica, guache e ponta seca sobre tela
Sem título (instalação com as obras Auréolas), 1993, técnica mista
Ao contrário da maioria dos artistas, Zarif não gostava de expor suas obras porque tinha ciúmes, deixando de vender algumas para não se separar delas. “Ele não tinha paciência para lidar com a parte burocrática e com a relação comercial com as galerias, mais um motivo para não expor muito suas obras. Mas adorava tudo o que fazia, e não media sua falta de modéstia. Ele pediu para a família conservar e cuidar de suas obras”, conta Ivan. E assim foi. Passados seis meses de seu falecimento, os familiares se organizaram e chamaram profissionais do meio artístico e amigos que já haviam trabalhado com ele para ajudar a tocar o Projeto Fernando Zarif.
Dessa forma, a conservadora e restauradora Margot Crescenti e a consultora de arte Cristina Candeloro passaram a cuidar de seu legado. Além da conservação e restauração das obras – até o momento duas mil delas –, o projeto abrange a biblioteca, documentos, fotografias e escritos do artista. O objetivo é conservar, manter e difundir a arte de Zarif.
Atualmente, ele é representado por duas galerias, que expõem suas obras em seus espaços e em feiras especializadas, dentro e fora do País. O artista tem, também, parte de sua historia de vida e produção visual publicadas no livro Fernando Zarif – Uma obra a contrapelo, lançado em 2014. Mas não para por aí. Ele terá sua produção literária também publicada em livro, a ser lançado em 2017. Aguardamos.
Dedo cortado, c. 1998, carvão sobre papel sobre tela
Sem título, 1996, ossos de resina e cadeados
(Colaborou: Ana Clara Scarabelli)