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Edição 70 - Janeiro/Fevereiro/Março de 2015

LIVRO DE CABECEIRA (pág. 39)

Arte & Ciência


A arte perdida de curar
Pedro Teixeira Neto*

 

 

“A melhor cura será aquela que casar a arte com a ciência, quando corpo e espírito forem examinados juntos”. Este raciocínio, que realça a importância da relação médico-paciente, é abordado pelo médico cardiologista e cientista renomado, Bernard Lown, no livro A arte perdida de curar. Ele fortalece a tese segundo a qual a Medicina não pode ser simplesmente o diagnóstico e o tratamento de uma doença.

O autor questiona a importância do uso isolado da tecnologia de ponta sem o acréscimo do benefício da relação humana plena de amor, devoção e arte. Exortando esse humanismo, que se inicia com o aperto de mão e termina com a palavra cautelosamente escolhida para ajustar-se à individualidade de cada paciente, ele defende que as afirmações do médico têm poder terapêutico.

Com base em seus 45 anos de experiência médica, Lown demonstra a importância da arte de ouvir sem pressa e de se prestar atenção no paciente para exercer a arte de curar. É preciso tempo suficiente para distinguir o ser humano por trás das queixas, ressalta.

O médico atual – constata – limita-se a aliviar a queixa principal que, muitas vezes, é irrelevante. Porém, acrescenta, o foco não deve ser a doença, mas a pessoa doente e sua representação holística. Nesse sentido, cita o ensaísta e crítico literário Anatole Broyard, que, às vésperas de sua morte, escreveu: “Cada indivíduo adoece à sua maneira...”.

Fundamentado em casos clínicos de pacientes e nas experiências vividas com seus mestres, o autor explica como enriqueceu seus conhecimentos humanísticos, lamentando que a arte médica esteja sendo substituída pela presença constante da alta tecnologia.

Para subsidiar sua tese, utiliza referências estatísticas, demonstrando que uma grande quantidade de exames seria desnecessária e que procedimentos invasivos e dispendiosos poderiam ser evitados se uma detalhada anamnese tivesse sido feita.

Em sua opinião, a arrogância do jovem médico disfarça uma enorme incerteza, e critica os cursos de Medicina que ensinam pouco a arte da profissão. Segundo ele, o estudante aprende a declarar guerra à morte e, em casos terminais, prolonga o ato de morrer: não melhora a vida, mas piora a morte.

No capítulo Por que os pacientes processam médicos ou hospitais, Lown escreve que muitos desses casos referem-se à percepção de que quando mais eles precisavam do profissional, esse não estava presente ou subestimava suas preocupações. Por isso, conclui, os litígios decorrem não da negligência em si, mas da falta de comunicação.

Assim, defende o autor, para exercer plenamente a Medicina é preciso valorizar o humanismo na relação médico-paciente, e perceber que ser solidário é fundamental.

Por tudo isso, A arte perdida de curar é leitura indispensável.


*Médico especialista em Endoscopia Digestiva e conselheiro do Cremesp


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