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PONTO DE PARTIDA (pág.1)
João Ladislau Rosa - Presidente


ENTREVISTA (págs.4 a 9)
Adriane Fugh-Berman


CRÔNICA (págs.10 a 11)
Sady Ribeiro*


EM FOCO (págs. 12 a 15)
História da Telemedicina no SUS


ESPECIAL (págs. 16 a 21)
Hospitais verdes


MÉDICOS NO MUNDO (págs. 22 a 26)
O atendimento no acampamento de refugiados em Dagahaley (Quênia)


CONJUNTURA (págs. 27 a 28)
Álcool e direção: dupla perigosa


HISTÓRIA DA MEDICINA (págs. 29 a 31)
Primeiros médicos no Brasil


GIRAMUNDO (pág. 32 a 33)
Curiosidades interessantes


PONTO COM (pág. 34 a 35)
Informações do mundo digital


SINTONIA (pág. 36 a 37)
Números na Saúde


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CULTURA (págs. 42 a 46)
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CARTAS & NOTAS (pág. 47)
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FOTOPOESIA (pág.48)
Alvaro Posselt


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Edição 67 - Abril/Maio/Junho de 2014

CRÔNICA (págs.10 a 11)

Sady Ribeiro*

E a Selminha estava lá

 



 

Não sei bem como aconteceu, mas o fato é que fui convocado para integrar a seleção brasileira de futebol, quando a Copa já tinha começado, em 1950. Flávio Costa, então técnico, assustou-se com o empate com a Suíça, em São Paulo. Havia uma crise interna, para não dizer ciúme, entre cariocas, paulistas e a turma do Vasco, formada por nove dos 22 jogadores.

Alguém tinha me visto jogar – acho que foi o Ari Barroso – pelo Tupi de Juiz de Fora, quando marquei 19 gols no segundo tempo de uma partida do campeonato mineiro. Sopraram ao ouvido do homem:

– Convoque o mineirinho, só para assustar essas estrelas, e elas vão jogar o futebol que sabem.

Cheguei meio assustado, desconfiado… Poucos falavam comigo. Na verdade, só o Castilho, reserva do Barbosa. Talvez porque lhe dissera que era torcedor fanático do Fluminense. Eu participava do aquecimento físico, entrava nos últimos minutos dos treinos, ajudava o massagista, carregava as camisas... E, coincidência ou não, o time começou a melhorar com a minha chegada. Um dia falei, para todos escutarem, que Castilho era melhor do que Barbosa, e que este só era titular porque jogava no Vasco. Disse também que Heleno de Freitas deveria ter sido convocado. Quase fui dispensado.

A cada partida, o Brasil goleava. México, Suécia e, por fim, a Espanha.  Estávamos na final! O “já ganhamos” tomou conta do País. Tentei falar com Flávio Costa, para mostrar que aquilo poderia nos atrapalhar, mas ele não queria ser incomodado.

Na véspera do jogo, levaram-nos para a concentração em São Januário. Não tivemos mais descanso. Teve gente que foi direto para o bar, a cerveja tinha sido liberada. Na missa do domingo, que durou uma eternidade, até o prefeito do Rio de Janeiro participou do sermão. Novamente, levantei a voz e pedi descanso. Barbosa me chamou de ateu e Ademir disse que eu era um traidor da Pátria. Veio o almoço, e candidatos à presidência da República resolveram nos visitar. Ademar de Barros distribuiu santinhos de Nossa Senhora Aparecida...

Na noite anterior, havia sonhado que iria me consagrar. Falei para o massagista, que contou para todos, e só Castilho não riu de mim.

Enfim, chegou a hora! O Maracanã era um lençol imenso de lenços brancos. O jogo começou e... o impossível aconteceu. Nosso time não se encontrava. Ademir, nervoso, parecia ter medo da bola. Zizinho não acertava um passe. Na defesa, Augusto e Juvenal trombavam um no outro. Os uruguaios amedrontavam a todos. Varela “jantava” o pobre do Bigode.

Veio o intervalo e Flávio Costa só falou em patriotismo. Vi jogadores – novamente não vou entregar nomes – literalmente sujando os calções. O time voltou pior. O Maracanã foi se encolhendo, silenciando. Ouvia-se o choro de marmanjos, mulheres e crianças. Os bispos, padres e freiras puseram-se a rezar. Uruguai 2 X 1. Senti que tinha de fazer alguma coisa. Disse ao Flávio Costa, sem medo:

– Me coloca que eu resolvo.

Ele, mudo, confuso, tremendo, me entregou a 13, que, na época, era branca. E só murmurou:

– Seja o que Deus quiser.

Só me lembro que, ao entrar no campo, cumprimentei Mr. Reader, o juiz britânico, dizendo a ele, num inglês com sotaque mineiro, que sua atuação estava perfeita. Em seguida, na frente do mesmo, dei uma cotovelada no Varela e xinguei o Schiaffino.

Aos 38 minutos, Bauer me achou dentro da área, a bola veio caindo, matei no peito, deixei-a rolar suavemente, meditei, e, antes que caísse, bati de leve, encobrindo o Máspoli. O Maracanã estourou. Corri para o povo, esperando o orgasmo do aplauso. De repente, naquela multidão de 200 mil pessoas, vejo a Selminha, a paixão da minha vida. Ela, que não quisera ser minha namorada, alegando que nunca namoraria um baixinho, agora, gritava:

– Meu amor, faz mais um e eu vou…

Uauuu... entendi... Aos 42 minutos, acertei a trave e a cara do Tejera. O ponteiro dava a última volta, mas eu tinha de fazer mais um, a Selminha tinha pedido. Augusto desceu pela direita, senti que ele ia centrar e, antes que a bola saísse dos seus pés, subi mais que todos e, desafiando a gravidade, fiquei esperando a pelota.

Com os olhos abertos, cabeceando para baixo como só os bons sabem fazer, coloquei-a no cantinho esquerdo do pobre Máspoli. O mundo invadiu o campo. Uma confusão. Fui à procura de Selminha. Mas, de repente, o maldito deu sinal de vida. Não o Varela, mas, sim, o despertador. Olhei o teto, escutei a chuva… Fechei os olhos, esperando dormir, sonhar e encontrar Selminha.


*Intervencionista  na  área da  Medicina da Dor, No­va York , Estados Unidos

 

 

 


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