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Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp


ENTREVISTA (pág.4 a 9)
James Childress


CRÔNICA (págs.10 a 11)
Luis Fernando Veríssimo*


SINTONIA (págs.12 a 15)
Dimensão étnico-racial nos estudos sobre saúde


DEBATE (págs.16 a 21)
Hospitais devem receber investimentos externos?


CONJUNTURA (págs.22 a25)
Dilemas éticos no atendimento a presidiários


GIRAMUNDO (págs.26 a 27)
Curiosidades de ciência e tecnologia, história e atualidades


PONTO COM (págs.28 a 29)
Informações do mundo digital


EM FOCO (págs.30 a 32)
Paixão pelo futebol e pela Medicina


CULTURA (págs.33 a 35)
Loucura e Literatura


MAIS CULTURA (págs.36 a 37)
Mostra no MAC USP apresenta o artista como autor e editor


HOBBY (págs.38 a 41)
Médico fotógrafo


TURISMO (págs.42 a 46)
Carcassone: cidadela medieval


LIVRO DE CABECEIRA (pág.47)
Henri Beyle


FOTOPOESIA (pág.48)
Mário Quintana


GALERIA DE FOTOS


Edição 64 - Julho/Agosto/Setembro de 2013

TURISMO (págs.42 a 46)

Carcassone: cidadela medieval

De volta à Idade Média


Sob a ponte levadiça, na entrada principal, há um fosso defensivo. As muralhas, interna e externa, têm um espaço entre elas e fazem o contorno completo da cidadela medieval. Carcassone, classificada pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade, fica próxima de Toulouse, na região do Languedoc-Roussillon, na França, perto da fronteira com a Espanha. É um lugar inesquecível que, além de sua importância histórico-geográfica, está impregnada por uma mística que envolve, encanta e instiga.

A cidade guarnecia, na Idade Média, a importante ligação entre a Península Ibérica e o restante do continente europeu, nos Pirineus, em uma zona fronteiriça ainda não totalmente definida naqueles tempos. A localização estratégica motivou muitas disputas, invasões e guerras. Gauleses, romanos, visigodos, sarracenos, franceses, cruzados, diversos senhores feudais, ingleses e alemães foram hostis e agressivos, fazendo com que Carcassone fosse preparada e adaptada continuamente para sua defesa física e sobrevivência.


Castelo Comtal


A parte mais antiga foi construída no século 9. A segunda linha de muralhas em torno da cidade foi construída pelo rei francês Luiz IX, em 1240, aumentando assim sua defesa. A eficiência ficou comprovada durante a Guerra dos 100 Anos, quando os ingleses chegaram até o Sul da França e incendiaram a torre mais baixa da cidadela, mas não conseguiram adentrá-la. Entendimentos posteriores entre os reis da França e da Catalunha estabeleceram, no século 17, novas fronteiras na região, reduzindo a importância de Carcassone, que passou a integrar o território francês definitivamente. Com a paz nos Pirineus ofuscando sua importância estratégica, a cidade foi praticamente abandonada.




Na primeira foto, rua da cidade baixa. Acima, o órgão da Basílica de Saint Nazaire



História e mitos
Dentre os muitos acontecimentos ocorridos na cidade, destacam-se os relacionados ao catarismo, uma seita cristã surgida no século 11. Os cátaros acreditavam que os homens não precisavam de intermediários para se dirigir a Deus e não reconheciam a autoridade do papa. Eram chamados de “os pobres de Cristo” ou “ bons homens”. Não admitiam imagens, nem símbolos como a cruz, viviam com honradez exemplar e acreditavam na reencarnação. A igreja, então, declarou que eram hereges e convocou uma cruzada para combatê-los.

Por ordem do papa Inocêncio III e com a colaboração do rei da França e de alguns barões das regiões do Norte francês, foi organizada a Cruzada Albigense, que invadiu Carcassone. Após tomar a cidadela, os cruzados tentaram extinguir o catarismo, utilizando diversos métodos, inclusive a tortura, cujos instrumentos estão expostos no Museu da Inquisição. Muitos foram condenados à morte, mas suas ideias não desapareceram e vários conceitos de sua fé podem ser encontrados atualmente em outras religiões ou mesmo em algumas ordens católicas.

Os últimos 210 cátaros da cidade foram chacinados em Montségur e queimados em uma grande fogueira. Segundo a lenda, alguns deles teriam conseguido escapar, levando o cálice que Jesus Cristo teria usado na última ceia, conhecido como Santo Graal, que estaria em seu poder. A procura pelo cálice sagrado tem sido inspiração para estórias diversas, aventuras, romances, filmes e outras produções, no passado e atualmente. Alguns pesquisadores, entretanto, questionam sua existência, considerando-a um mito.




Nas três primeiras fotos, vistas do interior da cidadela. Na imagem acima, Basílica de Saint Nazaire 

 

Recuperação monumental
No século 19, alguns intelectuais preocupados com a preservação dos monumentos históricos promoveram a restauração da cidadela, iniciada em 1855, da qual participaram nomes ilustres como o escritor parisiense e inspetor de monumentos históricos Prosper Mérimée; o erudito francês da administração de Belas-Artes, Jean Pierre Cross Mayrevieille; e o famoso arquiteto que também restaurou a Igreja de Notre-Dame de Paris e Saint-Madaleine de Vézelay, Eugéne Viollet-le-Duc.

Embora questionada em alguns aspectos, como os telhados pontiagudos das torres – que, no entender de alguns historiadores, não eram habituais no século 13 –, a restauração devolveu a Carcassone sua beleza, grandiosidade e importância, tornando-a para sempre uma obra de arte inegável e uma das maiores atrações turísticas da França. Atualmente, são duas cidades. A cidadela que é o monumento histórico medieval protegido pelas muralhas e a Bastide Saint-Louis, também chamada Cidade Baixa, localizada fora dos muros.

O genuíno cenário da Idade Média integrou muitos filmes, entre eles Robin Hood, com o ator Kevin Costner. Inspirou também alguns jogos eletrônicos e o livro Labirinto, de Kate Mosse.


Vitrais da Basílica de Saint Nazaire
 


Isidoro dos Santos e sua esposa, Odila


Pontos turísticos
Alguns pontos que devem ser visitados são: o Portão Narbone, a Torre da Justiça, a Torre da Inquisição, o Chateau Contal, construído em 1130; o Museu Arqueológico e a Basílica de Saint Nazaré, onde está o magnífico órgão mais antigo e importante do Sul da França; e os vitrais A vida de Cristo, A árvore de Jessé e Árvore da vida.

No período de junho a setembro, ocorre o festival Les Estivales d´Orgue, quando sons desse instrumento ecoam pela cidade. Anualmente, em 14 de julho, quando se comemora a Festa Nacional da França, um festival de fogos de artifício ilumina os céus de Carcassone em um espetáculo pirotécnico de rara beleza. Em agosto, são organizados torneios de cavalaria e falcoaria, com atores vestidos como no tempo das Cruzadas. Há uma certa ironia nessa comemoração, considerando que a Cruzada desferiu o mais forte ataque contra os habitantes da cidade.

Artesanatos, louças, roupas, postais, relógios de sol, fotografias, conjuntos de capacete e espada, armaduras completas, miniaturas de cavaleiros medievais, símbolos templários e outros souvenirs temáticos podem ser comprados nas diversas lojas das ruas principais.

É recomendável pelo menos um dia completo para visitar a cidade, incluindo uma agradável caminhada pelos arredores, aos pés da cidade e às margens do rio Aude. Há hotéis dentro e fora das muralhas, além de muitos bares, cafés e restaurantes, na praça central. Carcassone é, juntamente com a Torre Eiffel e o Monte Saint-Michel, um dos locais turísticos mais visitados da França.


*Isidoro Cobra dos Santos é médico psiquiatra

 


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