

CAPA

EDITORIAL
Ponto de Partida

ENTREVISTA
Roberto Sávio é o convidado especial desta edição

CRÔNICA
Rubem Alves

BIOÉTICA
Giovanni Berlinger

EM FOCO
Clínica ou Cirurgia? Eis a questão

DEBATE
Aprendizagem baseada em problemas

JUSCELINO KUBITSCHEK
O médico que virou Presidente

HISTÓRIA DA MEDICINA
São Lucas, o médico evangelista

LIVRO DE CABECEIRA
O segredo dos médicos antigos

GOURMET
Pequi: bom demais da conta

CULTURA
Jairo Arco e Flexa

CARTAS & NOTAS
Novas publicações do Cremesp

POESIA
Adriana e Luis Orlando Rotelli Resende

GALERIA DE FOTOS

GOURMET
Pequi: bom demais da conta

Pequi, fruta típica do cerrado brasileiro, de cheiro forte e adocicado, é umas das muitas utilizadas na culinária da região central do Brasil, rendendo boas combinações à mesa – principalmente entre goianos e mineiros – quando misturados ao arroz, frango, feijão ou farofa. Também pode ser saboreado sozinho, depois de fervido em água por 10 minutos.
A fruta integral, de casca verde-escuro, tem várias camadas internas. Primeiro vem uma polpa verde-claro com a consistência de um abacate, que não é aproveitada pelas receitas. Dentro dessa polpa está a melhor parte: uma semente amarela cuja consistência, cor e até mesmo o cheiro lembram a manga. É justamente essa parte do pequi que vai para a panela. Mas, cuidado ao saboreá-lo. Esse caroço, bem macio, não deve ser mordido, mas sim raspado com os dentes, pois dentro dele há vários espinhos que podem ferir.
Montes Claros, Minas Gerais, realiza, no final de janeiro, uma tradicional Festa do Pequi, com barracas que vendem de tudo que se pode fazer com a fruta, desde mudas da planta a comidas e licores. Importante para a economia da região, o pequi está ameaçado de extinção, devido ao desmatamento indiscriminado para exploração do solo. O pequi gera milhares de empregos diretos durante a temporada de colheita, entre dezembro e março. Seus frutos, colhidos no chão, são distribuídos para várias partes do país.
Quem dá mais informações sobre o pequi são os médicos Mauro Fisberg e Jamal Wehba que, junto com a nutricionista Silvia Cozzolino, escreveram o livro “Um, dois, feijão com arroz”, uma viagem pelos pratos do dia-a-dia mais consumidos de Norte a Sul do Brasil. Em 432 páginas, os autores apresentam um amplo estudo que reúne inúmeras informações relacionadas aos pratos. Do aperitivo à sobremesa, apresentam receitas autênticas, tabelas com valor nutricional, origem, curiosidades, citações populares, poesias, costumes e crendices sobre a alimentação brasileira.
“O objetivo dessa publicação é enfocar a cultura alimentar de nossa terra. Substituir essa riqueza será perdê-la para sempre e não cultivar os nossos valores será como perder a identidade”, registram os autores na introdução do livro. Muitas informações desta matéria saíram do livro, inclusive a receita de arroz com pequi que apresentamos. Segundo o livro, o nutriente que se destaca nesse prato é o retinol (vitamina A), fornecendo ainda cálcio, ferro e fósforo. Entre as crendices populares o pequi aparece como afrodisíaco.
A odisséia do pequi
Dona Eduvirgem Batista dos Anjos é uma das beneficiadas pela comercialização do pequi, levando-o de Montes Claros à Capital paulista para abastecer restaurantes regionais, vendedores ambulantes de algumas esquinas da cidade e barracas do Mercado Municipal. Com o dinheiro que ganha nesse período, consegue sustentar a família e, “dependendo das vendas”, ficar por até cinco meses sem trabalhar após o fim da temporada. Ela compra pequi no Mercado Municipal de Montes Claros, freta um caminhão por mil reais, carrega “até onde der” e vem para o Mercado São Jorge (vizinho ao Mercado Municipal), no Largo do Pari s/n. Junto a vendedores de outros produtos, fica de um a três dias, dormindo em redes estendidas na marquise no próprio mercado, “até vender tudo que tem no caminhão”.
Depois de esvaziar a carga, Eduvirgem volta a Montes Claros, de ônibus, enquanto o motorista do caminhão arranja novo frete que “quase nunca” coincide com o destino de Eduvirgem. Ela inicia nova jornada idêntica até o final de fevereiro, quando então começa a trazer outra fruta do cerrado até São Paulo, o araticum. Eduvirgem ensina: “pequi tem que cozinhar o caroço por uns 10 ou 15 minutos e comer igual coelho, dentando devagarinho prá não morder o espinho. É bom demais!”
Crendices, tabus e citações populares
O que faz mal:
• Pequi com bebida alcoólica em dia de sol: dor de barriga.
• Manga com leite: provoca vômito, azeda no estômago, dá dor de barriga, envenena o corpo e leva à morte.
• Banana com pepino: empedra no estômago.
• Ovo frito à noite faz mal.
O que faz bem: • Leite: bom para as unhas
• Banhar a criança em água fervida na panela de angu: contra brotoeja
Pequi... o viagra do sertão
Foi por causa do pequi,
que muito “bucho” cresceu.
A mulher “roi” e engorda,
Foi o fruto que comeu.
Pequi é fruto quente,
endoidece muita gente,
até quem nunca roeu ....
(...) Pequi vem do cerrado,
é remédio e alimento
Serve para dar e vender
e do pobre é o sustento.
Prezervai o pequizeiro,
cuide dele o ano inteiro ...
(...) Nosso rico pequizeiro,
condenado à extinção.
Culpa do desmatamento,
cá em nossa região.
Infeliz realidade,
parem de fazer maldade
com nossa alimentação...
Receitas e Milagres, Josecé Alves dos Santos)
Fonte: “Um dois, feijão com arroz”, editora Atheneu.
Arroz com Pequi
Ingredientes
• 1 xícara de chá de arroz
• 12 pequis
• 1/2 colher de sobremesa de tempero
• 1 cebola média
• 2 colheres de sopa de óleo
Preparo
Refogar o arroz no óleo, tempero e cebola. Colocar a água e os pequis. Deixar cozinhar e servir quente.
Nutrientes 220g. arroz
80g de cebola
5g de tempero completo
15g de óleo de soja
480g de pequi
Rendimento: quatro porções
Cada porção fornece:
286 calorias
10g de proteínas
56,5g de glicídios
4,47g de lipídios
3,84g de fibras
10.000ug de retinol
25mg de cálcio
2,27mg de ferro
Quando comprar: a temporada do pequi vai de dezembro a março.
Onde comprar: nesse período é possível encontrá-lo no Box 30 do Mercado Municipal ou nos caminhões ambulantes do Mercado São Jorge. Os dois mercados estão próximos.