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PONTO DE PARTIDA (pág.1)
Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp


ENTREVISTA (págs.4 a 8)
James Drane


EM FOCO (págs.9 a 11)
Dormiu bem?


CRÔNICA (págs.12 a 13)
Tufik Bauab*


MÉDICOS NO MUNDO (págs.14 a 17)
Irène Frachon


DEBATE (págs.18 a 23)
Emergência e Regulação: novos desafios dos cursos de Medicina


SINTONIA (págs.24 a 27)
Novas práticas educativas no setor da Saúde


GIRAMUNDO (pág.28 a 29)
Curiosidades de ciência e tecnologia, história e atualidades


PONTO COM (págs.30 a 31)
Informações do mundo digital


HOBBY (págs.32 a 35)
Pediatra escala os maiores picos do mundo


HISTÓRIA DA MEDICINA (págs.36 a 38)
Especialidades médicas


LIVRO DE CABECEIRA (pág.39)
Por Bráulio Luna Filho*


CULTURA (págs.40 a 43)
Moacyr Scliar e Yann Martel


GOURMET (págs. 44 a 47)
Moqueca de camarão


FOTOPOESIA (pág.48)
Poesia anônima na capital paulista


GALERIA DE FOTOS


Edição 63 - Abril/Maio/Junho de 2013

HISTÓRIA DA MEDICINA (págs.36 a 38)

Especialidades médicas


Uma história que não é de agora


Do mais antigo papiro (1600 a.C), contendo instruções cirúrgicas, aos dias de hoje, algumas especializações sempre estiveram presentes na Medicina


A Medicina está, cada vez mais, dividida em especializações e, estas, em áreas de atuação, embora seja comum ouvir que elas diminuem o campo de visão do médico. Frequentemente, há alusões ao conhecimento total da ciência médica que os antigos “médicos de família” possuíam, dando a ideia de que a especialização é algo bastante recente, fruto de nossos dias, de nosso tempo.

Não é bem assim. Na Antiguidade, alguns milênios antes de Cristo, os egípcios já possuíam médicos especialistas. Os papiros, como também monumentos erigidos para alguns desses profissionais, comprovam esse fato. No Antigo Egito, havia médicos especialistas em moléstias oculares, que realizavam cirurgia de catarata; em moléstias de vias respiratórias, do ânus, entre outras. 

Na China, segundo Lyons e Petrucelli, as Instituições de Chou, compiladas vários séculos antes de Cristo, descrevem a organização hierárquica dos médicos, o que, de certo modo, era uma especialização. Havia cinco categorias: médico chefe (que coletava medicamentos e examinava outros médicos); médico dietólogo (que receitava as seis classes de alimentos e bebidas); médico para enfermidades simples (como dores de cabeça, resfriados, feridas menores etc.); médico de úlcera (talvez cirurgiões) e médico de animais.


Prótese de dedo esculpida em madeira (antigo Egito)
 

Na Grécia, onde a Medicina ganhou o racionalismo, e em Roma, não havia especialistas como entendemos hoje. Os médicos exerciam a clínica e a cirurgia concomitantemente. Entretanto, havia aqueles engajados no exército que acabavam por “especializar-se” mais no tratamento dos traumas de guerra.

Após a queda do Império Romano, em 476 dC, na Idade Média, o conhecimento médico desmoronou e teve sua evolução estagnada. A Medicina ocidental passou a ser exercida dentro dos conventos da Europa, guardada por monges que se limitaram ao que havia sido deixado por Hipócrates, na Grécia, e por Galeno, em Roma. Dentro dos conventos praticava-se a clínica e alguns procedimentos cirúrgicos. O panorama começaria a melhorar ao final da Idade Média e a partir do Renascimento, com o surgimento das faculdades de Medicina (no século 9) e universidades (século 11), na Europa.

Vale lembrar, também, a presença dos árabes na Europa Medieval, a partir do século 7, com sua influência e avanços na Medicina. Os hospitais árabes, chamados bimaristan (palavra persa que significa “casa dos doentes”), eram superiores aos ocidentais daquela época em higiene, limpeza e organização, como o Al-A’dudi, em Bagdá; Al-Mansuri, no Cairo; o de Gundihaspur, na Pérsia; Al-Nuri, em Damasco; e o de Marrakech, no Marrocos. Alguns eram divididos em áreas para doenças abdominais, cirurgia, dermatologia, oftalmologia, doenças psicológicas, ossos e fraturas, entre outras. Os médicos árabes aceitaram e se engajaram nas doutrinas hipocrática e galênica e, em geral, tinham formação eclética, médica e filosófica, mas havia os que atuavam de forma especializada.
 


Operação de cataratas em gravura do século 16
 

A tendência à especialização como a conhecemos iniciou-se a partir do século 18, com o avanço da ciência em todos os campos. Os novos estudos e descobertas ampliaram os horizontes da Medicina. As especialidades surgem, então, como fruto da evolução do conhecimento, pois o homem, no curto espaço de sua vida, não teria mais possibilidade para dedicar-se integralmente a todos os ramos da ciência, que crescia a cada dia. A Cardiologia nasce naquele século com os trabalhos de Giuseppe Testa, na Itália; mas foi o clinico francês Jean Nicholas Corvisart o primeiro a autodenominar-se especialista em coração, tendo sido médico de Napoleão Bonaparte. No mesmo século, surge ainda a Obstetrícia, a Pediatria e a Endocrinologia. Os estudos físicos sobre a luz e a cor proporcionam o aparecimento da oftalmologia (em 1773, em Viena, Maria Tereza fundou a primeira escola de oftalmologia). Outras especialidades foram aparecendo no decorrer do século 19.

No começo do século 20, após a Primeira Guerra, observou-se a necessidade de formação de profissionais dedicados à reconstrução corporal, à reparação humana. A cirurgia plástica, que vinha sendo exercida desde os primórdios da humanidade, torna-se uma especialidade. O avanço tecnológico do século 20 multiplica as especializações, provocando o surgimento de muitas ligadas aos novos aparelhos, como a Radiologia, a Endoscopia, a Medicina Nuclear e também outras motivadas pelas novas situações sociais, como a Medicina de Tráfego, por exemplo.

No Brasil, até meados do século 20, o médico intitulava-se especialista quando se julgava apto para tanto, após ter feito sua formação acompanhando alguém mais experiente ou trabalhado em um serviço especializado de um hospital. Não havia, ainda, uma regulamentação específica nesse sentido. A Residência Médica só aparece a partir dos anos 40.

Apenas após a criação do Conselho Federal de Medicina e Conselhos Regionais, pelo decreto lei 7.955, de 1945, regulamentado pela lei 3.268, de 1957, e da Associação Médica Brasileira, em 1951, virá a normatização e, mais tarde, o título de especialista emitido pelas Sociedades de Especialidades, em convênio com a AMB.

Hoje, o Conselho Federal de Medicina, por meio da resolução 2005/2012, reconhece 53 especialidades e 54 áreas de atuação em Medicina, que são as sub-especialidades.

A especialização, portanto, nasceu da necessidade frente à expansão e diversificação do conhecimento médico, qual um tributo ao progresso da ciência. O saudosismo do antigo “médico de família”, que adentrava os lares e cuja simples presença já era fator de cura, tem seu lugar, tanto que há, inclusive, entre as especialidades reconhecidas, a Medicina de Família e Comunidade. Seria impossível para o médico congregar todo o conhecimento da medicina atual.

Contudo, o médico pode ainda cultivar a característica mais marcante, mais saudosa e mais importante do antigo “médico de família”: o carisma, gerado pelo carinho, pela dedicação, pelo amor e pelo esmero com que ele tratava seus pacientes e que inspirava a confiança e o respeito que permitiam vê-lo numa redoma.

Cada especialista, no consultório ou no hospital, ao exercer a arte de curar, no universo de sua especialidade, pode possuir a aura do médico de outrora, desde que saiba cultivar o lado humano da profissão e apoiar-se adequadamente no mais perfeito relacionamento médico-paciente, que a despeito de toda a evolução científica, ao longo da história da humanidade, permanece alicerçado nos mesmos e imutáveis princípios primordiais.


Referências

Lyons A.S., Petrucelli, J. – História da Medicina. São Paulo: Manole; 1987.

Martire Junior, L. – História da Medicina – Curiosidades & Fatos, v. I. Itajubá: Astúrias; 2004.

Martire Junior, L. – História da Medicina – Curiosidades & Fatos, v. IV. Itajubá: Platina; 2010.

http://www.cfm.org.br

 

*Lybio Martire Junior é médico cirurgião plástico de São Paulo, professor nas disciplinas de Cirurgia Plástica, Técnica Cirúrgica e de História da Medicina na Faculdade de Medicina de Itajubá (MG) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de História da Medicina, em duas gestões.

Crédito das fotos, por ordem de aparição: Reprodução-Montagem MB / Wikimedia Commons-Jon Bodsworth / Reprodução-Organização Mundial da Saúde


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