

CAPA

PONTO DE PARTIDA (pg. 1)
Renato Azevedo Júnior - presidente do Cremesp

ENTREVISTA (pág.4)
Marcia Angell

HISTÓRIA (pág. 9)
Estados Unidos, por Gore Vidal

CRÔNICA (pág. 12)
Luis Fernando Verissimo*

ESPECIAL BOLÍVIA 1 (págs.14 a 25)
A realidade precária dos cursos de Medicina particulares

ESPECIAL BOLÍVIA 2 (págs.14 a 25)
Depoimentos sobre a formação médica em escolas particulares

CABECEIRA (pág. 27)
Por Reinaldo Ayer*

CONJUNTURA (págs. 28 a 31)
Longevidade e cuidados com o idoso

GIRAMUNDO (págs. 32-33)
Curiosidades de ciência e tecnologia, história e atualidades

PONTO COM
Informações do mundo digital

SUSTENTABILIDADE (pág. 36)
Idec, 25 anos

CULTURA (pág. 38)
A flauta encantada do mago do choro

HOBBY
Campeonato de Futebol de Equipes Médicas

GOURMET (pág. 44)
“Cozinhando eu relaxo”

FOTOPOESIA (pág. 48)
Paulo Leminski

GALERIA DE FOTOS

CRÔNICA (pág. 12)
Luis Fernando Verissimo*
Microfone escondido
Leonor achou a ideia péssima, mas Ataíde insistiu: botar um microfone escondido no elevador do prédio seria muito divertido.
Não queria ouvir o que os vizinhos diziam, subindo ou descendo pelo elevador.
Os vizinhos não interessavam. Divertido seria ouvir o que os amigos do casal diziam, chegando ou saindo do apartamento.
– Vai dar galho, Ataíde...
– Vai nada.
E Ataíde instalou um microfone no elevador.
O primeiro teste foi quando convidaram o Julio e a Rosa para jantar.
Ataíde ouviu Julio dizer para Rosa dentro do elevador, na subida:
– Às onze horas a gente dá o fora.
– Acho que às onze ainda não serviram o jantar. Se eu conheço a Leonor.
– Não importa. Às onze nos mandamos. Amanhã eu tenho academia.
E Ataíde ouviu Julio dizer para Rosa dentro do elevador, na descida:
– Saco, Rosa. Uma hora da manhã. Você não viu eu fazer os sinais pra gente ir embora?
– Aquilo era um sinal? Pensei que você estivesse limpando o ouvido.
Outro jantar. Aniversário do Ataíde. Os dois últimos casais saem juntos.
Ataíde corre para ouvir o que vão dizer no elevador.
– O Ataíde está meio acabadão, tá não?
– Acho não. Pra idade dele.
– Também, ter que aguentar a Leonor...
No apartamento, Leonor se revolta.
– Quem disse isso? De quem é a voz?
– Parece a da Soninha – diz Ataíde.
– Cachorra!
Outro jantar. Ligam da portaria para anunciar que o sr. Marcos e a dona Lia estão subindo. No elevador, Lia diz:
– Se a Leonor servir salmão outra vez eu me mato.
Depois Lia não entende a frieza da Leonor com ela durante todo o jantar. Não sabe que Leonor teve que suspender o salmão que serviria. Que substituiu o salmão por um resto de pernil que, graças a Deus, ainda tinha na geladeira.
Descendo no elevador, Lia comenta com Marcos:
– A Leonor enlouqueceu. Você viu? Serviu pernil com molho remolado pra peixe.
Leonor anuncia que nunca mais convidará Lia pra nada.
Depois de um jantar para os amigos que ainda restavam, os melhores amigos do casal foram os últimos a sair. A Marjori e o Adão. Amigos chegadíssimos.
Amigos de muito tempo. Depois das despedidas, depois de fechada a porta do elevador e do elevador começar a descer com Marjori e Adão, Ataíde hesitou.
Talvez fosse melhor não ouvir o que os amigos iam dizer a respeito deles e do jantar, no elevador.
– Você acha? – perguntou Leonor.
– Melhor não. Você tinha razão. Não foi uma boa ideia botar esse microfone.
– Mas agora está posto. Vamos ouvir.
– Leonor... Nós vamos acabar brigando com todos os nossos amigos.
– Eu quero ouvir, Ataíde. Eu preciso ouvir o que a Marjori e o Adão estão dizendo!
O que ouviram foi o fim de uma frase, dita pelo Adão.
– ...cada vez mais chato.
– Viu só, Ataíde? – disse Leonor. – É so¬bre você.
– Por que eu? Tinha mais gente no jantar!
– Sei não, sei não.
E nunca saberiam. No dia seguinte Ataíde tirou o microfone escondido do elevador.
MICROFONE ESCONDIDO – In: Algum Lugar do Paraíso, de Luis Fernando Verissimo, Objetiva, Rio de Janeiro. (c) by Luis Fernando Verissimo