CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág.1)
Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág.5)
Marcel de Souza
CRÔNICA (pág.11)
Francisco Assis de Sousa Lima*
EM FOCO (pág.13)
Márcio Melo*
CONJUNTURA (pág.15)
Abuso sexual
DEBATE (pág.18)
Doença negligenciada
GIRAMUNDO (pág.24)
Curiosidades da ciência e tecnologia, da história e da atualidade
PONTO.COM (pág.26)
Informações do mundo digital
HISTÓRIA DA MEDICINA (pág.28)
Tributo a John Snow
HOBBY (pág.31)
Entre o hospital e o hipismo
SUSTENTABILIDADE (pág.34)
Uma casa ecológica
LIVRO DE CABECEIRA (pág.37)
Dicas de leitura da Redação
CULTURA (pág.38)
É DO BRASIL!
MAIS CULTURA(pág.42)
Museu de Arte Contemporânea
CARTAS & NOTAS (pág.43)
Exame do Cremesp agora é obrigatório
TURISMO (pág.44)
Mato Grosso do Sul
FOTOPOESIA (pág.48)
Odylo Costa, filho
GALERIA DE FOTOS
TURISMO (pág.44)
Mato Grosso do Sul
Onde o olhar vai mais longe
PEDRO LUIZ PEREIRA*
Férias programadas, malas prontas, boa companhia... Fugimos para o Mato Grosso do Sul. O roteiro de viagem é fácil de fazer, até certo ponto econômico e, principalmente, excelente para ampliar horizontes. Saindo de Bauru (SP), seguimos rumo oeste, de carro, para Campo Grande, capital daquele Estado e porta de entrada para a aventura pretendida.
São cerca de 750 quilômetros, percorridos em, aproximadamente, nove horas. Em São Paulo, as estradas são bem conservadas, pedagiadas e com intensa fiscalização por radares. Passada a barragem de Jupiá, já no Mato Grosso do Sul, a cena muda. São pistas simples, na maior parte bem conservadas, com longas retas, sem fiscalização e com pouca sinalização. As estradas cruzam longos trajetos onde uma placa indica o ponto de partida e outra, a chegada, centenas de quilômetros depois. Relevo suave e sem curvas amplia a visão.
A capital do MS é uma surpresa, vigorosa, pujante e cosmopolita. Cercada pelo Cerrado, abriga, ao fim de suas belas avenidas, matas pulsantes de vida. O Parque dos Poderes entremeia a mata e os prédios da administração pública.
O Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) merece uma visita agendada. O passeio – orientado por guias – permite conhecer a abundância da mata, o trabalho de preservação da fauna e da flora e a reinserção dos animais na natureza. A maioria destes é apreendida em operações contra o tráfico e o comércio clandestinos da vida selvagem. Exuberantes araras azuis, papagaios e uma quantidade impressionante de onças de várias espécies podem ser vistas. Foi a primeira amostra da biodiversidade que testemunhamos.
Hora de partir, rumo sul, para Bonito, passando por Sidrolândia e Nioaque. Dica: chegue à cidade com os passeios locais contratados. As visitas são feitas em pequenos grupos previamente agendados, na tentativa de promover turismo minimamente invasivo. Balneário Municipal, Gruta do Lago Azul, flutuações nos rios Sucuri e da Prata, rafting no rio Formoso: os adjetivos são poucos para descrever a natureza fantástica do local, que pode ser conferida também na Ser Médico nº 23, no portal www.cremesp.org.br.
Deixamos Bonito pela Serra da Bodoquena, rumo noroeste, por uma estrada ainda por terminar. Alguns desvios e poeira não são suficientes para comprometer a beleza do trajeto. Fomos para Miranda, já no Pantanal, onde as serras que circundam a planície emolduram os vastos planos e horizontes.
Já em Miranda, seguimos para a Fazenda San Francisco, adentrando o Pantanal por uma estrada de sete quilômetros de terra. Assusta o calor úmido de mais de 40o C; o mormaço sufoca. São 14.800 hectares, dos quais 7,5 mil de mata preservada. Imensos talhões de terra, irrigada por canais que bombeiam as águas do rio Miranda, guardam um enorme arrozal, com mais de 7 mil hectares.
Dessa condição única, surge a vocação para o ecoturismo. A estada tem uma agenda agitada: safári fotográfico durante o dia, focagem de animais à noite, trilhas nas matas, cavalgadas, passeios de barco pelo Corixo São Domingos, ufa... sobra pouco tempo para desfrutar a piscina, a comida caseira ou o churrasco pantaneiro com chamamé (música e dança local). Deixe tempo para desfrutar o pôr-do-sol na varanda do chalé. É de perder o fôlego.
Deixamo-nos envolver pela aventura. Noites “caçando” onças, tardes pescando piranhas, e alimentando jacarés e gaviões... Tudo muito estranho para um casal urbano. A natureza invade os hóspedes. Vemos cercas repletas de araras, papagaios, periquitos e emas. Arrozais ocupados por cervos, veados, coelhos, gaviões, corujas e quatis. Canais e represas repletos de jacarés, biguás, capivaras e piranhas. Matas com jaguatiricas, antas, e o mistério das onças. Estas são avistadas com frequência média de dez vezes a cada mês, conforme anuncia o quadro na recepção da fazenda. Para alívio de alguns, não as vimos. Bastou-nos a excitante experiência de tentar encontrá-las. Em contrapartida, achamos um lobinho (graxaim) na porta do quarto. Os safáris são orientados por guias, alguns bilíngues, em camionetes adaptadas.
Deixamos a fazenda em Miranda e caímos na estrada. Rumo sul, passando por Aquidauana, seguimos para Ponta Porã. Afinal, somos “urbanoides” e compras no Paraguai fechariam as férias. Novamente, as estradas com longos trajetos sem curvas, poucas placas indicativas, normalmente só nos trevos, e os amplos horizontes.
Pedro Juan Caballero, no Paraguai, separada de Ponta Porã por uma avenida, é uma diversão. Além de cassinos, encontra-se de tudo de que não precisamos, mas – cuidado – compra-se por impulso. O comércio abrange dos infindáveis camelôs nas calçadas ao Shopping China, um templo do consumo. Outra dica: desligue o celular, o roaming internacional é ativado mesmo do lado brasileiro, uma verdadeira extorsão das operadoras nativas na sua próxima conta.
Hora de voltar. Quase 900 km separam Ponta Porã de Bauru. O tráfego pesado de caminhões e os quebra-molas nas inúmeras localidades por onde passa a rodovia dificultam a viagem. A paisagem une a vastidão à agricultura, principalmente na região de Dourados.
As despesas de viagem não assustam, pouco diferem de um pacote numa praia nordestina. Todo trajeto foi feito de carro sem nenhum preparo especial, nada de 4X4. Mas as viagens são longas, não abra mão do conforto.
Foram dias felizes de descobertas na natureza e na vida simples, locais de sonho que dão novo prisma à nossa rotina urbana. O Mato Grosso do Sul, além da proximidade da divisa, reserva surpresas. Olhar longe para aquelas vastas planícies ajuda a refletir quão próximos estão nossos horizontes cotidianos. É possível descobrir no sorriso do sul-mato-grossense, emoldurado pelas suas belezas naturais, o nosso próprio sorriso. Encontramos paz e plenitude. Aproveite uma oportunidade e conheça...
*Pedro Luiz Pereira é pediatra, sanitarista e médico fiscal do Cremesp