CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág.1)
Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág.5)
Marcel de Souza
CRÔNICA (pág.11)
Francisco Assis de Sousa Lima*
EM FOCO (pág.13)
Márcio Melo*
CONJUNTURA (pág.15)
Abuso sexual
DEBATE (pág.18)
Doença negligenciada
GIRAMUNDO (pág.24)
Curiosidades da ciência e tecnologia, da história e da atualidade
PONTO.COM (pág.26)
Informações do mundo digital
HISTÓRIA DA MEDICINA (pág.28)
Tributo a John Snow
HOBBY (pág.31)
Entre o hospital e o hipismo
SUSTENTABILIDADE (pág.34)
Uma casa ecológica
LIVRO DE CABECEIRA (pág.37)
Dicas de leitura da Redação
CULTURA (pág.38)
É DO BRASIL!
MAIS CULTURA(pág.42)
Museu de Arte Contemporânea
CARTAS & NOTAS (pág.43)
Exame do Cremesp agora é obrigatório
TURISMO (pág.44)
Mato Grosso do Sul
FOTOPOESIA (pág.48)
Odylo Costa, filho
GALERIA DE FOTOS
CULTURA (pág.38)
É DO BRASIL!
Os quadros do pintor Élon Brasil retratam os habitantes mais discriminados do país: índios, negros e caboclos
Obras ajudam o artista a retratar sua própria história
Viajando de carona Brasil afora, retratando pessoas e vendendo seus quadros, o pintor Élon Brasil foi parar em uma aldeia no Xingu, onde passou três meses vivendo o cotidiano dos índios Xavantes, em 1985. Lá, dormiu em ocas, caçou, alimentou-se como eles e participou de rituais e cerimônias. “Foi uma das melhores experiências que tive na minha vida”, assegura. A partir de então, a brasilidade tomou conta de sua obra, que passou a focar principalmente o universo dos indígenas, além de negros, caboclos e cangaceiros. Em 1997, passou cerca de dois meses em Benin e Togo, na África, reforçando sua opção pela estética afro-indígena, em saudável contraponto à hegemonia europeia nessa área.
O colorido de seus quadros, figurativos e abstratos, remete a tons da terra e do sol, reforçados pela técnica que o pintor utiliza. Élon pinta a óleo sobre tecidos rústicos, como estopas de saco de café, açúcar e pimenta-do-reino, resultando em texturas peculiares, que se aproximam dos ambientes retratados. Mestiço, suas obras o ajudam a retratar, também, sua própria história. Filho de mãe de origem negra e indígena, e pai descendente de imigrantes portugueses e italianos, ele define seu estilo como o da “brasilidade”, que busca espelhar a história do país por meio de seus habitantes mais discriminados.
Sua adesão à causa dos índios, entretanto, vai além dos quadros. Dedica-se à pesquisa sobre eles, visando a protegê-los, e ao “despertar da consciência ecológica”. Desde que conheceu o Xingu, ajuda a promover, anualmente, entre os meses de julho e agosto, viagens de grupos de pessoas interessadas até uma aldeia daquela reserva, por ocasião do ritual Kuarup, quando os índios homenageiam seus mortos. Durante alguns dias, o grupo colhe informações e as registra em fotografias e filmagens. “Lá, trabalho minha matéria-prima que são os seres humanos, os pajés, os caciques, as mulheres, os rituais”, explica. A partir das fotos, o artista cria o cotidiano indígena em suas telas. Em troca da estada, os visitantes oferecem presentes à aldeia. “Cada um dá sua contribuição para comprar o que a comunidade precisa, como, por exemplo, roçadeiras, motor de popa de barco etc, além das miçangas para as mulheres e crianças”, relata.
Telas do pintor estão presentes em vários museus do Brasil e do mundo
Durante essas viagens, o pintor pode conferir a real condição dos índios. “A situação da maioria é alarmante. Os casos de suicídio, perda de terra e morte de crianças por subnutrição são cada vez mais frequentes”, lamenta. Para ele, suas obras têm a função de alertar a sociedade para esses problemas vividos pelas nações indígenas e ajudá-las a preservar sua cultura e raízes.
Longe da aldeia, a questão urbana também está presente em sua obra, “quando chove”. Aí, ele sai do seu ateliê e fotografa carros, luzes e pessoas, e os retrata sob o efeito da água.
Reconhecido no Brasil e internacionalmente, seus quadros fazem parte do acervo de museus da Europa e da América do Sul como o Museum der Kulturen Basel e o Museu da Basileia, na Suíça; o Museu do Banco do Estado de São Paulo, o Museu de Imagem e do Som (MIS), a Pinacoteca do Estado, em São Paulo; e o Museu de Arte de Londrina, no Paraná.
Além do Brasil, já expôs em vários países, como Suíça, Estados Unidos, Espanha, França, Inglaterra e Bélgica. As mais recentes exposições individuais foram na Maison Latin-America Monte Carlo, no Principado de Mônaco; no Instituto Cultural Braciccarte, em Las Palmas, na Espanha; em Manhatanville College Art show – Quinta Pitanga Collection, em Nova York, nos EUA; no Espaço Cultural Chateaux Lafoux, em Turves, na França; e no Conjunto Nacional, em São Paulo.
A trajetória premia um talento que se manifestou cedo. Aos seis anos, Élon – nascido na praia de Jurujuba, em Niterói, Rio de Janeiro – já demonstrava afeição pela arte. Influenciado por seu pai, o também artista Milton Brasil, o jovem pintor gostava de retratar o mar, a praia, os pescadores e seus barcos, elementos que compunham o cenário de sua infância. “Eu desenhava tudo o que a natureza daquele vilarejo propiciava”, lembra.
Já em São Paulo, para onde mudou-se com a família, o pintor, aos 12 anos, teve uma de suas obras – trabalhadas naquela época com tinta a óleo sobre papel – premiada na 2ª Pinarte de Pinheiros. Aos 13, ele já ajudava a família com a venda de suas pinturas. Frequentava a União Brasileira de Escritores, na qual conheceu autores como Jorge Amado e Menotti del Picchia, que compravam seus quadros, ajudando no sustento da família de dez irmãos. Certamente, não se arrependeram.
Élon Brasil: talento começou aos seis anos
DICA
Para quem quiser se informar mais sobre a questão indígena: não deixe de assistir ao filme Xingu, dirigido por Cao Hamburguer, sobre a vida dos irmãos Villas-Bôas, responsáveis pela criação desta que foi a primeira reserva indígena do Brasil.
(Colaborou Vivian Costa)