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CAPA

PONTO DE PARTIDA (pág.1)
Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp


ENTREVISTA (pág.5)
Marcel de Souza


CRÔNICA (pág.11)
Francisco Assis de Sousa Lima*


EM FOCO (pág.13)
Márcio Melo*


CONJUNTURA (pág.15)
Abuso sexual


DEBATE (pág.18)
Doença negligenciada


GIRAMUNDO (pág.24)
Curiosidades da ciência e tecnologia, da história e da atualidade


PONTO.COM (pág.26)
Informações do mundo digital


HISTÓRIA DA MEDICINA (pág.28)
Tributo a John Snow


HOBBY (pág.31)
Entre o hospital e o hipismo


SUSTENTABILIDADE (pág.34)
Uma casa ecológica


LIVRO DE CABECEIRA (pág.37)
Dicas de leitura da Redação


CULTURA (pág.38)
É DO BRASIL!


MAIS CULTURA(pág.42)
Museu de Arte Contemporânea


CARTAS & NOTAS (pág.43)
Exame do Cremesp agora é obrigatório


TURISMO (pág.44)
Mato Grosso do Sul


FOTOPOESIA (pág.48)
Odylo Costa, filho


GALERIA DE FOTOS


Edição 60 - Julho/Agosto/Setembro de 2012

CRÔNICA (pág.11)

Francisco Assis de Sousa Lima*

Entre o riso e a dor

Tudo demais é veneno. E dentro do ideal da moderação, tem um ditado que diz: “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”. O caso do jornalista Paulo Francis serve de exemplo. Dizem que ele não confiava na Medicina e ironizava: “Pra se ir ao médico tem que ter muita saúde”. Foi vítima de um infarto, recusou-se a procurar um pronto-socorro em tempo, “fez a passagem” na hora. Bem mais esperto é o baiano Tom Zé, que, com seu humor irreverente e por vezes bizarro, escreveu numa letra de música: “Se persistirem os médicos, consultem os sintomas”. Nesta linha, temos a chance de ser um termômetro para nós mesmos, pois todo sintoma é um aviso, um toque da natureza que, ao mesmo tempo em que dá o sinal de alarme, já providencia uma primeira defesa. Pena que as defesas – orgânicas ou psíquicas – nem sempre são eficazes, mas para isto existem os especialistas. Eu, por exemplo.

Cognatos ou anacolutos? Ao me procurar, o jovem se dizia panificado, pois, mesmo sem ter passado pela panificadora, já se achava em pânico. Mais que afobado, um outro se dizia afobiado. Outra queixa que registrei foi a de agorafobia: tamanha era a ansiedade, que tudo tinha que ser para agora. Achava-se tão complexado, que o remédio de que precisava não podia ser só o complexo B. De preferência, algum de A a Z. E para combater o estresse, o jeito era voltar à Bahia para tomar um ar de oxigênio.

Com dor não se brinca, principalmente com a dor do outro, mas, por vezes nos deparamos com dores que ultrapassam o limiar da nossa perplexidade e, se rimos, é para não chorar, pois a via ridens e a via crucis (se meu latim está correto) são dois lados de uma mesma moeda evolutiva.

No dia a dia da clínica, deparamo-nos com concepções aparentemente bizarras, simplórias ou inconsistentes e que, seja como esforço poético ou como tentativa legítima de aproximação a uma realidade interna, podem fazer sentido à luz das novas investigações neurocientíficas sobre as peculiaridades do cérebro humano. É o caso do jovem que, em seu seu breve manual de autoajuda, estabeleceu medidas para sanar o “pensamento psicológico do coração”.

Segundo ele, o esquecimento é a melhor medida para não sofrer, pois (como diria a mente superior) o tempo passa, e tudo se transforma numa grande felicidade (para quem?). Em sua concepção, o amor é “rotativo” e lua após lua a pessoa encontrará a sua alma gêmea. E haja cabeça e coração para suportar tamanha rotatividade.

Menos esperançoso seria um outro que se dizia grampeado por uma sociedade secreta metropolitana, a maçonaria do sindicato dos demônios, que lhe teria lançado lanternas nos olhos e um pó químico, razão pela qual estava com microfonia, escutava vozes embutidas dentro da cabeça e já não conseguia formar imagens no cérebro, o que sugere uma consciência, por assim dizer, “neurocientífica” de morbidez.

E quanto àquele que queria porque queria fazer um Raio-X dos ossos temporários, no mínimo demonstrava ter consciência da finitude, senão da vida, pelo menos dos ossos, o que já é alguma sabedoria. Mas o fato é que, em meio aos nossos pequenos ou grandes males, é sempre possível buscar uma boa saída. Eu, por exemplo, de fininho ou à francesa, acabei de sair.

(*) Psiquiatra e escritor. Títulos mais recentes, que assina como Assis Lima: Poemas Arcanos (Ateliê Editorial), Chão e Sonho e Marco Misterioso (Dobra Editorial). E-mail: f.assislima9@gmail.com


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