CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág.1)
Editorial de Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág. 4)
Soren Holm - editor do Journal of Medical Ethics
SINTONIA (pág. 9)
Médicos e indústria farmacêutica
CRÔNICA (pág. 12)
Millôr Fernandes
DEBATE (pág. 14)
Aids: em discussão o tratamento profilático
MÉDICOS NO MUNDO (pág. 20)
As muitas guerras do dr. Filártiga
EM FOCO (pág. 24)
AVAAZ: protestos em um clique
HISTÓRIA DA MEDICINA (pág. 27)
Médico, torneiro mecânico e inventor
GIRAMUNDO (págs. 30/31)
Curiosidades da ciência e tecnologia, da história e de fatos atuais
PONTO COM (págs. 32/33)
Informações do mundo digital
SUSTENTABILIDADE (pág. 34)
Sacolas plásticas: uma história sem heróis nem vilões
LIVRO DE CABECEIRA (pág. 37)
Indicação da conselheira Ieda T. Verreschi*
CULTURA (pág. 38)
Pedro Almodóvar
MAIS CULTURA (pág. 41 )
A revolução romântica
HOBBY (pág. 42)
Sem efeito colateral
CARTAS & NOTAS (pág. 33)
SUS: Cremesp recolhe assinaturas
GOURMET (pág. 45)
Sabor de vida em família
FOTOPOESIA( pág. 48)
João Cabral de Melo Neto
GALERIA DE FOTOS
EM FOCO (pág. 24)
AVAAZ: protestos em um clique
Comunidade virtual canaliza a força da internet para fazer a diferença no mundo
Em maio de 1968 – o emblemático mês de protestos do século 20 – estudantes tomaram as ruas de Paris para protestar contra a rigidez do sistema educacional, enfrentando as forças policiais com barricadas e coquetéis molotov, e irradiando outras manifestações por todo o mundo. Quarenta anos depois, protestos assim acontecem ainda em muitos lugares, como nos países árabes e na Grécia, no ano passado. Mas, na era da internet, há mais uma opção: você pode fazer o seu protesto sentado confortavelmente em frente ao seu computador e, mesmo assim, ver sua causa ter uma imensa repercussão. É o que têm feito os cerca de 14 milhões de membros da comunidade virtual Avaaz, criada em 2007. O nome intenso – que significa “voz” em diversas línguas europeias, asiáticas e do Oriente Médio – expressa sua meta: mobilizar pessoas de todos os países a construir o mundo mais justo em que desejam viver.
A comunidade possui um site que opera em 15 idiomas diferentes. O funcionamento é baseado em um modelo de mobilização virtual – por meio de abaixo-assinados on-line –, que procura divulgar vários tipos de causas, desde conflitos no Oriente Médio até mudanças climáticas. Graças à tecnologia e crescente demanda por ética na interdependência global, a Avaaz funciona como um megafone a fim de catalisar a atenção de milhões de pessoas.
A ação não fica só no campo virtual. Além das petições on-line, a comunidade virtual também organiza eventos e protestos nas ruas, financia anúncios, envio de e-mails e telefonemas para governos, oferece apoio a ativistas, procura se expressar na mídia e fornece cuidados humanitários, como fez ao enviar dinheiro para a Birmânia (Myanmar), após o ciclone Nargis, em 2008, e suprimentos médicos para a Síria. Todas as ações são previamente estudadas e elaboradas com o auxílio de colaboradores sintonizados politicamente, para garantir que as campanhas sejam precisas e estratégicas, desenvolvidas para fazer a diferença. Normalmente, os abaixo-assinados saem da internet quando atingem certo número de assinaturas e são passadas às autoridades envolvidas no assunto em questão, sobretudo na esfera pública, a fim de receber atenção da mídia. Todos os passos são calculados com a finalidade de gerar pressão sobre os políticos, fazendo-os reconsiderar suas posições sobre determinada questão.
Essa comunicação direta e dedicada com seus membros faz com que a comunidade aumente cada vez mais, tornando as pessoas assíduas em se engajar na realização das mudanças. De acordo com Caroline D’Essen, brasileira que reside na Alemanha, onde atua como ativista global de causas da organização, a Avaaz ganhou 800 mil novos membros na Venezuela, Colômbia, Argentina, Chile, Peru, México e Brasil (sendo 200 mil deles cidadãos brasileiros) em apenas uma semana, na petição contra a Anti-Counterfeiting Trade Agreement (ACTA). O tratado comercial internacional visa estabelecer o cumprimento da legislação de propriedade intelectual na internet, impedindo a pirataria. Seus críticos, porém, dizem que beneficiará grandes corporações em prejuízo dos direitos civis de privacidade e liberdade de expressão. A campanha gerou três milhões de assinaturas e fez o Senado dos Estados Unidos repensar o acordo. “Isso mostra como a crença na liberdade de expressão e no potencial de transformação da internet une nossos membros”, afirma D’Essen.
Isso é possível porque a Avaaz se organiza de acordo com os interesses e opiniões dos próprios membros. “Comunicamo-nos regularmente com os 14 milhões de pessoas (N.R.: esse número cresce a cada minuto) e checamos seus interesses em nossas causas e se aderem a elas”, explica a ativista. As ideias de campanhas são submetidas a testes e pesquisas realizadas toda semana com 10 mil membros, escolhidos aleatoriamente. As iniciativas que recebem uma forte reação positiva são implementadas. Muitas delas são reforçadas por meio de divulgação feita pelos participantes. Dependendo da repercussão, isso acontece dias ou horas depois do lançamento da causa. “Isso garante que retornemos somente às questões que preocupam nossos membros e, portanto, podemos aproveitar todo o potencial da comunidade para fazer as mudanças acontecerem”, afirma ela.
A independência financeira é fundamental para a comunidade virtual. Por isso, ela é sustentada apenas por doações voluntárias dos próprios membros e não aceita recursos de governos ou empresas, o que garante sua liberdade para agir e exigir mudanças. A Avaaz disponibiliza, no site, uma auditoria independente de suas finanças, todos os anos.
No Brasil
Sendo uma comunidade virtual, não existem fronteiras para que uma causa ganhe popularidade e consiga o impacto necessário. No Brasil, a campanha da Ficha Limpa teve grande destaque, tornando-se a maior campanha on-line do país. A petição conseguiu mais de 2 milhões de assinaturas e 500 mil ações virtuais – estas incluem discussões, compartilhamentos e propagação de informações na rede – e milhares de chamadas telefônicas para o Congresso brasileiro. Para que o projeto de lei conseguisse ser aprovado naquela Casa em 2010, a comoção popular teve papel fundamental. “As ligações e e-mails enviados por nossos membros foram essenciais no momento em que a lei estava prestes a ser votada. Nossos parceiros disseram que os políticos locais não estavam habituados a serem pressionados pelos cidadãos”, explicitou D’Essen. O abaixo-assinado a favor da Ficha Limpa foi entregue diretamente ao Congresso e a Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência do Brasil.
(Colaborou: Tainá Grassi)
• Como se engajar: ao acessar o site http://www.avaaz.org/po, haverá a opção “Participe Avaaz”, no canto superior direito da tela. Basta fornecer nome, e-mail, país e CEP e selecionar a opção “participar”. A partir de então, a Avaaz enviará por correio eletrônico comunicados sobre suas causas, ideais, campanhas e conquistas.