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CAPA

EDITORIAL (SM pág.1)
A implantação plena do SUS no país depende, apenas, de vontade política


ENTREVISTA (SM pág. 4)
Um encontro com o autor de Caminhos para o desenvolvimento sustentável


CRÔNICA (SM pág. 8)
Se você duvida da resistência "sobrenatural" dos vírus e bactérias, leia ...


CONJUNTURA (SM pág. 10)
Robôs cirúrgicos: a esperança de sucesso em procedimentos de alta complexidade


SAÚDE NO MUNDO (SM pág. 13)
Os pontos positivos do sistema público de saúde canadense


MÉDICO EM FOCO (SM pág. 16)
O verdadeiro espírito da Medicina cativa moradores simples do litoral sul de São Paulo


AMBIENTE (SM pág. 20)
Guia Verde de Eletrônicos do Greenpeace: empresas e a reciclagem


DEBATE (SM pág. 22)
Como atua o sistema de cooperativas de trabalho médico no Estado


GIRAMUNDO (SM pág. 28)
Destaque para a exposição Cérebro - O mundo dentro da sua cabeça, realizada em outubro


HISTÓRIA (SM pág. 30)
Surge uma nova - e importante - área de atuação médica: a Medicina de Viagem


GOURMET (SM pág. 34)
Aprenda a preparar uma receita dos deuses: ostra à milanesa


CULTURA (SM pág. 37)
Cientistas voltam os olhos para o Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí


TURISMO (SM pág. 42)
Acompanhe o passo-a-passo de uma viagem deslumbrante à Síria! Roteiro do médico Rodrigo Magrini


CARTAS (SM pág. 47)
Iniciativa da revista em papel reciclado recebe aprovação dos leitores


FOTOPOESIA (SM pág. 48)
Dante Milano, poeta modernista carioca


GALERIA DE FOTOS


Edição 49 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2009

CULTURA (SM pág. 37)

Cientistas voltam os olhos para o Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí

Piauí no mapa do mundo

Vestígios do homem mais antigo da América, encontrados no Brasil, são vistos por comunidade científica mundial



Pinturas feitas por ancestrais humanos, entre 5 mil e 12 mil anos atrás (série gravada na Toca do Badu)

Três décadas depois de sua criação, o Parque Nacional da Serra da Capivara, que abriga os mais antigos vestígios de vida humana das Américas, colocou o Piauí este ano no mapa mundial da arqueologia e pintura rupestre. O 14º Congresso Global de Arte Rupestre, realizado entre junho e julho na cidade de São Raimundo Nonato, foi uma oportunidade para mostrar todos os achados das pesquisas científicas na região e a consistência dos trabalhos da equipe da arqueóloga e antropóloga brasileira Niède Guidon. Desde a década de 70, ela vem tentando consolidar a tese que, ao contrário do que afirma a teoria clássica antiga, o homem penetrou no continente americano muito antes de 30 mil anos. E que o Piauí é o berço do homem americano.

O Parque da Serra da Capivara recebeu importantes autoridades da arqueologia durante o evento de julho. Localizado em região semiárida da caatinga no sudeste do Estado do Piauí, a 530 quilômetros da capital Teresina, o parque ocupa uma área de 129.140 hectares – maior que a cidade do Rio de Janeiro – nos municípios de São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias. Sob a vegetação de pequeno porte, recortada por canyons gigantescos e morros de mármore cinza e negro, existem quilômetros de galerias subterrâneas de vários andares, com lagos e fontes.

Os primeiros estudos na região ocorreram em 1973 com a chegada de Niède Guidon, acompanhada da missão franco-brasileira. Segundo a antropóloga, em 1963, quando trabalhava no Museu Paulista, um homem lhe mostrou fotos de um tipo de arte que era feito por índios nativos do Piauí. Em 1970, já trabalhando na França, a pesquisadora, durante visita ao Brasil, foi ao local e pôde comprovar que se tratava de um tipo de arte rupestre. Três anos mais tarde, ela retornou à Serra da Capivara acompanhada de pesquisadores brasileiros e franceses para continuar a pesquisa.

Desde então, vários vestígios antigos de vida humana foram encontrados. Os principais se localizam no sítio do Boqueirão da Pedra Furada que, após análises a partir do termo de luminescência, chegam a registrar cem mil anos. Porém, alguns cientistas não consideram essa técnica confiável. Os que foram examinados a partir do Carbono 14, datam de 58 mil anos e são reconhecidos internacionalmente como o mais antigo registro da presença humana no continente. Segundo Niède, a descoberta brasileira ainda não é bem-vista por alguns arqueólogos dos Estados Unidos porque, além de lhes tirar o reconhecimento por abrigar o mais antigo fóssil humano da América, muda toda a teoria de que o Homem havia entrado no continente pelo estreito de Behring, no Alasca. “O Homem surgiu na África há 130 mil anos. Saiu de lá pelo mar, à procura de comida, e chegou à América primeiro pelo Nordeste brasileiro”, afirma a pesquisadora. Ela sustenta também que o caminho feito por Berhing e pelas Ilhas Aleutas era muito mais longo e difícil do que vir pela África.

Os norte-americanos refutam a tese de Niède, sob o argumento de que ela não encontrou fósseis humanos mais antigos do que os achados nos Estados Unidos. Seriam apenas vestígios de carvão, que poderiam ser fruto de combustão espontânea, e ferramentas, que não passam de pedaços de pedra que rolaram e lascaram com o impacto.

Segundo análises de um dos maiores especialistas do mundo em tecnologia lítica (de pedra) pré-histórica, o francês Eric Boeda – que visitou o parque nacional em julho, durante o congresso mundial –, as ferramentas de pedra lascada encontradas por Niède Guidon no Boqueirão da Pedra Furada foram feitas por seres humanos, entre 33 e 58 mil anos atrás, e são, portanto, a mais antiga evidência desta ocupação. “Atualmente ninguém mais duvida das descobertas e temos de aprender que, em arqueologia, os dados de hoje podem perder validade amanhã”, afirma Niède.


Canyon das Andorinhas

O professor Rossano Lopes Bastos, arqueólogo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e ex-presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), enviou uma entusiasmada carta aos organizadores do congresso no Piauí para deixar “consignado ao mundo científico e técnico” que o encontro, mais que um evento, foi um acontecimento. “A arqueologia brasileira viveu seu ritual de passagem para a vida adulta e esta, como não poderia deixar de ser, se deu no sertão do Brasil. Doravante, é necessário muito cuidado na preparação de encontros, oficinas, workshops, seminários e congressos arqueológicos no Brasil, pois o sertão piauense disse ao que veio e não foi pouco”, escreveu Lopes Bastos.

A transformação dessa região em uma reserva protegida também é fruto da determinação de Niède. Em 1979, a missão franco-brasileira solicitou aos governos o estabelecimento de um parque nacional na área. Em 1986, foi criada a Fundação Museu do Homem Americano, entidade civil sem fins lucrativos responsável pela administração do parque.


Iguana da caatinga piauiense

Segundo Niède, na década de 70 havia poucos moradores na região, o que contribuiu, em parte, para a conservação dos sítios arqueológicos. Mas se ela tivesse demorado um pouco mais para iniciar a pesquisa, a situação poderia ser diferente. Alguns produtores de cal já ameaçavam invadir a região para extrair mármore e tentaram intimidar a pesquisadora na época. “Era uma região em que estavam desmatando muito”, conta. As precárias condições sociais dos moradores do entorno também comprometeram a fauna e flora local. Com poucas opções de trabalho, eles recorrem à caça para a sobrevivência, prática que reduziu drasticamente a população de tamanduás, veados e emas, entre outros animais.


Caça é ameaça contínua à fauna local

“O mais difícil foi conseguir o parque, mas hoje temos o mais bem equipado do país”, comemora ela. A região do parque conta com mais de 1.200 sítios arqueológicos, sendo 180 abertos para visitação, além de um acervo de 50 mil peças, que estão sendo analisadas pelos pesquisadores a fim de se saber como vivia o homem pré-histórico. Há também pinturas rupestres datadas de cinco mil a 12 mil anos, gravadas por ancestrais humanos nas rochas. São desenhos bem elaborados feitos com o dedo e espinhos, com pigmento colorido obtido da mistura de óxido de ferro e óleo animal.

O Museu do Homem Americano, criado em 1998, foi atualizado em maio deste ano com tecnologias de última geração, que permitem a incorporação constante dos novos achados ao acervo da instituição. “A doutora Niède e sua equipe foram capazes de identificar e construir uma estrutura que não fica a dever a outras do mundo. Esses sítios representam a maior concentração de arte rupestre ao ar livre do mundo, além de abrigar os vestígios mais antigos da presença humana no continente”, afirma Luiz Oosterdek, técnico da Herity – Organização Não Governamental, com sede em Roma, na Itália, que concede certificação de qualidade de gestão do patrimônio histórico exposto à visitação pública.

Em conjunto com a comunidade local, a fundação vem tentando fomentar o turismo histórico arqueológico mundial na região, que também está rodeada de belezas naturais. Atualmente, o parque recebe apenas 15 mil pessoas por ano, mas tem infraestrutura, como passarelas por grutas, para receber três milhões, graças ao empenho da missão franco-brasileira, que fez gestões para angariar recursos, peregrinando por órgãos e instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais. A construção do aeroporto em São Raimundo Nonato, por exemplo, que compete aos governos, viabilizaria este aumento. Porém, suas obras vêm se arrastando há mais de dez anos. A fundação também sofre pela falta de regularidade nos repasses federais ao parque. Em 2004, o Incra chegou a anunciar que pretendia fazer assentamentos em áreas do parque, o que vem gerando, desde então, querelas políticas e agrárias. Pelo menos, até o momento, a história vem conseguindo driblar os reveses e preservar os vestígios ancestrais.

(Colaborou Renan Carvalhais)


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