CAPA
EDITORIAL (SM pág.1)
Homenagem especial a José Aristodemo Pinotti
ENTREVISTA (SM pág. 4)
Professora da PUC analisa a vida em sociedade
CRÔNICA (SM pág. 8)
Texto de Tufik Bauab, presidente da Sociedade Paulista de Radiologia
PALAVRA (SM pág. 10)
Saúde e Educação devem ser prioritárias para crianças entre 0 e 6 anos
CONJUNTURA (SM pág. 14)
Neuroética. Ficção científica é passado longínquo...
EM FOCO (SM pág. 16)
"A pílula mudou o status da mulher e da abordagem de saúde" (Rodrigues de Lima)
ESPECIAL (SM pág. 20)
Novas posturas reafirmam nosso compromisso com a comunidade e o meio ambiente
DEBATE (SM pág. 22)
Especialistas da USP avaliam preservação ambiental e sustentabilidade
GIRAMUNDO (SM pág. 28)
Nova coluna estreia com temas interessantes e atuais
HISTÓRIA (SM pág. 30)
Movimentos populares transformaram o modelo de saúde pública no país
LIVRO (SM pág. 35)
Títulos de presença obrigatória em sua estante
CULTURA (SM pág. 36)
Batatais reúne acervo precioso do pintor paulista Cândido Portinari
TURISMO (SM pág. 42)
Ao sul de Minas, uma cidade imperdível para visitar, praticar esportes e descansar
CARTAS (SM pág. 46)
Comentários dos leitores sobre algumas matérias da edição anterior, nº 47
POESIA (SM pág. 48)
Olavo Bilac
GALERIA DE FOTOS
TURISMO (SM pág. 42)
Ao sul de Minas, uma cidade imperdível para visitar, praticar esportes e descansar
SÃO THOMÉ DAS LETRAS...
MUITO ALÉM DO MÍSTICO
Conhecida pela frequência de hippies e místicos, São Thomé das Letras tem mais a oferecer para quem se dispuser a explorá-la. Com privilegiada composição geológica, mais de 30 cachoeiras espalhadas pelos arredores, corredeiras e grutas, esta cidade ao sul de Minas e a 1.400 metros de altitude ainda brinda o visitante com 360 graus panorâmicos de verdes vales que se perdem no horizonte. Além de riquezas naturais, possui um patrimônio arquitetônico único no país – um rústico conjunto de casas de pedras, construídas com placas de quartzito (pedra mineira) sobrepostas sem argamassa. A igreja matriz, erguida em 1785, está decorada com afrescos tridimensionais de Joaquim José Natividade, discípulo de Aleijadinho e um dos mestres da arte barroca mineira.
Cachoeira Véu de Noiva, que tem bica de água mineral
A quarta mais alta cidade do país está assentada sobre uma das maiores formações de quartzito do mundo. A maioria de seus 7,5 mil habitantes vive na zona rural, apenas três mil moram no perímetro urbano. Num final de semana prolongado, São Thomé chega a receber 2,5 mil visitantes, principalmente do Estado de São Paulo. Mas o turismo de massa e a exploração de pedreiras são ameaças à frágil natureza e às belezas da região. “Passamos a investir no turismo de aventura, menos predatório. A cidade agora dispõe de infraestrutura para trekking, rappel, mountain bike, cascading (descida de rappel por cachoeiras), tirolezas e canoagem pelo Rio do Peixe”, destaca Evaldo Pompeu, secretário de turismo do município.
No centro da cidade há guias para passeios nos arredores e uma agência para aventuras. As trilhas para trekking e mountain bike entre São Thomé e o distrito de Sobradinho, a 18 quilômetros, são suaves, pontilhadas por paisagens de antigas fazendas de gado e cachoeiras. Na Gruta de Sobradinho, um dos lugares mais bonitos da região, é possível cruzar, com água até os joelhos, uma estreita passagem que dá acesso a um salão para alcançar um paraíso a céu aberto do outro lado: finas quedas d’água que formam pequenas e aprazíveis piscinas naturais cristalinas sobre placas de quartzito. Também nesse caminho está a Cachoeira da Lua, com um poço no qual é possível saltar de corda.
Piscina natural sobre quartzito, na saída da Gruta de Sobradinho
São Thomé é um dos 198 municípios mineiros que compõem o turístico Mapa da Estrada Real, demarcado a partir das estradas para transporte de ouro e diamantes ao litoral no Brasil Colônia. Também está ao lado do Circuito das Águas, integrado pelos municípios de Conceição do Rio Verde, Cambuquira, Lambari, Caxambu, São Lourenço, Baependi, Soledade de Minas, Carmo de Minas e Heliodora. Apenas 32 quilômetros separam Conceição do Rio Verde de São Thomé. As cidades estão ligadas por uma estrada de terra com várias cachoeiras pelo caminho, entre elas as de Eubiose, do Flávio, Véu de Noiva e Antares, todas com piscinas e duchas naturais e bem ao lado da estrada.
Na região de São Thomé, grande parte das opções de acomodação e passeios é bem ao estilo da moçada jovem, adepta de terapias alternativas, meditação, ufologia e “vivências espirituais”. Mas há boa estrutura para o turismo familiar, com algumas pousadas em sítios e antigas fazendas nos arredores. No centro, uma boa opção é a Pousada Arco Íris. Na estrada para Sobradinho, as pousadas Bosque dos Beija-Flores e Cidade das Estrelas são indicações para o descanso e passeios em meio à natureza.
O centrinho da cidade, todo calçado em pedra, tem poucas, porém boas, opções gastronômicas – da mineira tradicional à pizzaria, passando pela contemporânea. O calçamento rústico, as lojinhas para turistas e os casarões de pedra dão charme ao lugar, mas o visual se transforma a partir do segundo quarteirão depois da praça – casas com fachadas deterioradas e construções em blocos e tijolos sem reboco compõem um cenário de abandono. Nessas mesmas ruelas, algumas surpresas fazem o turista abstrair a visão do desleixo. Uma delas é a Igreja Nossa Senhora do Rosário, toda de pedra, construída no século 19.
Abstrair é preciso em São Thomé. Tudo é lenda e misticismo nesse lugar; e com a história de sua origem não poderia ser diferente. Diz a lenda que, no século 17, o escravo João Antão fugiu da fazenda do barão de Alfenas para viver numa gruta. Um velho apareceu e deu uma carta de alforria para o escravo entregar ao barão. Impressionado com tão perfeita escrita, o barão pediu que o escravo analfabeto o levasse à tal gruta, onde encontraram uma estátua de São Thomé. O barão, então, mandou construir uma igreja no local dedicada ao santo, que ali recebeu a alcunha “das Letras”. De fato, foi o barão de Alfenas quem patrocinou a construção da igreja, em 1785, numa antiga rota de contrabando de ouro e escravos que começava a ser povoada.
Matriz de São Thomé tem afrescos do barroco em seu interior
Bem ao lado da cidade está o Parque Antonio Rosa, um aclive rochoso que abriga o Cruzeiro (ponto mais alto da região), a Pedra da Bruxa e a pirâmide, uma construção de pedra no topo da montanha. O parque é uma área de preservação com uma bela panorâmica de 360 graus – embora as visões do norte e oeste sejam prejudicadas pelas pedreiras instaladas em alguns topos de montanhas e pelo entulho de quartzito acumulado nas entradas da cidade. “Houve uma tentativa de ‘revegetar’ os picos com capim indiano. Mas como a região é uma APP (Área de Preservação Permanente), os órgãos ambientais não aceitaram, por não ser a vegetação típica. O problema é que as plantas típicas demoram muito a crescer em região de pedras”, argumenta Evaldo Pompeu.
Por qualquer caminho, o visitante encontrará uma surpresa atrás da outra em São Thomé. A Gruta do Carimbado, a sete quilômetros de Sobradinho, é uma das mais bonitas. Seus grandes salões serviram de locação para as filmagens da minissérie Filhos do Sol, da extinta Rede Manchete. Na Ladeira do Amendoim, a 4,5 quilômetros da cidade por uma estrada asfaltada, quem estiver de carro pode experimentar um fenômeno: se desligar o motor terá a impressão de que o veículo subirá a estrada. A ilusão de ótica (descida em vez de subida) é a mais provável hipótese para explicar o fato. Mas, para esotéricos e ufólogos, trata-se de um “campo magnético de contato com seres de outros planetas ou dimensões”.
Nova piscina natural sobre quartzito, também na saída da Gruta de Sobradinho
Turismo e mineração são atividades conflituosas
A mineração ameaça a vocação turística de São Thomé das Letras. Se continuar no mesmo ritmo, as novas gerações não verão suas belezas. Algumas atrações da região perderam parte de seus encantos pela atividade das pedreiras. No Vale das Borboletas havia uma plataforma de pedra com uma delicada queda d’água. O riacho acima do vale foi assoreado por resíduos das pedreiras reduzindo o volume da queda d’água a um fio. A exploração de quartzito também alterou o curso d’água nas proximidades da cachoeira de Shangri-lá, que já foi uma das mais bonitas da região. “Havia pedreiras muito próximas às nascentes de águas que foram fechadas.
Os problemas no Vale das Borboletas e Shangri-lá estão sendo resolvidos. Um muro de contenção de rejeitos foi construído para impedir o assoreamento das corredeiras”, afirma o secretário de turismo do município, Evaldo Pompeu. “O turismo e a exploração de quartzito representam, respectivamente, 40% e 60% da atividade local. Não podemos abrir mão da mineração, a maior parte da população vive dela”, declarou. Composto por 95% de sílica, o quartzito de São Thomé é considerado um dos melhores do mundo para a fabricação de componentes de computadores, além de ser usado para calçamento.
Cascading na Cachoeira de Antares