CAPA
Ponto de Partida
Revista completa 5 anos
Entrevista
Oswaldo Sevá
Crônica
Ruy Castro
Conjuntura
Nanomedicina. Diagnóstico e tratamento molecular possíveis
Sintonia
Tolerância Zero. Engano e Violência
Debate
Hospitais Universitários
Em Foco
Assédio Moral
Política de Saúde
Deficiência. O Respeito às Diferenças
Gourmet
A arte de degustar bons vinhos
História da Medicina
Vacinas e Soros Nacionais
Cultura
Gaudi. Fantasias talhadas em pedra
Livro de Cabeceira
Leveza Cotidiana e Descobertas da Medicina
Poesia
Duelo de Imagens
GALERIA DE FOTOS
Política de Saúde
Deficiência. O Respeito às Diferenças
Pessoa com deficiência. O respeito às diferençasElizabeth Chinche Bregantini*
O conceito de deficiência é diversificado e relacionado a múltiplos fatores. O que é ser incapaz? O que se entende por deficiência? Como esses conceitos interferem no dia-a-dia das pessoas? Ao longo da história, houve uma supervalorização da incapacidade das pessoas, chegando a considerá-las idiotas ou retardadas. Nas últimas décadas, o Brasil vem tentando minimizar a segregação e o preconceito por meio de diferentes expressões ou rótulos como excepcionais, portadores de deficiência, portadores de necessidades especiais e, mais recentemente, pessoa com deficiência. Porém, essa conceituação continua marcada por concepções e práticas do passado que enfatizam a incapacidade e a anormalidade.
Especificamente na área de saúde, os profissionais, ao buscarem conhecimentos sobre o tipo e grau da deficiência, obtêm diferentes classificações em relação a elas: mental, visual, auditiva, motora e múltipla. Dessa forma, as classificações limitam-se aos aspectos orgânico e funcional da deficiência, desconsiderando os fatores cultural, psicológico e socioeconômico.
Atualmente, há uma mobilização mundial de reconhecimento e valorização das potencialidades do indivíduo, inclusive por meio de leis que garantam educação, trabalho, saúde e lazer, além de movimentos para a promoção da vida independente, inserção no mercado de trabalho, equiparação de oportunidades e inclusão. Dentro desse contexto, as ações de saúde para pessoas com deficiência exigem novos enfoques como a interdisciplinaridade, que possibilita a troca de idéias com diferentes profissionais e, inclusive, com o próprio paciente, aumentando as chances de se resolver os problemas — ou de pelo menos minimizá-los. Ao almejar a equiparação de oportunidades, a que sociedade se adapta e torna acessível às pessoas com deficiência, a equipe de saúde tem de assessorar a família, a escola e a comunidade, no sentido de evitar a segregação e promover a inclusão social.
Alguns profissionais, sentindo-se constrangidos em falar da de-fi-ciência de uma criança com os pais — por considerá-los muito envolvidos emocionalmente com a problemática do filho para poderem auxiliá-los — os deixam em segundo plano por ocasião do diagnóstico e no processo de reabilitação, quando não os excluem completamente. Também costumam apresentar resultados de testes com complicadas histórias de casos médicos, terminologia e jargões que deixam os pais perdidos, frustrados e até mesmo desesperados.
No entanto, é da maior relevância que os profissionais reconheçam a importância dos pais no processo de avaliação, educação e reabilitação das crianças, considerando também as diferentes atitudes psicológicas que permeiam a relação pais/filhos que vão desde a negação, a raiva até a aceitação.
Ao compreender essas reações, cada membro da equipe de saúde pode trabalhar as expectativas da família, favorecendo o desenvolvimento social, físico, psicológico e educacional da criança.
Apesar de o modelo de atendimento à pessoa com deficiência preconizar a interdisciplinaridade, na prática ainda não foi estabelecido plenamente, justamente por ser um sistema de atendimento integrado, de implantação difícil e complexa. Esse modelo normalmente não é transmitido pelas faculdades ou valorizado pelas políticas de saúde e, conseqüentemente, os profissionais de saúde encontram muitas dificuldades em desenvolvê-lo, ficando presos à especificidade de cada disciplina.
A troca de informações entre os profissionais, a fim de integrar os vários enfoques das especializações em um ato mais unificado, minimiza os problemas de atenção à saúde da pessoa com deficiência. Os currículos de graduação devem considerar as influências dos aspectos culturais e psicológicos envolvidos na questão. Não é mais suficiente rotular o indivíduo e tentar curá-lo, é preciso aprender a se relacionar com o “diferente”. Só assim, nossas atitudes poderão auxiliar o desenvolvimento neuropsicomotor-social e cultural das pessoas com deficiência, evitando a maximização da deficiência e, mais importante, promovendo a equiparação de oportunidades.
Estamos em processo assimilatório de uma nova perspectiva para o conceito da vida humana. Quanto mais flexível for nossa análise, mais facilmente obteremos respostas positivas às indagações que visam atingir a inclusão. “Como profissionais da saúde e da educação que buscam compreender o homem como um todo, não podemos deixar nosso olhar se impregnar pelas definições das deficiências e das patologias. Sem negá-las, é importante colocá-las nos seus devidos lugares como traços, possibilidades, um ponto, um nó num todo muito maior e complexo que é o homem. Não dialogamos com o deficiente e, sim, com a pessoa que traz, numa constelação de traços e qualidades infindáveis, uma limitação”.
*Elizabeth Chinche Bregantini é psicóloga, psicopedagoga, membro do Núcleo Psicopedagógico Integração e do Projeto de Inclusão do Distrito de Saúde de Pirituba, co-autora do livro “Múltiplas faces do aprender – novos paradigmas da pós-modernidade”, Editora Unidas Ltda.