

CAPA

PONTO DE PARTIDA (SM pág. 1)
Em Editorial, Henrique Carlos Gonçalves enfatiza a importância de realizar um amplo debate para atualização do Código de Ética Médica

ENTREVISTA (SM pág. 4)
Acompanhe entrevista com psicanalista e escritor...

CRÔNICA (SM pág. 10)
O cronista Tutty Vasques, convidado desta edição, nos brinda com texto inteligente e - como sempre - muito bem humorado

CONJUNTURA (SM pág. 12)
Dados sobre asfixia perinatal durante a última década mostram que esta foi a causa de morte em 23% dos óbitos neonatais no Brasil

HISTÓRIA DA MEDICINA (SM pág. 16)
O coração sempre ocupou papel de grande importância no simbolismo relacionado ao homem

DEBATE (SM pág. 20)
Na pauta das discussões, a (necessária e inadiável) revisão do Código de Ética Médica

EM FOCO
Saúde feminina é mais suscetível ao alcoolismo e sedentarismo, segundo importantes indicadores de saúde

HOMENAGEM
É preciso lembrar o médico nefrologista que marcou, com coragem e idealismo, a história do movimento médico no país

LIVRO DE CABECEIRA (SM pág. 33)
O destaque desta edição é, de fato, imperdível: A Verdade Sobre os Laboratórios Farmacêuticos, de Márcia Angell

CULTURA (SM pág. 34)
Acompanhe uma análise do simbolismo das telas de René Magritte, realizada pelo psiquiatra e psicanalista Carlos Amadeu Byington

HOBBY DE MÉDICO (SM pág. 38)
Acredite: ortopedista utiliza filadores externos para produzir peças pra lá de curiosas...

TURISMO (SM pág. 40)
Se você nunca ouviu falar no Atacama, este é o momento de arrumar as malas em direção ao... Chile!

CARTAS & NOTAS (SM pág. 47)
Todas as referências bibliográficas das matérias desta Edição você encontra aqui

POESIA
O Fogo e a Fé, poesia de Fátima Barbosa, fecha, com emoção, as matérias deste número

GALERIA DE FOTOS

LIVRO DE CABECEIRA (SM pág. 33)
O destaque desta edição é, de fato, imperdível: A Verdade Sobre os Laboratórios Farmacêuticos, de Márcia Angell
O alvo é o médico
Reinaldo Ayer de Oliveira*
A Verdade Sobre os Laboratórios Farmacêuticos, livro de Márcia Angell – atualmente professora de Medicina Social da Harvard Medical School, mas que durante anos foi editora-chefe do New England Journal of Medicine – é realmente revelador. Angell relata que em 2002 os gastos com medicamentos vendidos sob prescrição médica nos Estados Unidos foi da ordem dos 200 bilhões de dólares. A autora esclarece que esse valor refere-se apenas aos medicamentos vendidos em farmácia e afirma ser impossível levantar a verdadeira quantia envolvida na indústria do medicamento. As empresas utilizam subterfúgios para esquivar-se de declarar nos relatórios anuais de faturamento o dinheiro movimentado. Angell revela que grande parte dos gastos com a pesquisa e desenvolvimento de um novo medicamento são assumidos pelos National Institutes of Health (NIH) que financiam pesquisas, principalmente nas universidades. Desenvolvido um novo medicamento, em geral a indústria assume os próximos passos: a pesquisa clínica, o marketing, a administração e as gestões comerciais para que os produtos cheguem ao paciente/consumidor.
A partir da comercialização de uma nova droga, de acordo com a autora, não é acrescentado nenhum avanço na melhoria de sua eficácia, passando a ser ofertado com ocasionais mudanças na embalagem ou na nomenclatura de fantasia. A questão passa a ser exclusivamente de marketing. O alvo principal dessa indústria não é o doente/consumidor, mas o médico. “Afinal de contas, são eles que redigem as prescrições”, escreve Angell. “Se os laboratórios farmacêuticos conseguem chegar aos médicos diretamente, é ainda melhor do que atingi-los por meio dos seus pacientes”, completa.
O capítulo dedicado às relações entre os médicos e a indústria farmacêutica é precedido pelo título Marketing disfarçado de informação educativa. Não obstante a palavra “educativa”, a autora fala das estratégias dos laboratórios para conquistar a adesão e a fidelidade dos profissionais da medicina em relação a um determinado produto. Essas estratégias concentram-se especialmente na oferta de brindes, chamarizes, subornos e propinas. As ações diretas da indústria farmacêutica sobre os médicos por meio de representantes são comentadas por Angell como uma estratégia de “comida, lisonja e amizade”, para conquistar o médico que é o prescritor do medicamento. Essas ações também são desenvolvidas no âmbito da relação com o paciente/consumidor.
A autora faz ainda interessantes observações em torno das ações de marketing que estimulam o consumo contra-indicado e desnecessário de medicamentos. Lembrando o alerta de Giovanni Berlinguer “a velocidade com que se passa da pesquisa pura à aplicação é tão acentuada que a permanência, mesmo que por pouco tempo, de erros ou resultados falsos pode provocar tragédias”, a questão do consumo de medicamentos é hoje um gravíssimo problema de saúde pública.
A Verdade Sobre os Laboratórios Farmacêuticos aponta de maneira contundente a necessidade de debates sobre um assunto complexo, com vários desdobramentos, sem saídas ou soluções imediatas; e que demanda o envolvimento de diferentes atores na busca de uma conduta ética, tanto por parte da indústria como dos médicos.
*Reinaldo é conselheiro do Cremesp e professor de Bioética da Fmusp.
Frases do livro
“Muitos congressos de grande porte parecem bazares, dominados pelas exposições pomposas dos laboratórios farmacêuticos e por simpáticos vendedores...”
“Os médicos perambulam pelos grandes corredores das exposições carregando sacolas de lona com a logomarca dos laboratórios farmacêuticos, cheias de brindes, mastigando comida grátis e se servindo de todo tipo de serviços gratuitos, como testagem de colesterol...”
Obra: A Verdade Sobre os Laboratórios Farmacêuticos
Autor: Márcia Angell
Editora: Record