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CAPA

PONTO DE PARTIDA (SM pág. 1)
Cremesp e Uniad, à frente do Movimento Propaganda Sem Bebida, levam à Brasília 600 mil assinaturas pela aprovação do PL 2733


ENTREVISTA (SM pág. 04)
Acompanhe uma conversa franca e informal com o presidente do CNPq, Marco Antonio Zago


CRÔNICA (SM pág. 08)
A síndrome da hipocondríase dos terceiranistas de Medicina comprovadamente existe... por Moacyr Scliar


MEIO AMBIENTE (SM pág. 10)
A (difícil) convivência da nossa saúde - física e mental - com o trânsito caótico da cidade


SINTONIA (SM pág. 15)
A omissão terapêutica a pacientes terminais sob o ponto de vista jurídico


DEBATE (SM pág. 18)
Em discussão a relação do médico com o adolescente. Convidadas: Maria Ignez Saito e Albertina Duarte


COM A PALAVRA (SM pág. 26)
Chamado de bruxo do Cosme Velho, Machado de Assis é analisado por José Marques Filho


HISTÓRIA (SM pág. 30)
Arquivo histórico da Unifesp: acervo surpreende pela diversidade de peças e documentos


ACONTECE (SM pág. 32)
Engenhocas de muita utilidade e outras nem tanto assim... confira as idéias patenteadas do Museu das Invenções. Ele existe!


CULTURA (SM pág. 35)
Exposição de Pets gigantes às margens do Rio Tietê conscientiza sobre preservação da água


GOURMET (SM pág. 38)
Prepare a mesa: você vai saborear um cuscuz marroquino fácil (mesmo!) de fazer


TURISMO (SM pág. 42)
Tranquilidade, coqueiros à beira-mar, belas praias e paisagens. Agende sua próxima viagem de férias para este paraíso...


POESIA
Gregorio Marañon, médico e escritor espanhol, fecha esta edição com simplicidade e emoção...


GALERIA DE FOTOS


Edição 43 - Abril/Maio/Junho de 2008

TURISMO (SM pág. 42)

Tranquilidade, coqueiros à beira-mar, belas praias e paisagens. Agende sua próxima viagem de férias para este paraíso...

Ao norte.... Praia do Forte

Charmosa e cosmopolita, a Praia do Forte é a base para explorar as mansas águas azuis ao norte de Salvador

Texto: Daniel Nunes Gonçalves
Fotos: Rubens Chaves

Ela não tem forte algum, fica em um lugar com o estranho nome de Mata de São João e resume-se a uma única praia diante de uma singela igreja branca e um pequeno centrinho. A Praia do Forte poderia ser apenas mais um vilarejo de pescadores vivendo aquele zen, quase oriental ritmo baiano, com uns barquinhos sendo ninados pelo marzão azul, um acarajé aqui, uma capoeira ali. Mas não. O outrora pacato distrito do norte da Bahia, distante uma hora da agitada capital Salvador, consagrou-se já há algum tempo como um refúgio de personalidade própria. Está entre os principais destinos do país para quem busca o sossego da areia clarinha sob coqueiros à beira-mar, temperado com uma alma ecologicamente correta, um importante legado histórico e uma rotina cosmopolita que ganha sofisticação a cada verão.

Para começo de conversa: esqueça aquele rebuliço, aquela alegria quase exagerada de Salvador. Seja em férias ou dando uma escapulida depois de um congresso na capital, mire o norte da sua bússola para a Praia do Forte e vá sonhando com dias de rendição à malemolência. Essa é a realidade do litoral norte baiano mesmo depois que os soteropolitanos trocaram suas casas de veraneio na vizinha Ilha de Itaparica, bem diante da Cidade Alta na Baía de Todos os Santos, por um roteiro de mais glamour na costa praiana sentido Aracaju. Isso foi há uns 20 anos. Aquela corrente de êxodo urbano tinha como ponto central uma vilazinha 90 quilômetros ao norte da capital, com os arredores cheios de praias belas e desconhecidas. A Praia do Forte ganhou letras de mais destaque no mapa do Brasil graças a um paulista de nome alemão, Klaus Peters, que em 1985 criou o Praia do Forte Eco-Resort – na época, um raro conceito de hospedagem em sintonia com a natureza.

Quem caminha pela Praia do Forte hoje – no centro, carro não entra – se surpreende. O mundo deu voltas, Klaus Peters vendeu muito bem a sua mina de ouro, um outro resort (o Iberostar) de primeira linha roubou os holofotes e o lugar se tornou o destaque do litoral norte baiano. E, o que é mais incrível, a Praia do Forte não foi vítima do sucateamento barulhento pelo qual passam outros paraísos que caem nas garras do turismo de massa. Sua área diminuta e os preços um pouco salgados das pousadas, restaurantes com cozinha do mundo todo e lojinhas transadas garantiram visitação sofisticada e internacional. Ninguém aqui está exilado pela ditadura da axé music, já que os barzinhos noturnos abrem o leque musical para gêneros como MPB e música eletrônica. 

A rede elétrica é subterrânea e não há prédios: as maiores construções não podem ultrapassar 10 metros de altura. Ouve-se todo tipo de língua em suas ruelas limpas e simpáticas. A bandeira invisível do desenvolvimento sustentável continua lá, em atrativos clássicos como a principal base nacional do Projeto Tamar, que desde 1980 pesquisa as tartarugas-marinhas que desovam em suas areias durante o verão, e o ponto de observação do Projeto Baleia Jubarte, que promove entre julho e outubro saídas de barco para avistar as belas gigantes do oceano.

Os únicos 14 quilômetros da prainha local ganharam quiosques azulejados, com espreguiçadeiras e guardas-sóis para qualquer mortal relaxar com brisa no rosto, pés para o alto e olhar nas nuvens. Os recifes formam na maré baixa o Papa-Gente, área com piscinas naturais perfeitas para praticar snorkeling avistando peixinhos coloridos, o que torna o passeio agradável para quem viaja com crianças. Os mais aventureiros agora têm no cardápio passeios de canoa, quadriciclo e parasail, além de sobrevôo de avião e prática de arvorismo. A trilha da reserva de Sapiranga, extensa área de Mata Atlântica protegida, leva aos pontos para banho no rio Pojuca a pé, cavalo ou bicicleta. E as ruínas do Castelo Garcia D’Ávila, primorosamente recuperadas, fazem lembrar que esse éden natural tem, sim, história.

Foi essa construção, chamada Casa da Torre e majestosamente erguida em 1551 no topo de uma colina, que deu nome à praia. Semelhante a uma fortaleza, foi uma das primeiras obras feitas em rocha no Brasil, e a única de origem portuguesa com arquitetura medieval e traços de forte militar. O castelo foi sede da sesmaria comandada pelo almoxarife real Garcia D’Ávila, que chegou ao Brasil em 1549 junto com o primeiro governador geral da colônia, Tomé de Souza. Além de servir de posto para avistar navios que se aproximavam destas terras recém-descobertas, a base era ponto de partida das entradas e bandeiras que acabariam por definir os limites do maior latifúndio do mundo: a megafazenda começava na Bahia e só acabava onde hoje está o estado do Maranhão. Foi habitada pelas 10 gerações seguintes dos D’Ávila, até que se tornasse patrimônio histórico e ponto turístico.

Com a estrutura disponível hoje, duas décadas depois de sua “descoberta”, a Praia do Forte se consolidou como o pólo irradiador de visitantes para as redondezas. Ela é a principal parada dos viajantes que percorrem os 230 quilômetros da rodovia litorânea que liga Salvador ao vizinho estado de Sergipe. Quando chega à Praia do Forte, a bem conservada BA-099 deixa de levar o apelido de Estrada do Coco para ser batizada como Linha Verde, nome dado em função do mínimo impacto ambiental almejado pela obra –  há até redes sobre a pista para que os macacos possam circular de um lado a outro da floresta sem correr risco de atropelamento.

No entorno, as paradas também têm cara própria. Ao sul, a 34 quilômetros pela Estrada do Coco, repousa – quase que hiberna… –  Arembepe, a velha aldeia hippie que na década de 1970 deslumbrou Janis Joplin, Mick Jagger e, é claro, o baiano Raul Seixas. Arembepe não resistiu ao progresso e rendeu-se às construções de alvenaria, mas continua lindamente localizada entre o mar, as dunas, a restinga e uma lagoa. Os curiosos, porém, querem mesmo é conferir o bairro onde uns cinqüenta artesãos ainda abrem mão de luz elétrica e água encanada em seus casebres com telhado de sapé. Um pouco ao norte do mesmo município está Itacimirim, que encanta outra tribo, a dos surfistas, por abrigar na praia do Peru um raro trecho de ondas para surfe. Tem partes também com piscinas naturais e ganhou fama em 1984 por ser o ponto de chegada da maior aventura marítima brasileira: a travessia solitária do oceano Atlântico pelo navegador Amyr Klink, um épico narrado no best-seller Cem Dias Entre Céu e Mar.

A bússola continua apontada para o norte? A primeira praia da Linha Verde, Imbassaí, congrega a rusticidade de uma vila de chão de terra cercada por coqueirais. Situada 14 quilômetros ao norte da Praia do Forte, tem um espetáculo local simples e tocante: o encontro do rio Barroso com o mar, permitindo banhos de água doce e salgada, além do aprazível caminho para a praia, feito por pontezinhas sobre o rio. Quem gosta de dunas pode dar uma esticada até a praia vizinha de Santo Antônio, também charmosa com sua população de pescadores e artesãos de palha. Ainda ao norte, a 35 quilômetros da Praia do Forte está Massarandupió, que tem a principal praia oficial de nudismo do estado, criada pela prefeitura para atrair hóspedes naturistas da vizinha Costa do Sauípe, que fica a apenas 8 quilômetros dali. O complexo hoteleiro da Costa do Sauípe é uma gigantesca área que concentra cinco resorts e seis pousadas com estrutura de primeira linha, o que inclui campos de golfe, centro náutico e aulas de equitação, acessíveis também para quem preferir fazer passeios de um dia.

Com tanta beleza espalhada ao norte de Salvador, só a deliciosa preguiça provocada pela letargia à beira-mar impediria qualquer mortal de deixar a Praia do Forte para conhecer os arredores. Se você for acometido dessa vontade irresistível, relaxe. O barulhinho do mar, a sombra dos coqueiros e o astral único da Praia do Forte são o melhor argumento para qualquer filho-de-Deus decidir não arredar o pé dali, para simplesmente curtir o ócio.

Boa viagem!
Chega-se à Praia do Forte voando para Salvador, com vôos diretos feitos pelas grandes companhias aéreas a partir das principais capitais. De carro, dá para curtir melhor esse roteiro pela rodovia BA-099, explorando os arredores menos estruturados da Estrada do Coco e da Linha Verde. É possível ainda pegar um ônibus em Salvador e, em uma hora, desembarcar na terra das tartarugas-marinhas. A Bahiatursa oferece informações turísticas pelo telefone (71) 3676-0283. Outras dicas podem ser encontradas no site www.praiadoforte.org.br

Durma bem!
Desde que foi inaugurado em 2006, o resort Iberostar Bahia (www.iberostar.com.br, tel. 71/3676-4200) roubou os olhares antes exclusivos do Praia do Forte Eco-Resort (www.ecoresort.com.br, tel. 71/3676-4000). O primeiro tem nada menos que 6 piscinas, campo de golfe com 18 buracos e cinco restaurantes que atendem no sistema all-inclusive: tudo, até os destilados importados, está incluído na diária. Já o pioneiro Eco-resort encanta pela discrição e pela integração com a natureza. Belos jardins, passarelas sobre espelhos d’água, spa com tratamentos à base de água marinha. Para um custo-benefício mais próximo da realidade dos bolsos brasileiros, prefira as pousadas do vilarejo.

Bom apetite!
Com turistas do mundo todo, a Praia do Forte tem boas opções da cozinha internacional. O bom peixe fresco à beira-mar com receitas baianas pode ser conhecido no Sabor da Vila, um dos restaurantes mais antigos do lugar, ou no Terreiro Bahia, aberto recentemente. A comida japonesa, com opções tailandesas, está no cardápio do Kasato, enquanto O Europeu orgulha-se dos pratos ingleses e espanhóis. Em Imbassaí, não perca o Sombra da Mangueira, o restaurante estrelado pelo Guia 4 Rodas.

* Daniel Nunes Gonçalves é jornalista, com reportagens publicadas em várias revistas, entre elas National Geographic, Outside, Terra, GQ e Discovery Magazine, além dos guias de viagem 4 Rodas Brasil 2008, Praias 2007 e Nordeste Unibanco 2006. É autor dos livros sobre a Bahia Chapada Diamantina e Ecomotion Costa do Dendê (sobre a maior corrida de aventura do Brasil).

* Rubens Chaves é fotógrafo, colaborou com várias revistas, entre elas Veja SP, Isto É, Quem, Exame e jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo. É autor do livro “Região Sul”, em conjunto com o fotógrafo Zig Koch.


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