CAPA
PONTO DE PARTIDA (SM pág. 1)
O Conselho Municipal de Saúde e seu importante papel na aglutinação e mobilização dos trabalhadores da saúde
ENTREVISTA (SM pág. 03)
Inteligente e polêmico, o convidado desta edição é Paulo Henrique Amorim. Sem comentários!
CRÔNICA (SM pág. 10)
O médico Tufik Bauab recupera, em linguagem bem-humorada, um pouquinho do cotidiano que faz a história de cada um
SINTONIA (SM pág. 12)
Esporte competitivo. Qual o limite para que o treinamento não se torne excessivo e prejudicial à saúde?
MEIO AMBIENTE (SM pág. 15)
Doença de Chagas e transmissão oral. Total descaso das autoridades com o meio ambiente e a saúde
CONJUNTURA (SM pág. 18)
Voluntários sadios e a polêmica da remuneração nos testes clínicos
DEBATE (SM pág. 21)
O tema em discussão trouxe à tona o Exame do Cremesp e a qualidade do ensino médico no país
HOBBY DE MÉDICO (SM pág. 28)
Cirurgia plástica e alpinismo? Combinação perfeita! Acompanhe os desafios de Ana Elisa Boscarioli...
ESPECIAL (SM pág. 32)
Cem anos de convivência com a cultura japonesa: a arte e a gastronomia conquistaram os brasileiros, definitivamente
CULTURA (SM pág. 38)
Oscar Niemeyer: dedicação integral à criação e à arte da arquitetura no país e no exterior
TURISMO (SM pág. 42)
Ah! você não pode perder essa viagem a um verdadeiro paraíso batizado de Ilha do Cardoso
LIVRO DE CABECEIRA (SM pág. 47)
Acompanhe a dica de leitura de nosso diretor de Comunicação, Bráulio Luna Filho
POESIA (SM pág. 48)
Cora Coralina é a poetisa que fecha com chave de ouro esta edição da Ser Médico
GALERIA DE FOTOS
SINTONIA (SM pág. 12)
Esporte competitivo. Qual o limite para que o treinamento não se torne excessivo e prejudicial à saúde?
Laboratório de conquistas
Ciência e tecnologia são os grandes aliados para
transformar o corpo humano em máquina de eficiência em jogos competitivos
A distância que separa a vitória da derrota na vida de boa parte dos atletas pode ser uma fração de segundos. Em tempos de Medicina tecnológica, a superação esportiva é um trabalho de laboratório que envolve equipe multidisciplinar, incluindo médico, fisioterapeuta, nutricionista e psicólogo, entre outros especialistas. As aptidões de um campeão podem ser reconhecidas já na tenra infância e alguns traços genéticos favorecem esta ou aquela modalidade. Mas a prevenção, correção e tratamento de lesões ou desvios físicos e a utilização da tecnologia alimentar de suplementos – e, em alguns casos, a criação de roupas especiais – podem ajudar ainda mais.
“Hoje, com o desenvolvimento da Medicina do Esporte, há uma preocupação em diferenciar a atividade física de alto rendimento daquela amadora ou de lazer. O esporte de alto nível requer atividade física no limite da capacidade humana e não é em nada comparável ao praticado três ou quatro vezes por semana, com vistas à saúde. O esporte competitivo não é muito saudável, mas a Medicina tem recursos para diminuir suas lesões e melhorar sua eficiência”, afirma o médico Bernardino Santi, 50 anos, que participou da delegação brasileira nos Jogos Olímpicos de Sidney (2000) e de Atenas (2004); e nos Pan-americanos de Winnipeg-Canadá (1999) e de Santo Domingo-República Dominicana (2003). Ele lembra que os esportistas que têm maiores cuidados com o corpo permanecem mais tempo em jogo, caso dos futebolistas Toninho Cerezo, Edmundo e Rogério Ceni.
Mas, desafiar os limites do corpo e quebrar recordes é o tônico dos jogos competitivos. Desde a antiguidade o homem busca a superação. A imagem de deuses gregos retratados com físico invejável, assim como as disputas olímpicas entre as cidades-estado da Grécia antiga são provas disso. Já naquela época os atletas bebiam esperma de búfalo, o que lhes conferia força. A prática tem uma “base científica”, já que o sêmen contém testosterona, ou seja, é um esteróide anabolizante natural para o aumento de força.
A busca da supremacia esportiva ficou ainda mais acirrada após a Segunda Guerra Mundial, durante o período em que os Estados Unidos e a antiga União Soviética travavam a Guerra Fria. O conflito não se restringia à corrida armamentista e tecnológica. Ambas as superpotências, na corrida para garantir o maior número de medalhas nos Jogos Olímpicos, desenvolveram um verdadeiro arsenal de equipamentos tecnológicos para o treinamento e preparação de atletas, incluindo ainda o uso de drogas para a melhora do rendimento e aumento de massa muscular. O uso dessas substâncias atualmente é o “demônio” do mundo dos esportes e os exames anti-dopping tornaram-se um capítulo especial das competições.
Santi lembra que os métodos que levam ao excesso de treinamento são condenados pela Medicina Esportiva. A especialidade inclusive utiliza os instrumentos de exames disponíveis para verificar se um atleta passa por supertreinamento. “A Medicina do Esporte conhece bem hoje a melhor maneira de orientar os treinadores profissionais sem que o organismo do atleta tenha que pagar um alto preço por isso”, afirma. Atualmente na Medicina, diz Santi, o conceito de aumento de eficiência dos atletas está ligado ao treinamento adequado, à prevenção de lesões locais ou sistêmicas e na reabilitação correta.
“Tivemos o caso de um lutador de boxe, em que a guarda dele abria muito a partir do quarto round, fazendo com que ele levasse golpes no rosto e perdesse muitos pontos. Isso acontecia porque ele não tinha força na cintura escapular para manter a guarda. Por meio de um teste detectamos o problema. A investigação médica indicou que o problema derivou-se de uma oclusão bucal que conferiu um defeito à musculatura do trapézio e que, conseqüentemente, o atleta não tinha força suficiente para manter a guarda. O problema de oclusão bucal foi tratado e o treinador conseguiu melhorar a musculatura do atleta por meio de exercícios para fortalecimento do trapézio”, explica ele.
Apesar de todo esse avanço científico, a Medicina não opera milagres, sendo essencial respeitar a genética. “Se o atleta nasceu para aquele peso e aquela altura, nós temos que respeitar. O que se pode fazer é melhorar a capacidade muscular com o treinamento, mas existem algumas peculiaridades”. Entretanto, até mesmo “o talento” pode, de alguma maneira, ser medido pela Medicina. Santi ensina que o organismo apresenta dois tipos de fibras musculares: as vermelhas conferem resistência aos treinamentos de longa duração, enquanto as brancas servem para explosão – para treinamentos de curta duração.
Assim, a predominância de uma fibra ou de outra definirá as características e as aptidões esportivas do atleta. “É por isso que não se vê um maratonista correndo os 100 metros rasos, e vice-versa”, afirma o médico. Com treinamento pode-se conseguir modificar um pouco essas fibras, mas isso é limitado e não é o que vai determinar um vencedor”, completa. Ao ser questionado sobre se é possível construir um atleta para ser um recordista olímpico, o médico citou o caso do corredor norte-amerciano Ben Johnson, que foi “fabricado para ser um campeão”, mas perdeu a medalha que ganhou ao descobrir-se que utilizava anabolizantes. “Temos que considerar que essa maximização deve estar dentro dos preceitos de saúde, éticos e morais. Você pode maximizar as potencialidades, envolvendo a genética e o conhecimento científico de médicos, fisiatras e psicólogos, entre outros profissionais. Mas não se pode admitir que o atleta seja campeão utilizando algum tipo de droga”, completa.
Medicina Esportiva
No Brasil, a Medicina do Esporte se consolidou a partir da década de 1950. A Seleção Brasileira de Futebol de 1958, campeã do mundo, dispunha de um médico especialista da área. A especialidade foi criada pelo decreto-lei 1.212, em 1939, sendo o profissional inicialmente reconhecido como médico especializado em educação física. Desde 1962, a especialidade conta com a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME) na qual estão inscritos 480 médicos. No cadastro do Cremesp há 39 registros de profissionais que declararam ser a Medicina Esportiva a sua principal especialidade.
(Colaborou Gustavo Tristão)