CAPA
EDITORIAL
Destaque p/reportagem especial sobre o longo e penoso processo de aposentadoria dos médicos
ENTREVISTA
Nesta edição, Giovanni Guido Cerri fala sobre sua experiência à frente da FMUSP
CRÔNICA
O escritor Ruy Castro nos brinda com seu texto divertido e inteligente, sua marca registrada
SINTONIA
Polêmico, o apelo ao consumo infantil desenfreado na análise de uma especialista no tema...
MEIO AMBIENTE
Mata Atlântica: ainda é possível, sim, salvar o que resta desta floresta
CONJUNTURA
Aposentadoria: depois de anos de (árduo) trabalho, chega - enfim - a dificuldade maior...
DEBATE
Saúde Suplementar: especialistas no assunto avaliam as relações de mercado e a assistência à saúde
HISTÓRIA DA MEDICINA
Você conhece Alcméon de Crotona? Acompanhe a história do avô da Medicina, por José Marques Filho
ESPECIAL CENTRO DE SÃO PAULO 1
A restauração do centro da cidade devolve aos paulistanos a nostalgia dos bons tempos...
ESPECIAL CENTRO DE SÃO PAULO 2
Mercado Municipal: restauro tornou local agradável para passear, fazer compras e almoçar
ESPECIAL CENTRO DE SÃO PAULO 3
Theatro São Pedro aniversaria em plena atividade, com espetáculos de dança, música e dramaturgia
TURISMO
Prepare-se para realizar uma viagem de sonho pelo continente australiano
LIVRO DE CABECEIRA
Cartas da Guerra, de Antonio Lobo Antunes, é a recomendação de nosso delegado em Atibaia
CARTAS & NOTAS
Acompanhe o que os leitores da Ser Médico acham da revista...
POESIA
A poesia da vez é de autoria de Vladimir Mayakoviski
GALERIA DE FOTOS
ESPECIAL CENTRO DE SÃO PAULO 1
A restauração do centro da cidade devolve aos paulistanos a nostalgia dos bons tempos...
Alguma coisa acontece...
Prédios e áreas revitalizadas melhoram o aspecto da Capital e acentuam seus contrastes
Mesmo lenta e desconectada, a revitalização do centro antigo de São Paulo é uma realidade em esparsas edificações históricas que reluzem como noivas na cidade cinza – de trânsito caótico e calçadas esburacadas.
O pomposo edifício que abriga o Theatro Municipal remete a um tempo glamouroso em que barões passeavam em suas charretes pela metrópole do café. Repaginados, a Catedral da Sé, o Mercado Municipal, a Estação Júlio Prestes, a Pinacoteca, a Estação da Luz, o Theatro São Pedro, a praça da República e a rua Avanhandava, entre outros, melhoram o aspecto dessa quatrocentona maltratada.
Como uma sinopse da “terra de contrastes” do ideário de Paulo Freyre, o patrimônio arquitetônico higienizado torna mais gritante o patrimônio humano que perambula esquecido pelas ruas, arrastando cobertores que servirão de abrigo para o sono sobre soleiras de mármore. A cidade continua tão ou mais do avesso do que quando foi vista pela primeira vez por Caetano Veloso, mas alguma coisa acontece no coração da paulicéia e na dura poesia concreta das suas esquinas.
Zona de suntuosos exemplares da arquitetura do passado, o bairro da Luz concentra hoje o mais respeitável pólo cultural da cidade, a começar pela própria Estação da Luz, que sedia o Museu da Língua Portuguesa. Em frente, o prédio da Pinacoteca dentro do Parque da Luz acolhe as melhores exposições de artes da cidade, além de ter um importante acervo permanente.
O antigo prédio do Dops, transformado em Museu do Cárcere; a Estação Júlio Prestes, sede da Sala São Paulo de concertos musicais; e o Centro Tom Jobim completam o conjunto de edifícios recuperados a serviço da cultura. O Projeto Revitalização do Centro, desenvolvido pela Prefeitura de São Paulo, pretende transferir para a Luz as sedes da Subprefeitura da Sé, da Secretaria de Serviços, do Prodam e da Guarda Civil Metropolitana. Com essas intervenções espera-se mudar o desenho urbano da velha região da Luz, que ainda convive com o tráfico de crack e a prostituição.
Marco-zero da cidade, a nova praça da Sé foi reinaugurada em 25 de janeiro durante as comemorações do 453º aniversário de São Paulo. Os canteiros e jardineiras foram rebaixados para ampliar o campo de observação das plantas e das esculturas. A praça ganhou passarelas para cruzar o espelho d’água e o fosso de ventilação do Metrô. Foram colocadas plantas em volta do espelho d’água para evitar que moradores de rua usem o local para banhos, medida muito criticada e considerada “higienista” por entidades de defesa de direitos humanos e urbanistas. Apesar das medidas inibitórias, o local continua sendo usado para banhos.
Sob os domínios da Sé estão outros importantes patrimônios da cidade que já haviam sido recuperados nas duas últimas décadas, como a Catedral Metropolitana, o palacete que abriga o Centro Cultural Banco do Brasil e o Páteo do Colégio jesuíta, local da fundação de São Paulo. No Colégio funciona o Museu Padre Anchieta, com um acervo de arte sacra, quadros, fotografias, aquarelas e outras obras relativas à fundação da cidade.
A praça da República também está de cara nova, embora em meio aos tapumes e ao caos no trânsito devido às obras do Metrô. A praça recuperou as características do traçado original, de 1905. Novo piso, iluminação potente e restauro das esculturas foram as principais intervenções. A República ganhou novos bancos nos quais é impossível deitar-se, também considerados instrumentos de uma política “higienista” contra a população de rua, sem oferecer nenhuma contrapartida aos que usavam a área para dormir.
A professora e coordenadora do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Maria Lúcia
Refinetti Martins, lembra que é muito importante para os habitantes da cidade ter espaços bem tratados e cuidados. “O que não pode ocorrer é o que parece estar havendo em São Paulo: um discurso estético para uma política de afastar os pobres das áreas equipadas”, criticou a professora.
Área da Consolação
Em processo de reforma desde 2004, a Igreja da Consolação passou por um minucioso trabalho de restauro dos vitrais, do altar-mor, sacristia e dos santuários laterais. Os afrescos ainda não foram recuperados, mas a fachada exterior já está ficando com cara de nova. A Associação Viva o Centro também está fazendo bonito nessa região.
Criada em 1991, com o objetivo de mudar a situação degradante do centro, a entidade desenvolve projetos em parceria com universidades, governos e iniciativa privada – entre eles o Ação Local em cerca de 50 microregiões do centro em que as comunidades são estimuladas a zelar e promover mudanças para reerguer essas áreas. Por meio do Ação Local, a Avanhandava transformou-se numa elegante ruazinha, com fontes nas calçadas e pórtico de entrada pelo acesso da rua Augusta. Walter Mancini, proprietário de um dos tradicionais restaurantes da rua, o Famiglia Mancini, ajudado pelo poder público, bancou a reforma.
Muito ainda falta ser feito para recuperar décadas de abandono e degradação. Por enquanto, são ações isoladas – a maioria feita com investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o apoio da Emurb e do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH). À noite, algumas áreas do centro seriam um deserto, não fosse pelos moradores de rua. Falta segurança e há trechos mal iluminados.
“Nessas condições, a ação mais necessária é a de reforma e de colocar em uso os diversos prédios fechados e abandonados. Há bons exemplos, infelizmente pouquíssimos, de prédios que estavam abandonados e foram reformados para moradia social”, opinou Lúcia Refinetti. Também são necessárias outras medidas de reurbanização mais contundentes como estimular a presença de escolas e faculdades no centro antigo. Mas já é possível para essa área da cidade com outros olhos. Com empenho permanente do poder público, a exceção pode virar regra.
Passeio ao passado
Os pontos revitalizados do centro estão no roteiro de passeios turísticos, organizados por algumas instituições. O Turismetrô oferece cinco opções de roteiros diferentes que incluem os principais edifícios históricos. A Ong Ação Local Barão de Itapetininga organiza uma caminhada noturna pelas ruas do centro, com saída às 20 horas, em frente do Theatro Municipal, todas às quintas-feiras. Alguns roteiros da Ong são seguros, mas há outros que percorrem locais sem policiamento e ruas escuras.
(colaborou Vanessa Miano)