CAPA
EDITORIAL
Nesta edição, uma reflexão sobre o superaquecimento global e seu impacto na saúde
ENTREVISTA
Acompanhe esta conversa com o escritor-médico Moacyr Scliar, membro da Academia Brasileira de Letras.
CRÔNICA
Tutty Vasques, cronista convidado, nos dá o "prazer" de um texto divertidíssimo...
MEIO AMBIENTE
Polêmico, mas realista, Al Gore alerta para catástrofe ambiental, sem volta
CONJUNTURA
A exploração sexual infantil: os números são assustadores e as seqüelas, piores
DEBATE
A reforma na assistência à saúde mental na mira de 3 especialistas no tema
HISTÓRIA DA MEDICINA
Anorexia: um mergulho na história da humanidade mostra que ela vem de longa data...
HOMENAGEM
Darcy Villela Itiberê: toda uma vida dedicada ao exercício, pleno e ético, da Medicina
EM FOCO
Homens públicos tão diferentes, na realidade tão semelhantes: são médicos!
RAIO X
Se decidir pela Medicina já é difícil, imagine desistir da profissão, depois de graduado...
ACONTECE
Acompanhe uma visita virtual à 27ª Bienal de Artes, sob o tema Como Viver Junto
SINTONIA
SES começou projeto de catalogação do patrimônio cultural de instituições de saúde do Estado
COM A PALAVRA
Confira texto inteligente e bem humorado do cardiologista Rodrigo Penha de Almeida
TURISMO
Impossível resistir a estas imagens... Veja nossas dicas para conhecer, de perto, esse paraíso
LIVRO DE CABECEIRA
Intercorrências da Morte é o destaque desta edição. De Saramago. É preciso mais?!?
POESIA
Encerrando com chave de ouro esta edição, a poesia de Roland Barthes
GALERIA DE FOTOS
MEIO AMBIENTE
Polêmico, mas realista, Al Gore alerta para catástrofe ambiental, sem volta
AL GORE VERSUS O FIM DO MUNDO
Paradoxalmente, político do maior poluidor do planeta protagoniza filme que denuncia catástrofe ambiental pelo aquecimento global
O mundo está à beira de uma tragédia provocada pela intervenção humana, com efeitos climáticos gravíssimos prestes a alcançar um ponto sem retorno. Quem faz o alerta é o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, 58 anos, protagonista do documentário Uma verdade inconveniente, que estreou em novembro no Brasil.
“O planeta pode entrar em uma dinâmica catastrófica: os pólos se degelarão, os ciclos climáticos serão quebrados, sofreremos mudanças climatológicas extremas, inundações gigantescas, longos períodos de seca e ondas mortais de calor, mas ainda há tempo para mudar essa realidade”, diz o político norte-americano. Em várias cenas o filme mostra que o planeta está derretendo – não como um fato isolado, mas como consequência de reações em cadeia. Duas fotos de um mesmo ponto na Cordilheira dos Andes feitas num intervalo de 22 anos impressionam pelo volume de gelo desaparecido.
O documentário de 90 minutos dirigido pelo cineasta David Guggenheim usa como fio condutor as conferências feitas por Al Gore para alertar sobre o superaquecimento global. O próprio Gore é o principal garoto-propaganda do filme, visitando vários países para promovê-lo, inclusive o Brasil. É um paradoxo que o político saia em defesa do ambiente sendo seu país o maior poluidor do planeta. Mas é justo a credibilidade de Gore que dá peso ao filme. Candidato à presidência dos EUA pelo partido democrata em 1999, ele acabou aceitando a derrota para George Bush, após uma batalha judicial em torno dos duvidosos resultados eleitorais parciais na Flórida. Caso se tornasse presidente as perspectivas do mundo poderiam ser outras. Em 1997, ele foi um dos principais negociadores do Protocolo de Kyoto, que até hoje não foi ratificado pelos EUA.
“Nada em nossa experiência passada nos preparou para o desafio ao qual estamos confrontados, mas precisamos superá-los”, afirmou Al Gore em entrevista ao jornalista Hervé Kempf, publicada em 10 de outubro pelo periódico francês Le Monde. “O sucesso desse combate implicará diminuir hábitos de desperdício, melhorando, contudo, a qualidade de vida. Por definição, a poluição é um desperdício. À medida que avançarmos rumo a uma sociedade de informação, cujos valores dominantes serão as idéias, a inovação, a engenhosidade, utilizaremos menos a madeira, o plástico, o aço, a borracha”, declarou. “Precisamos de melhores arquiteturas, melhores designs, melhores fontes de energia renovável, e, sobretudo, controlar os resíduos produzidos por tecnologias que têm mais de 100 anos, por exemplo o motor de explosão”.
O político lembra que 90% da energia utilizada para deslocar um automóvel de um ponto A ao B são desperdiçadas, apenas 9% movimentam o veículo. “Precisamos rever e conceber novamente todos os sistemas que desperdiçam a energia. Temos de fazê-lo, não há escolha”. Para ele, o Protocolo de Kyoto é um bom ponto de partida, mas é preciso aumentar as exigências em relação à redução gradual de emissão de gases tóxicos na atmosfera. Sem a assinatura dos EUA, o tratado de Kyoto entrou em vigor em fevereiro de 2005 com a meta de reduzir em 5,2% em média a emissão de gases entre 2008 e 2012.
Ainda na entrevista ao Le Monde, Gore disse estar convecido de que “tão logo Bush deixe a presidência”, os Estados Unidos passarão a participar das estratégias mundias de redução de gases tóxicos. “Quem sabe, até mesmo antes da saída de Bush, porque muitos de seus simpatizantes mudaram de opinião e o estão pressionando. A Califórnia, o maior Estado, acaba de aprovar uma lei que restringe as emissões de gas carbônico. O governador (Arnold) Schwarzenegger assistiu ao meu filme em junho e disse: ‘eu vou vender o meu Hummer’’’, declarou o democrata.
Vilões poluidores
O Brasil ocupa o 16º lugar entre os países que mais emitem gás carbônico para gerar energia. Mas ao se considerar os gases do efeito estufa liberados pelas queimadas e agropecuária, é o quarto maior poluidor. De acordo com um estudo do grupo Greenpeace para o filme Mudanças do clima, mudanças de vidas, as queimadas e o desmatamento na Amazônia contribuíram com 75% das emissões brasileiras de gases de efeito estufa.
De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), entre os dez maiores poluidores do planeta, os EUA aparecem em primeiro lugar (15,8%), seguido pela China (11,9 %), Indonésia (7,4% ) e Brasil (5,4 % ). Na lista aparecem ainda a Rússia (4,8% ), Índia (4,5%); Japão (3,2%), Alemanha( 2,5 %), Malásia (2,1%) e Canadá (1,8%).
Entre a Cruz e a Caldeira
Desaparecimento da calota polar é uma das projeções relacionadas ao aquecimento
• A temperatura média global será de 1,4 a 5,8 °C até o final deste século, segundo estimativas do IPCC.
• A geleira Gangotri, no Himalaia, que tem cerca de 25 quilômetros de comprimento, perdeu dois quilômetros em 200 anos.
• Em 100 anos a calota polar desaparecerá por completo, segundo estudos publicados pela National Sachetimes de Nova York em julho de 2006, o que provocará o fim das correntes marítimas no Oceano Atlântico, tornando o clima mais frio no hemisfério norte. No resto do mundo a temperatuara média subirá e os padrões de secas e chuvas serão alterados.
• Desde o início do século passado, a elevação do nível do mar está entre 10 e 25 centímetros. O IPCC estima que o nível das águas poderá subir entre 30 e 80 centímetros até o fim do século. Algumas cidades à beira-mar precisarão ser protegidas por diques.
• Até 2050 os seres humanos precisarão de mais um planeta similar ao nosso para sobreviver. Segundo o relatório Living Planet Report da Ong WWF, a capacidade regenerativa da Terra planeta se acabou em 1980 e hoje já se utiliza 25% a mais de sua capacidade regenerativa.
Fontes: IPCC, Greenpeace e WWF