CAPA
EDITORIAL
Nesta edição, uma reflexão sobre o superaquecimento global e seu impacto na saúde
ENTREVISTA
Acompanhe esta conversa com o escritor-médico Moacyr Scliar, membro da Academia Brasileira de Letras.
CRÔNICA
Tutty Vasques, cronista convidado, nos dá o "prazer" de um texto divertidíssimo...
MEIO AMBIENTE
Polêmico, mas realista, Al Gore alerta para catástrofe ambiental, sem volta
CONJUNTURA
A exploração sexual infantil: os números são assustadores e as seqüelas, piores
DEBATE
A reforma na assistência à saúde mental na mira de 3 especialistas no tema
HISTÓRIA DA MEDICINA
Anorexia: um mergulho na história da humanidade mostra que ela vem de longa data...
HOMENAGEM
Darcy Villela Itiberê: toda uma vida dedicada ao exercício, pleno e ético, da Medicina
EM FOCO
Homens públicos tão diferentes, na realidade tão semelhantes: são médicos!
RAIO X
Se decidir pela Medicina já é difícil, imagine desistir da profissão, depois de graduado...
ACONTECE
Acompanhe uma visita virtual à 27ª Bienal de Artes, sob o tema Como Viver Junto
SINTONIA
SES começou projeto de catalogação do patrimônio cultural de instituições de saúde do Estado
COM A PALAVRA
Confira texto inteligente e bem humorado do cardiologista Rodrigo Penha de Almeida
TURISMO
Impossível resistir a estas imagens... Veja nossas dicas para conhecer, de perto, esse paraíso
LIVRO DE CABECEIRA
Intercorrências da Morte é o destaque desta edição. De Saramago. É preciso mais?!?
POESIA
Encerrando com chave de ouro esta edição, a poesia de Roland Barthes
GALERIA DE FOTOS
CRÔNICA
Tutty Vasques, cronista convidado, nos dá o "prazer" de um texto divertidíssimo...
Sexo na ressonância
Tutty Vasques*
Ninguém nasce claustrofóbico, imagino. Chegar ao mundo deve ser até um alívio, não consigo imaginar lugar mais apertado e sufocante, ainda que quentinho, quanto a barriga da mãe. Só fui me dar conta de minha aversão doentia ao confinamento depois dos 30 anos de idade, preso com outros 20 passageiros no elevador de carga da velha sede do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro. Passei ali meus primeiros três minutos de vida no fundo do poço: pressão baixa, falta de ar, princípio de desmaio, pânico e, sobretudo, vergonha do faniquito.
Depois disso, o mal-estar virou recorrente sempre que me vejo em elevador lotado. No início, fingia ter esquecido alguma coisa que justificasse meu desembarque antes da partida, mas hoje sou um claustrofóbico assumido, do tipo que tem cremação encomendada e tudo. Prefiro morrer no elevador a ser fechado num caixão.
No mais, sou um sujeito absolutamente saudável, acho até que nunca me senti tão bem na vida e, talvez por isso mesmo, meu clínico-geral resolveu aproveitar o check-up de rotina para abrir o capô do meu fígado. O leitor decerto já passou por uma ressonância magnética, procedimento banal, tenho amigos que – pelo menos é o que dizem – dormem quando entram no tubo para o exame. Eu já havia passado pela experiência uma vez – na época o doutor cismou de ver em detalhes minha coluna vertebral – e, lembro-me bem, entrei em pânico quando percebi que teria que ficar durante 30, 40 minutos num lugar tão apertado quanto um caixão. Pedi que me tirassem imediatamente lá de dentro e só depois de me concentrar durante dez minutos com os olhos fechados consegui fazer o exame. Saí de lá moralmente destruído.
Dessa vez, mesmo já sabendo como era a coisa, ao deitar na maca que é chupada para dentro do tubo senti que ainda não estava preparado para o procedimento. Falei para a mocinha que me arrumava que eu era claustrofóbico e, caso desse alarme, que me tirassem o mais rápido possível lá de dentro. Ela me tranqüilizou: “Relaxa, não vai doer nada!” – brincou.
Fechei os olhos antes de ser introduzido no tubo e, na falta de assunto para me concentrar em alguma coisa, resolvi pensar em sexo. Sexo pra valer! Resultado: pode ser que eu esteja enganado, mas acho que inventei um método de auto-ajuda para quem, como eu, sofre de síndrome do pânico em ressonâncias magnéticas. Passei 35 minutos – e olha que metade do tempo com uma agulha de contraste espetada no braço – de raro prazer. Ali dentro, de olho fechado, com o teto a 10 centímetros do seu nariz, sentindo as paredes laterais roçarem nos ombros, você é capaz de imaginar as mais loucas posições para a prática de sexo com quem você quiser. De vez em quando, ouvia umas marteladas eletrônicas próprias da máquina e passei a associá-las ao anúncio de orgasmos. Como dizia Narcisa Tamborindeguy no tempo em que ainda lhe davam ouvidos, “que loucura, que loucura!”
Quando saí lá de dentro, às gargalhadas, a mocinha não estranhou: “Tá vendo, não disse que não ia doer!” – guardava um sorriso meio maroto nos lábios. Espero que meu estado de excitação durante o exame não tenha sido captado pelas imagens da ressonância.
Espero, também, que esteja tudo bem com meu fígado.
* Tutty Vasques é cronista do site www.nominimo.com.br e da revista Veja Rio.