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Edição 25 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2003

EM FOCO

Arte nos hospitais

O belo e a cura

Marcela Bezelga

A arte é bela e aprazível. Quando as manifestações artísticas acontecem em hospitais, esses generosos adjetivos têm um significado especial porque humanizam um ambiente, geralmente inóspito, além de promover o bem-estar de pacientes e daqueles que trabalham com doenças. Alguns projetos de arte também têm uma importante função de auxílio terapêutico nos serviços de saúde que, cada vez mais, abrem seus saguões e corredores para exposições e outras atividades. Em São Paulo, essa idéia já rendeu bons espetáculos e alguns projetos passaram a integrar a agenda cultural da cidade. É o caso do Projeto Arte no PAMB (Prédio dos Ambulatórios) que, desde 1997, leva periodicamente uma apresentação musical ou de dança ao primeiro piso do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo (HC/FMUSP).

As apresentações ficam lotadas. Médicos, pacientes, enfermeiros, pessoas em consulta, crianças, todos param, que seja por uns instantes, para ver o que está acontecendo. Os pacientes internados são levados até o local onde a platéia é acomodada em bancos e cadeiras que somam mais ou menos cem lugares. Outros debruçam-se nas muretas dos andares superiores para assistir aos eventos. Artistas conhecidos como Jair Rodrigues, o grupo Negritude Júnior e a cantora e apresentadora Inezita Barroso colaboram com o projeto e já fizeram shows no local. Alguns grupos apresentam-se todo ano como o Ballet Stagium - que participa do evento sempre em dezembro -, o Ballet Coppélia, a Emoção Companhia de Dança de Jundiaí e o conjunto musical Esqueleton's, formado por médicos.

Segundo o coordenador do Arte no PAMB, o cardiologista Carlos Regis Bastos Rampazzo, os shows "quase mensais", são transmitidos ao vivo pelo circuito interno de TV do prédio. Os monitores ficam nas salas de espera do HC e, quando não estão transmitindo os espetáculos, veiculam filmes educativos sobre saúde. Os próprios funcionários da administração fazem a montagem de palco, iluminação, cenário e filmagem. "Não conseguiríamos nada sem a colaboração dos funcionários, nosso verdadeiro patrimônio", exalta Rampazzo.

Dá para medir o grau de resolução das doenças pela arte? "É impossível, não dá para saber o quanto a arte ajuda, mas é possível melhorar a qualidade de vida de quem está internado, trabalhando ou que veio para uma consulta. A pessoa chega ao hospital, um ambiente frio, pesado e, de repente, descobre uma atividade artística, pára para ver, canta ou dança, bate palmas; isso alivia a tensão", observa o cardiologista.

Sempre ao meio-dia
Na mesma linha, a Associação Paulista de Medicina (APM) desenvolveu, até dezembro de 2002, o Projeto "Música ao Meio-Dia". Em parceria com a Orquestra de Câmara da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) levou a seis hospitais da rede pública da Grande São Paulo arrojados concertos com obras dos mais consagrados compositores da música clássica. A Orquestra se apresentou no Hospital São Paulo, Hospital Geral de Pirajussara, Hospital Estadual de Diadema, Hospital Santa Marcelina Itaim Paulista, Hospital Santa Marcelina Itaquera e Hospital Carmino Carriccho. Além de descontrair o ambiente hospitalar, os concertos eram uma oportunidade de enriquecimento cultural que até hoje é lembrado, com saudade, pela equipe médica e funcionários dos hospitais.

Numa outra vertente, o potencial interativo das artes plásticas é explorado como ferramenta de expressão ou auxiliar terapêutico, que além de distrair o paciente, promove outras sensações frente à doença e à dor. O Projeto Carmim, dirigido pelo artista plástico e educador Eduardo Valarelli, inciado em 1996, desenvolve atividades nesse sentido em vários serviços de saúde da Capital, entre eles o Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Hospital da Criança e os institutos da Criança, Psiquiatria e Central do Hospital das Clínicas. A equipe do Carmim faz uma visita semanal, que dura em média três horas, aos pacientes para ministrar aulas de pintura, desenho e história da arte. Os pacientes produzem obras e, depois, são estimulados a refletir sobre o trabalho realizado.

Além do Carmim, o Instituto de Psiquiatria do HC conta também com o Projeto Arte Terapia, iniciado no mesmo ano, que disponibiliza materiais e utilitários para produção artística aos pacientes psiquiátricos internados. A psiquiatra Carmem Santana, que trabalha no Projeto, diz que por meio da arte é possível trabalhar pacientes que não conseguem se comunicar ou aqueles com quadros psicóticos. "O paciente sente-se inserido num contexto social. Na arte trabalha-se com formas variadas de comunicação, expressão e simbolização".

A Liga de Dor da Faculdade de Medicina da USP e o Centro de Dor do HC inseriram a pintura na vida dos pacientes como forma de aliviar a tensão e o sofrimento causados pelas crises dolorosas. Para a paciente Celisa Medeiros Ulhoa, que tratava da dor crônica no local, "a atividade artística faz a pessoa esquecer que está doente e enxergar novas possibilidades". Junto com outros 33 pacientes, Celisa teve a oportunidade de apresentar seus quadros no Expo Arte Dor, que reuniu 125 obras durante o Simpósio de Dor, no início deste ano.

"Acho maravilhoso me apresentar no hospital"

Inezita Barroso, apresenta-se todo ano e é uma entusiasta do Projeto Arte no PAMB. "A música é um milagre de Deus. Quando me apresento no hospital vejo a felicidade no rosto das pessoas, a reação dos pacientes, mesmo daqueles que estão com problemas sérios de saúde. É uma troca de carinho muito importante", comenta a cantora.

"Inezita é uma pessoa muito boa e sempre que a convidamos está disposta a participar, todos adoram sua apresentação", ressalta Regis Rampazzo. "A idéia das apresentações nos hospitais é excelente, todas as vezes que o doutor Regis me chamar estarei lá", retribui a artista.

Os shows de Inezita no Hospital são concorridos, estão sempre lotados e os pacientes, principalmente os de sua geração, fazem coro quando ela canta. "Acho maravilhoso me apresentar no hospital, sempre tem muita gente interessada em ver. É emocionante e compensa muito fazer esse trabalho. A receptividade é cada vez melhor. Nos shows, canto, toco ou dou palestras sobre folclore", conta.


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