CAPA
PÁGINA 1
Nesta edição
PÁGINAS 4 E 5
Cartas e notas
PÁGINAS 6,7,8,9,10 E 11
Entrevista
PÁGINAS 12 E 13
Crônica
PÁGINAS 14, 15, 16 E 17
Dossiê Acupuntura: uma breve história
PÁGINA 18
Dossiê acupuntura relato de caso
PÁGINAS 19,20,21,22,23
Dossiê acupuntura: panorama
PÁGINAS 24, 25, 26 E 27
Dossiê acupuntura em foco
PÁGINAS 28 E 29
Dossie Acupuntura: Vanguarda
PÁGINAS 30 E 31
Tecnologia
PÁGINAS 32 E 33
Medicina no mundo
Páginas 34 e 35
Opinião
páginas 36,37 e 38
Hobby
PÁGINAS 39,40,41 E 42
Gourmet
PÁGINAS 43,44,45 E 46
Agenda Cultural
PÁGINA 47
Resenha
PÁGINA 48
Fotopoesia
GALERIA DE FOTOS
PÁGINAS 19,20,21,22,23
Dossiê acupuntura: panorama
Principais indicações da especialidade
Ginecologia e Obstetrìcia
Por Luciano Ricardo Curuci de Souza*
Historicamente, a Acupuntura está vinculada ao tratamento de patologias dolorosas. Porém, vem crescendo muito a integração com outras especialidades médicas, como a Ginecologia e Obstetrícia, cujas principais contribuições são também referentes a casos de dor, como a dismenorreia primária, a endometriose e a dor pélvica crônica. Ultimamente, o grande avanço é o tratamento de sintomas climatéricos.
Apesar de ser um estado fisiológico da mulher, o período climatérico apresenta diversas sintomatologias que causam desconforto e queixas das pacientes. Estes sintomas já eram conhecidos desde a China antiga e descritos em livros, como o clássico Princípios de Medicina interna do Imperador Amarelo. Escrito há mais de 4.000 anos, ele trata de uma conversa do Imperador Amarelo, Huang Di, com seu médico, a respeito de doenças e seus tratamentos.
O livro é dividido em duas partes, Su Wen e Ling Shu, ambas com 81 capítulos. Na Ling Shu, é descrita a evolução fisiológica da mulher, com ciclos de maturidade de sete em sete anos. A descrição confere, exatamente, com os ensinamentos modernos do climatério. Aos 35 anos, (7x5) a mulher começa a apresentar secura facial e os cabelos começam a ficar mais fracos. Aos 42 anos (6x7) o rosto das mulheres começa a enrugar e os cabelos começam a se tornar esbranquiçados. Aos 49 anos (7x7), a aparência física está prejudicada e a mulher não pode mais ter filhos.
Em relação às definições modernas do climatério, pode-se fazer analogia com a perimenopausa inicial, aos 35 anos, quando iniciam-se as queixas de deficiência estrogênica, progestogênica e androgênica, com secura de pele e ciclos menstruais irregulares. Dos 45 aos 55 anos anos, temos a perimenopausa intermediária, com atrofia cutânea e de mucosa vaginal, amenorreia e cabelos esbranquiçados. E finalmente temos a menopausa, por volta dos 49 anos, quando os ciclos menstruais cessam e a vida fértil da mulher se encerra.
A acupuntura vem sendo utilizada como grande adjuvante no tratamento climatérico, principalmente no combate às crises de fogachos e sintomas vasomotores, para as pacientes com histórico de câncer de mama, ou apenas nos casos de fator de risco familiar em que a terapia hormonal estrogênica está contraindicada de forma absoluta ou relativa. Estudos modernos indicam que, quanto mais crises de ondas de calor a mulher apresenta, maior será a chance de Doença de Alzheimer no futuro, devido à desnaturação de acetilcolina e diminuição de suas ações no hipocampo.
Porém, uma área cerebral pode ser ativada, inicialmente, após a estimulação de um acuponto. Os órgãos-alvos respondem à estimulação da acupuntura por meio do sistema regulador neuroendócrino-humoral. Este padrão regulador pode explicar o fenômeno de múltiplos alvos, múltiplas vias e regulação sistemática da acupuntura para Doença de Alzheimer.
Evidências de ensaios clínicos randomizados apoiam o uso da acupuntura como u tratamento adjuvante ou autônomo para reduzir sintomas vaso motores, insônia, labilidade afetiva, nervosismo, vertigens e fraqueza, que acompanham o climatério, e, assim, melhorar os resultados de qualidade de vida.
Outro grande avanço encontra-se no campo da reprodução humana. Em 2002, Wolfgang Paulus publicou o resultado de seus estudos, demonstrando que a utilização da acupuntura, em casos de fertilização assistida, dobra a chance de sucesso de uma gravidez. Atualmente, utilizamos o que chamamos de Protocolo de Paulus Modificado, para auxiliar os médicos fertileutas em um maior sucesso terapêutico.
Dentro da Obstetrícia, a acupuntura é, habitualmente, utilizada em casos de náuseas e vômitos do primeiro trimestre de gestação, diminuindo, inclusive, o número de internações hospitalares nos casos de hiperêmese gravídica.
Também podemos empregar a acupuntura em demais patologias e sintomas que acompanham a gestante durante a evolução da gravidez, com o intuito de diminuirmos a utilização de medicações analgésicas e antiinflamatórias, que podem prejudicar o binômio mãe-feto. Dessa forma, podemos recorrer a um tratamento conjunto nos episódios de lombalgias e dores abdominais em gestantes, além de auxiliar nos casos de constipação intestinal, tão comuns em nossas pacientes obstétricas.
Durante a fase final da gestação, a acupuntura pode, também, ser empregada com segurança na indução e na condução do trabalho de parto, além de permitir uma analgesia de parto menos invasiva e com menor quantidade de fármacos.
Outra situação em que a acupuntura tem demonstrado sucesso é na versão fetal, na qual o feto em apresentação pélvica após 34 semanas de gestação consegue se posicionar para uma apresentação cefálica, propiciando um parto normal a termo e diminuindo a incidência de cesáreas pela indicação de variação de posição fetal.
*Médico ginecologista e acupunturista, e diretor de Comunicação do Colégio Médico de Acupuntura do Estado de São Paulo
Transtornos Mentais
Por Luiz Carlos Sampaio*
Em 1936, Walter Cannon, eminente fisiologista americano, postulou o conceito de homeostase, como a constante busca, pelo organismo, de seu equilíbrio interno, sendo fundamental para a realização dos processos fisiológicos.
As doenças físicas ou psíquicas seriam, assim, consequências de desajustes nos processos fisiológicos relacionados à perda da homeostase.
Em 1959, o endocrinologista Hans Selye definiu o conceito de estresse. Os autores brasileiros Mello Filho e Diniz Moreira, em 1992, revisando o conceito, definiram estresse como "um conjunto de reações e estímulos, físicos, psíquicos ou sociais, que causam distúrbios no equilíbrio do organismo, frequentemente com efeitos danosos."
As inadequações alimentares e dos hábitos de vida, a sobrecarga de trabalho, a inseguranaça social e política, o excesso de informações e o isolamento social são exemplos de fatores estressantes. Mesmo situações prazerosas, como a promoção no trabalho, viagens, relacionamentos amorosos, nascimento de filhos ou netos, aposentadoria, podem causar desequilíbrio emocional e desencadear sintomas e doenças, dentre eles a insônia, os transtornos de ansiedade e a depressão.
Há mais de 2000 anos, os médicos chineses, por meio de observações minuciosas, chegaram às mesmas conclusões que os cientistas modernos. Afirmaram que a doença se instala no organismo quando temos um desequilíbrio entre o yin e o yang.
Yin e yang – termos topográficos, onde yang se refere ao lado iluminado da montanha e yin, o lado escuro – foram apropriados pela filosofia taoista e, a partir de generalizações e analogias,mpassaram a representar os lados opostos de todos os fenômenos que ocorrem na natureza.
No ser humano, o par yin/yang corresponde a várias características, tais como as atividades fisiológicas ao yang, enquanto as estruturas ao yin. Por exemplo, no caso dos hormônios: a melatonina, ligada ao sono e repouso, é relacionada ao yin; o cortisol, vinculado à atividade, ao yang. As funções do sistema nervoso autônomo simpático têm característica yang, enquanto as do parassimpático, yin.
Para a medicina chinesa, os mesmos fatores relacionados ao conceito moderno de estresse são responsáveis pela quebra da homeostase entre o yin e o yang, conduzindo ao aparecimento de sintomas e doenças.
O tratamento por acupuntura, na insônia, nos transtornos de ansiedade ou depressivos, têm como objetivo reequilibrar o yin/ yang, devolvendo ao organismo sua condição de homeostase.
Estudos atuais demonstram que o tratamento por acupuntura regula as funções do sistema simpático, que é hiperativo nas situações de estresse, com a consequente liberação de noradrenalina, responsável pelos sintomas vivenciados nos transtornos de ansiedade.
O ciclo vigília/sono também pode ser entendido como par yang/yin, e seu desequilíbrio como causa de insônia inicial, intermediária ou final.
A pesquisa básica em Acupuntura demonstrou a liberação de neurotransmissores, como endorfinas e serotonina, fundamentais no tratamento da ansiedade e depressão.
Não se deve esquecer, entretanto, de dois elementos fundamentais
dos chamados transtornos mentais: a reorganização psíquica que fundamentará as mudanças de hábitos inadequados de vida; e a relação médico/paciente, em que o olhar do médico deve estar dirigido, principalmente, ao paciente, e não à doença, que se está tratando.
*Médico psiquiatra e acupunturista, e diretor de Defesa do Paciente do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura e do Colégio Médico de Acupuntura do Estado de São Paulo
Dores Musculoesqueléticas
Por André Wan Wen Tsai*
No Brasil e em todo o mundo, inclusive na China, a Acupuntura tem sido uma ferramenta importante e cada vez mais usada no tratamento da dor musculoesquelética. Especialmente nas condições crônicas, em que os próprios pacientes buscam uma terapêutica menos farmacológica.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Acupuntura apresenta eficácia no tratamento da lombalgia crônica, cervicalgia crônica, osteoartrite de joelhos, periartralgia dos ombros, epicondilite lateral e dor pós-operatória.
No Centro de Acupuntura do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, por exemplo, mais de 90% dos atendimentos estão concentrados nas dores crônicas da cintura pélvica (lombalgias, lombociatalgias, síndrome do piriforme, tendinite do glúteo médio), escapular (cervicalgias, cervicobraquialgias, tendinites do ombro, capsulite adesiva) e articulações de carga (osteoartrite de quadril e joelho, e fascite plantar). Os pacientes encaminhados para o nosso setor recebem em média de 7 a 10 sessões semanais, com duração entre 20 a 40 minutos.
Em algumas situações, cujos sintomas são mais agudos e/ou intensos, podemos oferecer o tratamento com frequência maior (dias intercalados, por exemplo), sempre após a realização de um diagnóstico preciso, afastando, assim, as chamadas "bandeiras vermelhas" (red flags). De modo geral, é importante o afastamento de doenças infecciosas, isquêmicas, traumáticas e oncológicas que necessitem de um tratamento específico.
Os mecanismos envolvidos na analgesia pela Acupuntura ainda não estão totalmente esclarecidos, mas sabemos que seu estímulo tem efeitoneuromodulatório ao nível do corno posterior da medula espinhal (CPME), bem como em diversas áreas do Sistema Nervoso Central (SNC), como o córtex frontal e o sistema límbico, ativando o mecanismo supressor da dor.
Outro provável mecanismo envolvido na diminuição da dor é a inativação de pontos-gatilhos (miofasciais) ou Trigger Points (TrP), característica da Síndrome Dolorosa Miofascial (SDM), e que estão presentes na grande maioria dos casos de dor ortopédica, sejam elas agudas ou crônicas, sendo responsável muitas vezes pela perpetuação da dor de nossos pacientes. Frente a esse fato, usamos a acupuntura para duas finalidades:
- Auxílio no diagnóstico diferencial, nas cervicobraquialgias ou lombociatalgias, nas quais, algumas vezes, o padrão de dor irradiada de um Trigger Point (TrP) pode mimetizar uma radiculopatia.
- Complemento ao tratamento conservador, tendo em vista a alta eficácia no tratamento da dor, possibilitando uma reabilitação mais rápida e eficiente dos pacientes.
*Médico ortopedista e acupunturista, presidente do Colégio Médico de Acupuntura de São Paulo, ex-presidente da Comissão de Dor da SBOT e vice- supervisor do Programa de Residência Médica em Acupuntura do Hospital das Clínicas da FMUSP
Acesse a versão digital da Ser Médico na íntegra.