CAPA
PÁGINA 1
Nesta edição
PÁGINAS 5, 6, 7,8 E 9
Entrevista
PÁGINAS 10 E 11
Crônica
PÁGINAS 12, 13, 14, 15, 16 E 17
Dossiê: Psiquiatria/ História
PÁGINAS 18, 19, 20 E 21
Dossiê: Psiquiatria/ Estatísticas
PÁGINAS 22, 23, 24 E 25
Dossiê: Psiquiatria/ Transtornos do Humor
PÁGINAS 26, 27 E 28
Dossiê: Psiquiatria/ Suicídio
PÁGINAS 29, 30 E 31
Dossiê: Psiquiatria/ Vanguarda
PÁGINAS 32 E 33
Tecnologia - Telemedicina
PÁGINAS 34 E 35
Medicina no mundo
PÁGINAS 36, 37 E 38
Hobby
PÁGINAS 39, 40, 41 E 42
Agenda Cultural
PÁGINAS 43, 44, 45 E 46
Gourmet
PÁGINA 47
Resenha
PÁGINA 48
Fotopoesia
GALERIA DE FOTOS
PÁGINA 48
Fotopoesia
Ode triunfal
(...)
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
(...)
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
*Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa.
Insônia
(...)
Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo —;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo —;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.
Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.
(...)
Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstração de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê...
*Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, in “Poemas”