Estava fazendo uma cirurgia, quando um colega entrou em minha sala. Ele comentou a respeito de um paciente seu, que havia realizado uma cirurgia cuja cicatriz tinha ficado hipertrófica. Indicou alguns dermatologistas para avaliação e foi surpreendido, no retorno, com o comentário da mãe de seu paciente. Ela veio tirar satisfações, pois o dermatologista tinha relatado que o paciente havia ficado com aquela cicatriz porque o cirurgião tinha apertado muito os pontos da pele.
Analisem a situação e sintam como um comentário, ou mesmo uma afirmação, pode induzir o paciente a diminuir ou até perder a confiança em seu médico assistente, que realizou um ato cirúrgico ou clínico.
Vários são os motivos para que um profissional de saúde faça esse tipo de comentário sobre procedimentos realizados por outro colega.
Entendo que essa atitude possa aumentar sua autoestima em relação ao outro profissional, se autopromovendo perante o paciente. Outras vezes, é por ter uma relação não amigável, querendo imputar-lhe algum erro em sua atuação. E, também, existe a possibilidade de simplesmente fazer um comentário sem conhecimento de causa, não imaginando o desdobramento que isso implicará.
Qualquer que seja o motivo, esses profissionais têm de ter em mente que estamos trabalhando com a fragilidade de um ser humano, que é a sua doença. E que qualquer comentário realizado pode causar impacto em sua estabilidade emo¬cional, podendo ocasionar vários transtornos no tratamento e, até mesmo, tomadas de atitudes em relação ao seu médico assistente. Esses comentários de servidores da saúde em seus atendimentos se transformam em motivos de denúncias a serem investigadas pelo Cremesp.
Entendo que, com o avanço tecnológico, científico e dos meios de comunicação de massa, devemos ser mais prudentes em nossas colocações, sempre pensando que, no futuro, poderemos estar do outro lado. Lembrando que é vedado acobertar erro ou conduta antiética de médico, devendo essa denúncia estar sempre baseada em literatura cientificamente comprovada e dentro dos protocolos de atendimento existentes atualmente.
Eduardo Luiz Bin é Conselheiro do Cremesp
Tags: cirurgia, ética, bioética.
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