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03-05-2016 |
Roberto Lotfi |
A interferência dos planos de saúde |
O atual modus operandi das operadoras da Saúde Suplementar brasileira é uma afronta à autonomia dos médicos e ao bom exercício da Medicina. Com olhar mercantilista e crescente falta de compromisso com a assistência de qualidade e com os pacientes, muitos planos pressionam profissionais a reduzir solicitações de exames essenciais e a antecipar altas ou não internar. Além disso, remuneram irrisoriamente as consultas e procedimentos, descontam dos médicos pedidos de exames que, sem nenhum critério ou conhecimento, acham desnecessários ou que ultrapassam malfadadas metas. Os próprios pacientes têm a percepção de que há algo de podre no reino da Saúde Suplementar. A pressão das empresas foi apontada por eles em pesquisa realizada pelo Datafolha, em 2015, encomendada pela Associação Paulista de Medicina: 68% dizem que existem dificuldades para a realização de procedimentos ou exames de maior custo. Pacientes vêm os médicos como a eles próprios: no papel de vítimas dos planos. E estão corretos. Diante de tal cenário, fica cada vez mais difícil assegurar uma investigação assertiva e tratamento de qualidade aos cidadãos. Os abusos de certas operadoras prejudicam, sobretudo, o usuário, a parte mais frágil, que sofre com a demora para a autorização de procedimentos, negativas de cobertura e a crescente burocracia. Passamos anos preparando-nos e atualizando-nos, a fim de prover um atendimento de primeira linha. Contudo, somos afrontados por empresas que visam somente ao lucro. De janeiro a fevereiro de 2016, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) registrou 2.238 reclamações contra planos de saúde em todo o Brasil. E a insatisfação se multiplica rapidamente. A ingerência nas decisões dos profissionais é inaceitável e deve ser coibida com rigor. É nossa responsabilidade exigir que sejam empregados todos os pontos receitados para a assistência, sem obstáculos a aplicações terapêuticas. Os médicos já enfrentam problemas graves em virtude da sub-remuneração. Os honorários pagos atualmente variam entre R$ 40 e R$ 77. Deduzidos impostos e despesas de consultório, como manutenção e funcionários, sobra quase nada. Por isso, muitos são obrigados a acumular vários trabalhos, exercendo carga horária extensa, desumana. É imprescindível o alinhamento de interesses entre os profissionais de Medicina e os planos, considerando que o objetivo, quando se fala em saúde, deve ser um só: cuidar dos pacientes com dignidade nos momentos em que se encontram mais vulneráveis. Roberto Lotfi é diretor 1º tesoureiro do Cremesp |