“A resistência ao Exame do Cremesp está se convertendo em um instrumento de autocrítica e transformação”
Recebemos com otimismo a participação dos sextanistas de Medicina no Exame do Cremesp, no dia 3 de novembro. Neste ano, 97% dos egressos de cursos de Medicina do Estado de São Paulo realizaram a prova, em uma demonstração de que os futuros profissionais estão conscientes da importância de mensurar a qualidade do ensino médico.
Obrigatório desde 2012 para a obtenção de registro no Cremesp, o Exame vem se firmando, a cada edição, como um importante instrumento de avaliação externa dos cursos de Medicina. Mesmo quando tinha caráter experimental e a participação era voluntária — entre os anos de 2005 e 2011 — foi possível diagnosticar sérios problemas na formação médica do Estado. Ao longo de sete anos, os resultados foram preocupantes, com a reprovação de quase 50% dos 4.821 alunos do sexto ano que se submeteram à prova.
A iniciativa, pioneira e arrojada, encontrou obstáculos e resistência das instituições de ensino e dos próprios formandos, mas teve, desde o início, forte apoio da sociedade e de formadores de opinião. A resistência à avaliação está se convertendo em um instrumento de autocrítica e transformação, um balizador que pode ajudar a direcionar as mudanças necessárias e urgentes no âmbito do ensino médico.
Para o Cremesp, a concepção de um instrumento que permite avaliar a qualidade não significou apontar erros ou classificar os cursos de Medicina entre bons e ruins, mas uma medida oportuna de observação e análise. A proliferação desenfreada de escolas de Medicina, ocorrida no País nos últimos dez anos, resultou em um aumento considerável de profissionais lançados ao mercado sem a devida capacitação técnica que a assistência à Saúde exige.
Esse crescimento desenfreado de escolas – no total de 202 no País, das quais 116 são privadas – não foi acompanhado do imprescindível para a boa formação médica: a criação de vagas na Residência Médica e de hospitais-escolas para estágio prático, condições indispensáveis para a capacitação profissional.
O Cremesp, como instituição reguladora e fiscalizadora do exercício da Medicina, tem, inclusive, o dever de proteger a sociedade e prevenir seus médicos, para que futuramente não tenham de responder a processos éticos decorrentes da baixa qualidade da formação profissional.
Ladislau Rosa é o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo
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