

CAPA

EDITORIAL (pág. 2)
Mauro Aranha - Presidente do Cremesp

ENTREVISTA (pág. 3)
Wilson Pollara

INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág. 4)
Hospital do Homem é referência na rede pública em doenças do rim e próstata

ALERTAS ÉTICOS (pág. 5)
Serviço que expunha profissionais que atrasavam consultas é retirado do ar

SAÚDE PÚBLICA (pág. 6)
Febre amarela

PERÍCIA (pág. 7)
Cremesp orienta médicos sobre curatela a pacientes com doenças mentais graves

DEMOGRAFIA MÉDICA PAULISTA (págs. 8 e 9)
Número de médicos em SP cresce mais do que o da população em geral

TRABALHO (pág. 10)
Cremesp intensifica fiscalização de hospitais públicos do Interior

EVENTOS (pág. 11)
Agenda

EU, MÉDICO (pág. 12)
Dermatologista é referência no atendimento de pele negra

CÓDIGO DE PROCESSO ÉTICO (pág. 13)
Novas regras darão mais agilidade aos trâmites judicantes

EDITAIS (Pág. 14)
Convocações

BIOÉTICA (pág. 15)
Divulgação de dados de pacientes

GALERIA DE FOTOS

EDITORIAL (pág. 2)
Mauro Aranha - Presidente do Cremesp
Os números e as palavras
Se me fosse dado, de forma irrecusável, escolher entre números e palavras, escolheria as palavras. Ainda que números signifiquem inequívocas quantificações, e as palavras pequem pela exatidão e uniformidade de sentidos, são estas que estruturam arrazoados que intentam esclarecer os conjuntos e contextos em que aqueles nos são postos.
Vejam alguns dados presentes nesta edição do Jornal do Cremesp.
A recém-lançada Demografia Médica do Estado de São Paulo aponta que somos 2,79 médicos por mil habitantes, numericamente próximos à Inglaterra (2,8/1000) e ao Canadá (2,4/1000). Na metrópole paulistana somos 4,58 médicos por mil habitantes. Pergunto: temos oferta em serviços de saúde melhor ou equivalente à dos países citados? A distribuição de nossos médicos, em face do território, obedece ao critério de equidade? Quantos, em que condições de trabalho, e com que resolutividade, na região da Avenida Paulista, e quantos nos confins da zona leste e zona sul da Capital?
Capital cujo novo secretário de Saúde anuncia, em outra matéria, o agendamento, em 90 dias, da totalidade residual de exames complementares prescritos por médicos da esfera pública, a serem realizados em 43 hospitais privados. Melhor do que nada (digo sem ironia), mas longe de significar uma solução sistêmica para a grave desassistência médica por que passamos (tão bem retratada na edição anterior do JC).
Estendendo um pouco mais a reflexão sobre a preferência entre números e palavras, no início deste fevereiro, em rede social, alguns poucos médicos supostamente teriam violado o sigilo médico (Artigo 73 do Código de Ética Médica) relativo à internação e doença de pessoa pública, e, outros, ferido a dignidade da mesma (Artigo 23), ao insinuarem que nada fos-
se feito para salvá-la. Serão sindicados por esta Casa. Numericamente, pouquíssimos médicos. Mas, a que custo para os circundantes da pessoa inconsciente que sofre? A que custo para a imagem da Medicina brasileira? E para a esperança dos que trabalham e vivem por um País solidário e melhor?
Se números, no mais das vezes, encobrem a verdade quando em contextos ou enunciados de palavras vãs ou enganosas, prefiro a transparência e a evidência dos grandes gestos. A inequivocidade dos gestos que aproximam pessoas, que lhes promovem direitos, que lhes confortem os sofrimentos. Tudo o mais é duvidoso. E, como bem resumia o velho bardo, o resto é silêncio.
Mauro Gomes Aranha de Lima
Presidente do Cremesp
Opinião
SUS: gestão e produtividade
Nacime Salomão Mansur - Conselheiro do Cremesp
Dos determinantes sociais da saúde, apenas 10% do risco de morte são relativos ao sistema de Saúde e 20% aos aspectos biológicos da pessoa. O restante refere-se a estilo de vida e ao meio ambiente. As desigualdades sociais também produzem reflexos no SUS. Portanto, a responsabilidade sobre a saúde da população é também de toda sociedade e de cada indivíduo.
A ausência de um adequado modelo de atenção, aliada à cultura de uma sociedade altamente medicalizada, provoca uma valorização excessiva de médicos especialistas, em detrimento da atenção básica, superlotando PSs e serviços de diagnóstico, e incorporando tecnologias sem critérios. A judicialização da saúde também onera o sistema público. O SUS é subfinanciado e precisamos continuar lutando por mais verbas, mas é preciso, também, garantir ganhos de produtividade com os recursos que temos.
Neste cenário é fundamental a gestão do sistema, a regulação, redefinição do sistema de urgência/emergência, aumentos de produtividade com diminuição de desperdícios; ganhos de escala com efetiva regionalização e melhor gerência, com eficiência e eficácia, particularmente na governança clínica; e qualidade assistencial dos hospitais. A produtividade está intimamente ligada à formação dos profissionais, principalmente os médicos, que devem ter sólida consistência técnica e ética.
Necessário, também, criar sinergia entre o público e o privado, lucrativo ou não, a exemplo das parcerias entre o Estado de SP e entidades filantrópicas. Por meio das Organizações Sociais (OSs) ganha-se capacidade gerencial, pois elas têm mais liberdade de contratar, administrar e gerenciar. Não é Estado mínimo, neoliberal, como muitos criticam. Ao contrário, com órgãos de controle e o controle social, o Estado fica mais forte porque ganha governabilidade, capacidade de regulação e implementação de políticas públicas. A parceria com o terceiro setor sadio pode ajudar na construção de uma sociedade mais plural, mais democrática e justa.