SM_90_FINAL_COMPLETA
ED I TOR I AL 24 • SER MÉDICO DOS S I Ê : | EM FOCO Mônica Bannwart Mendes, Camila Bonfanti Baima e Patrícia Maria Sales Polla* Aspectos clínicos infecção pelo novo corona- vírus, o SARS-CoV-2, desen- cadeia quadro clínico seme- lhante à pneumonia viral, podendo apresentar-se com febre, tosse seca ou com expectoração, mial- gia, fadiga, anorexia, dispneia, dor de garganta, espirros, coriza, ce- faleia, hemoptise, diarreia, vômi- tos, hipogeusia e hiposmia. Apesar de todos os sintomas anteriores poderem estar presentes, obser- va-se que os mais comuns são a febre, com incidência variável de 44-98% dos casos (sendo menos frequente na infecção inicial e mais comum nos casos mais gra- ves), tosse seca em 46-82%, mial- gia em 35% e dispneia em 20-64%. Há também vários trabalhos re- latando a presença de sintomas neurológicos, sendo os mais co- muns divididos em três subgru- pos, de acordo com a maior taxa de acometimento: 1) Sistema Ner- voso Central (SNC): cefaleia, ver- tigem/tontura, alteração da cons- ciência, ataxia, crises convulsivas, AVC isquêmico ou hemorrágico; 2) Sistema Nervoso Periférico: hi- posmia, hipogeusia e neuralgia; 3) Músculos Esqueléticos: fadiga e mialgia. As manifestações neu- rológicas mais prevalentes foram vertigem, cefaleia, hipogeusia e hiposmia. Estudos detectaram o ácido nucleico viral do novo coro- navírus no líquido cefalorraquidia- no desses pacientes, assim como no tecido cerebral de autópsias. Mediante tais achados, discutem- -se o neurotropismo e a neuroviru- lência do SARS-CoV-2. Sabe-se que o vírus tem predileção por células que expressem receptores da en- zima conversora da angiotensina-2 (ECA2). Estes receptores são ex- pressos em células do epitélio das vias aéreas, parênquima pulmonar, endotélio vascular, células renais, pequenas células do intestino e encéfalo, tanto em células da glia como em neurônios, o que parece ser um alvo fácil ao SARS-CoV-2. A Acredita-se que o acesso do vírus ao SNC possa ocorrer de duas for- mas, pela via hematogênica e por invasão direta, pela lâmina crivosa do osso etmoidal, através das célu- las do epitélio olfatório. Além disso, a contagem de linfócitos desses pacientes com sintomas neuroló- gicos era menor do que naqueles sem sintomas do SNC. Esse fenô- meno pode ser indicativo de imu- nossupressão em pacientes com Covid-19 com sintomas do SNC, especialmente no subgrupo grave. A infecção pelo SARS-CoV-2 ini- cialmente pode se apresentar de forma oligossintomática na maio- ria dos casos (cerca de 80%), com sintomas semelhantes ao de um resfriado comum. O maior pro- blema enfrentado na pandemia é o alto índice de disseminação (so- bre capacidade de contágio, se- gundo a Organização Mundial da Saúde, o R0 é atualmente de 2,79), superior à infecção pelo H1N1 (com R0 de 1,2), por exemplo. Por SER MÉDICO • 25 isso se instituiu o isolamento so- cial e afastamento compulsórios dos indivíduos com quaisquer sintomas respiratórios desde que o vírus foi detectado no Brasil. Na maioria dos trabalhos publi- cados, a média de dias de início de sintomas até a admissão hos- pitalar foi de 7 dias, com evolução rápida para insuficiência respira- tória a partir do 8º dia. Por isso, o isolamento domiciliar deve ser indicado sempre, e pacientes com sintomas mais exuberantes devem ser orientados a reconhe- cer os sinais de alarme. Ao lado segue o fluxograma de atendimento (Figura 1) de pacientes com síndrome gripal preconizado no Brasil. Idealmente, todos os pacien- tes com suspeição de infecção pelo SARS-CoV-2 deveriam ser testados por meio de coleta de swab nasofaríngeo para análise pelo método de RT-PCR (técnica de polymerase chain reaction em tempo real), e aqueles com resul- tado positivo deveriam ser orien- tados ao isolamento domiciliar. Como ainda é discutível o poder de disseminação de pessoas por- tadoras do SARS-CoV-2 assinto- máticas, no Brasil, assim como em outros países, optou-se, inicial- mente, por priorizar os testes aos pacientes sintomáticos. Porém, devido ao aumento da demanda e diminuição da oferta dos testes, somados à observação de trans- missão comunitária do vírus no FIGURA 1: Para crianças, considerar frequência respiratória de acordo com a faixa etária e outros sinais de desconforto, como tiragem intercostal, tiragem de fúrcula e batimento de asa nasal. *Síndrome gripal: quando o indivíduo apresenta qualquer um dos sintomas como coriza, febre, tosse, dispneia, dor de garganta, sem estar relacionado a patologia conhecida previa- mente por exame, como rinites e sinusites crônicas. **O Ministério da Saúde brasileiro orienta, atualmente, isolamento domiciliar por 14 dias, a partir do primeiro dia de sintoma, podendo ser revogado se houver comprovação de não infecção pelo Covid-19 ou por comprovação de clareamento viral em swab de vigilância (não disponível pelo Sistema Único de Saúde). ***Grupos de risco: pessoas com idade < 5 ou ≥ 60 anos, portadores de doenças crônicas (tais como hipertensão arterial, cardiopatias, diabetes, neoplasias), imunossuprimidos, portadores de tuberculose pulmonar, gestantes e puérperas e pacientes obesos.
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