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CAPA

PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Compromisso com a população e a classe médica


ENTREVISTA (pág. 4)
Ian Frazer


CRÔNICA (pág. 10)
Parece Mentira. Só que não...


CONJUNTURA (pág. 12)
"O oposto da paz é fanatismo e morte"


ESPECIAL (pág. 12)
Assistência à saúde atrás das grades


EM FOCO (pág. 22)
Lítio e neuroproteção


SINTONIA (pág. 27)
Pet terapia


GIRAMUNDO (pág. 30)
Arte, genética e ciência


PONTO COM (Pág. 32)
Mundo digital e tecnologia científica


HOBBY (pág. 34)
Adriano Segal


GOURMET (Pág. 38)
Tadeu Franconieri


CULTURA (pág. 42)
Aralquém Alcântara


CARTAS & NOTAS (pág. 47)
Cremesp reivindica mais investimentos na Saúde


FOTOPOESIA (pág. 48)
No circo


GALERIA DE FOTOS


Edição 80 - Julho/Agosto/Setembro de 2017

CULTURA (pág. 42)

Aralquém Alcântara

ARAQUÉM ALCÂNTARA

Aquele que enxerga no escuro

 

             

 

“Meu trabalho é a crônica da beleza e do extermínio. Retratos de um país que, breve, não veremos mais. Coleciono rostos, paisagens, movimentos, brilhos, com a esperança de que não estarão condenados a viver apenas na memória e no papel. Cada imagem que capturo conduz à fé de que a natureza e o homem humilde do sertão e das matas resistirão, apesar de tanta invasão, inconsciência, devastação e morte. O genocídio dos povos primitivos, a miséria, a violentação impune dos ecossistemas, de um lado; de outro, a fertilização imensa deste País amazônico, verdadeira sinfonia de belezas. Meu canto é cumplicidade e reverência. Minha fotografia é oxigênio.”

 

Quando jovem, Araquém Alcântara sonhava tornar-se jornalista ou escritor. Chegou a começar o curso de jornalismo na Faculdade de Comunicação de Santos, em 1970. Mas a fotografia e suas peculiaridades ganharam espaço em sua vida após assistir ao filme A Ilha Nua, de Kaneto Shindo, em uma mostra de cinema. As imagens de um casal que vivia com os dois filhos em uma ilha inóspita, e sua relação com a natureza, atraíram o fotógrafo para os diversos ângulos e formas das imagens. No dia seguinte, lá estava ele fotografando com uma velha Yashica emprestada.

A decisão de trocar os livros de grandes nomes da literatura, como Machado de Assis e Guimarães Rosa, pelos dos reconhecidos fotógrafos Cartier Bresson e Werner Bischoff, entre outros, veio naturalmente. “As palavras já não bastavam, gaguejava nelas, precisava de algo a mais para me expressar”, diz ele.

Desde então, tem se expressado tão bem que se tornou um dos grandes nomes da fotografia no Brasil. Aos 66 anos, é reconhecido pela qualidade de sua documentação fotográfica da natureza e do povo brasileiro, desde os anos 1970. A consagração veio com o livro Terra Brasil – publicação fotográfica mais vendida no País. Lançado em 1998, a obra retrata a herança ambiental brasileira, seu esplendor e extermínio. Para fotografar todos os 36 parques ecológicos brasileiros – tal como o fotógrafo estadunidense Ansel Adams fez com os parques nacionais dos Estados Unidos na década de 1940 – foram necessários 11 anos de esforços, conhecendo os biomas brasileiros e transitando pela Amazônia. Atualmente, em sua 12ª edição, o livro já ultrapassou os 80 mil volumes comercializados, e continua sendo referência do estilo fotográfico.

Ao todo, Araquém tem mais de 50 livros publicados, 22 em coautoria, cinco prêmios internacionais e 32 nacionais, 75 exposições individuais, além de inúmeros ensaios e reportagens para jornais e revistas brasileiras e estrangeiras. Também produziu uma edição especial para a National Geographic Society, denominada “Bichos do Brasil”.

Além dos livros e prêmios, suas fotos chegaram a inúmeros acervos de vários museus, e galerias nacionais e internacionais, como, por exemplo, o Museu do Café, em Kobe (Japão); o Centro Cultural Georges Pompidou, em Paris (França); o Museu Britânico, em Londres (Inglaterra); o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e o Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo.

 

Da natureza aos homens

Em parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo, para comemorar os 450 anos da cidade, Araquém produziu um livro, em 2004, mostrando, em 150 fotos, o mosaico urbano rico e múltiplo da capital paulista. As ruas do centro repletas de executivos apressados, os prédios históricos, os parques e áreas verdes, a arte: nada escapou às suas lentes.

No final de 2014, Araquém iniciou uma saga, percorrendo 38 cidades de 20 Estados, em um ano e três meses, buscando capturar a dimensão humana do projeto Mais Médicos, para além das questões políticas. Foram entrevistados mais de 40 médicos, suas equipes e as populações assistidas, a fim de conhecer a realidade do atendimento em diversas regiões. “Os problemas são muitos, mas também são reais o sorriso do paciente atendido em casa, o abraço do agente de saúde em uma criança, a abnegação do médico que sobe montanhas, atravessa rios e segue por estradas intransitáveis, com a missão de cumprir bem o seu ofício”, relata Araquém.

 

A primeira onça

Atualmente, ele atua como freelancer para periódicos nacionais e internacionais, dá palestras, promove workshops, administra a editora Terra Brasil e trabalha no novo livro, Jaguaratê, um ensaio sobre o habitat das onças e seu comportamento. A primeira delas ele fotografou em 1980 e, desde então, capturou com suas lentes inúmeras outras, em várias localidades do País.

O profundo contato com a natureza fez o fotógrafo ser considerado uma espécie de “xamã”. Segundo a Wikipedia, xamã é um termo de origem tungúsica e, nessa língua siberiana, quer dizer, “aquele que enxerga no escuro”. “O querer, sinceramente, criar e repartir belezas é tanto que a floresta te hospeda, e nesse hospedar há uma conexão”, revela.

Com a proposta de combater as ameaças ao ecossistema e priorizando a fotografia como expressão plástica e instrumento de transformação social, Araquém faz uma fotografia engajada e necessária, sendo conhecido, também, como um militante em defesa do patrimônio natural brasileiro. “Este País tem nome de árvore e está destruindo todas elas em nome da ganância e do imediatismo”, declarou durante um discurso. E concluiu: “Meu trabalho carrega consigo o anseio de salvar o que ainda pode ser salvo”.

 

Principais premiações

• Prêmio Dorothy Stang de Humanidade, Tecnologia e Natureza – categoria Humanidade, 2007;

• Prêmio Fernando Pini, de melhor livro de arte do ano, com a obra “Mar de Dentro”, 2007;

• Prêmio Jabuti para o livro “Amazônia”, na categoria Arquitetura e Urbanismo, Fotografia, Comunicação e Artes, 2006;

• Prêmio “Von Martius”da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha, categoria Natureza, 2002;

• Prêmio Abril de Jornalismo nos anos 1998, 2001 e 2010;

• Prêmio Aquisição da Coleção MASP-Pirelli em 1996;

• Prêmio Associação Paulista de Críticos de Artes – APCA, pela exposição “Saudade Moderna”, na reinauguração da Pinacoteca do Estado, em 1986; e o

•   Prêmio Unicef “Presença da Criança nas Américas”, Colômbia, 1981.


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