CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Mauro Gomes Aranha de Lima - Presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág. 4)
Peggy Cohen-Kettenis
CRÔNICA (pág. 10)
Tufik Bauab*
EM FOCO (pág. 12)
Informação científica
ESPECIAL (pág. 16)
Por que as cotas raciais são importantes? - Aureliano Biancarelli
CONJUNTURA (pág. 24)
Qualidade de vida
CARTAS E NOTAS (Pág. 27)
Cremesp facilita localização de pessoas desaparecidas
HISTÓRIA DA MEDICINA (Pág. 28)
Patrimônio histórico
GIRAMUNDO (Pág. 32 e 33)
Avanços da ciência
PONTO COM (Pág. 34 e 35)
Mundo digital & tecnologia científica
SINTONIA (Pág. 36)
Literatura & Medicina
TURISMO (págs. 40 a 43)
Aurora boreal
CULTURA (págs. 44 a 47)
O Rubaiyat de Omar Khayyam
FOTOPOESIA (pág. 48)
Ano Novo
GALERIA DE FOTOS
TURISMO (págs. 40 a 43)
Aurora boreal
A aurora que faz chorar
Muitos chegam a chorar de emoção quando veem a aurora boreal. Mas contemplá-la não é fácil. Além de espírito aventureiro e disposição para enfrentar o terrível frio dos confins do Hemisfério Norte, é preciso, também, contar com a sorte. Quando isso acontece, os turistas não economizam adjetivos. “A experiência de viver a aurora boreal – digo viver porque ‘ver’ é muito pouco para tamanho espetáculo – é um misto de emoções, sensações e vibrações praticamente inexplicáveis”, garante o médico Rafael Soneghet (ver box de depoimentos). Além do espetáculo belíssimo, é possível – com um pouco de imaginação – sentir-se em Júpiter, Saturno, Marte ou Vênus, já que nesses quatro planetas o fenômeno também acontece.
A aurora austral é tão bonita e extraordinária quanto a boreal, a diferença é que ocorre no Hemisfério Sul. Por isso, é quase impossível vê-la, pois na Antártida não há qualquer infraestrutura para turistas, somente bases de pesquisas científicas.
As cores e os movimentos das auroras podem ser vistos de formas variadas, como pontos de luz, semicircunferências, faixas horizontais ou círculos, que dançam no céu. Contudo, para vê-las bem, em toda sua intensidade, é preciso que a noite esteja a mais escura possível, longe das luzes de cidades. Se o céu estiver nublado, porém, nada feito. Será preciso aguardar outra noite e, mais uma vez, contar com a sorte, pois, mesmo em um céu escuro e aberto elas, podem – ou não – aparecer. Dessa dificuldade, originou-se, em todo o mundo, o termo “caçar auroras”.
A melhor época do ano para contemplar a aurora boreal no Hemisfério Norte vai do final de outubro ao final de março, ou seja, no período mais frio, quando as noites são muito longas. Nos países mais perto do Polo Norte, aliás, do final de novembro ao final de janeiro, o sol nem nasce e o frio é ainda mais intenso, mas as chances de ver a aurora são maiores. As dificuldades, contudo, aumentam a magia.
Valquírias
Muito antes das explicações científicas, a mitologia dos povos nórdicos dava explicações poéticas para o fenômeno. O escritor estadunidense Thomas Bulfinch (1796-1867) relata uma das lendas dos países escandinavos sobre a aurora boreal: “As Valquírias, virgens da guerra, montadas em cavalos e armadas com elmos e lanças. (...) Quando elas cavalgam adiante em sua mensagem, suas armaduras derramam uma luz estranha que bruxuleia, que acende por cima dos céus do Norte, fazendo o que os homens chamam aurora borealis, ou ‘Luzes do Norte’”.
Em estoniano, o fenômeno é chamado de virmalised, que pode ser traduzido para “espíritos dos altos reinos”. Outra lenda nórdica dizia que as auroras eram “relâmpagos de arenque”, pois se acreditava que fossem reflexos lançados por grandes cardumes desses peixes. Na mitologia, às vezes, a aurora boreal tem caráter positivo e, em outras, negativo.
A primeira citação relativa a ela foi encontrada no texto educacional norueguês Konungs Skuggsjá, de 1250. De lá para cá, a ciência, paulatinamente, foi tomando para si a tarefa de explicar o fenômeno. A primeira descrição, em 1621, coube ao astrônomo francês Pierre Gassendi. Por coincidência, no mesmo ano o astrônomo italiano Galileu Galilei também começou uma investigação a respeito, ao estudar o movimento dos astros celestes. Foi ele que o batizou de aurora boreal, em homenagem à deusa romana do alvorecer, e seu filho Bóreas, que “rege os ventos do Norte”.
Muito depois, já no século 18, o navegador inglês James Cook contemplou uma aurora similar no Oceano Índico e, por isso, deu-lhe o nome de aurora austral. Na mesma época, pela primeira vez, o astrônomo britânico Edmond Halley suspeitou que essas auroras estivessem relacionadas ao campo magnético da Terra. Porém, apenas em 1957, o físico estadunidense Newman Parker concluiu que, sim, o fenômeno é causado pelo choque dos ventos solares (plasma) com partículas da atmosfera após o contato com o campo magnético da Terra. A teoria foi comprovada no ano seguinte pelo satélite Explorer I.
O “caçador” brasileiro
As “Luzes do Norte” emocionam quem as vê e há, até, quem se dedique a buscá-las de forma sistemática. Conhecido como “caçador de auroras boreais”, Marco Brotto revela que sua sensação inicial ao ver uma delas, pela primeira vez, foi medo. “Esse foi o sentimento que vivi por alguns milésimos de segundo enquanto olhava para aquela imensidão. Depois, das outras vezes, ficou a sensação incrível de contemplação”, conta. A primeira vez que a viu foi em 2011, durante uma viagem à Noruega, mas apenas na última noite da expedição. Antes, ele já tentara, inutilmente, vê-la no Alasca, em 2008, em uma viagem de cruzeiro pela região.
Marco Brotto, o "caçador de auroras" curitibano, sentiu medo nos primeiros segundos quando viu uma aurora boreal pela primeira vez
O hobby, aos poucos, transformou-se, em parte, em trabalho. Agora, ele é guia de expedições para buscar auroras boreais, embora tenha outras atividades em Curitiba, onde mora. Mas, reconhece, “é complicado lidar com a ansiedade e a possível frustração. Essa é a parte que me deixa preocupado, muitas vezes. Nem sempre a aurora do vizinho é mais verde!”, brinca. No pico do inverno, porém, ele não acompanha turistas, prefere ir sozinho. “É muito escuro e é muita responsabilidade ser guia de um grupo com temperaturas congelantes e sem luz natural”, pondera.
Brotto opina que todos os países nórdicos são boas opções para tentar ver o fenômeno. “Destacaria, em especial, a região da Lapônia (Finlândia /Noruega/Suécia e Rússia), os territórios do Norte canadense e o Alasca, além da Groenlândia e Islândia”, ressalta. O nome “caçador de auroras”, segundo ele, é “totalmente apropriado, já que realmente fazemos uma caçada atrás das luzes. É muito mais difícil do que se imagina!”, explica.
Para compartilhar sua experiência com todos aqueles que sonham contemplar o fenômeno, o curitibano criou o blog http://auroraboreal.blog.br. “Além de relatar minhas expedições, dou dicas e informações”, conta.
O “caçador” já fez mais de 20 expedições e percorreu todos os países do Círculo Polar Norte. E foi recompensado, viu a aurora boreal cerca de 150 vezes. Mesmo após tantas auroras, ele confessa que a sensação ainda é a mesma: “totalmente gratificante!”.
“É um misto de emoções e sensações inexplicáveis”
Por mais que eu ficasse horas tentando explicar o quão incrível foi essa noite, jamais chegaria ao menos perto da realidade. (…). Impossível não chorar, não tremer, não se arrepiar diante de tamanha beleza, de tamanha demonstração de que a natureza é, sim, perfeita. (…). Sem dúvida, a experiência de viver a aurora boreal – digo viver porque ‘ver’ é pouco para tamanho espetáculo – é um misto de emoções, sensações e vibrações praticamente inexplicáveis. A experiência de estar ali, no frio, no meio da neve, assistindo a um dos mais incríveis fenômenos da natureza é algo único. Cada aurora é diferente, cada experiência é um novo jorro de emoções. Tive a oportunidade de ver a aurora em alguns lugares, mas nenhuma foi como a primeira.
(Rafael Soneghet, clínico geral, e médico de família pela prefeitura de Guarulhos, mora em São Paulo. A primeira vez que viu a aurora boreal foi em Tromso, na Noruega, e em Rovaniemi, na Finlândia, em janeiro de 2015; recentemente, vislumbrou-a também na Islândia e nas Ilhas Lofoten, na Noruega)
Ver a “dama da noite” dançando foi a coisa mais incrível! Em um primeiro momento paralisei, depois chorei (...) Verde, lilás… E o frio! Nem sentia. Com aquele céu magnífico não havia espaço para isso. (...) a sensação é muito particular, indescritível.
(Greta Nazario Viana – expedição à Lapônia, setembro de 2015)
As pessoas gritavam e choravam de euforia! (...) Confesso que chorei, chorei muito e várias vezes. (...) De repente o céu explodiu! Uma chuva feérica de luz e de cores dançava sobre a minha cabeça. Indescritível. Algo que fotografia alguma poderá captar. Algo que guardarei por toda a vida na minha mente e no meu coração.
(Eduardo Moreira – expedição à Finlândia, Noruega, Suécia e Rússia, setembro de 2014)
(Colaborou Ana Clara Scarabelli)