CAPA
PONTO DE PARTIDA (Pág. 1)
Mauro Gomes Aranha de Lima
ENTREVISTA (Pág. 4 a 9)
Maria Elizete Kunkel
CRONICA (Pág. 10 e 11)
Tati Bernardi*
SINTONIA (Pág. 12 a 15)
Literatura & Medicina
DEBATE (Pág. 16 a 22)
Diretivas Antecipadas de Vontade
LIVRO DE CABECEIRA (Pág. 23)
Caio Rosenthal*
EM FOCO (Pág. 24 a 27)
Rodolpho Telarolli Junior*
HISTÓRIA DA MEDICINA - (Pág. 28 a 31)
Edgard Roquette-Pinto
GIRAMUNDO (Pág. 32 e 33)
Avanços da ciência
PONTO COM - (Pág. 34 e 35)
Mundo digital & tecnologia científica
HOBBY (Pág. 36 a 39)
Médico & Fotógrafo
CULTURA (Pág. 40 a 43)
Cultura maia
TURISMO (Pág. 44 a 47)
Uma viagem à capital tcheca
FOTOPOESIA (Pág. 48)
Guilherme de Almeida
GALERIA DE FOTOS
LIVRO DE CABECEIRA (Pág. 23)
Caio Rosenthal*
O homem que amava os cachorros
Para quem gosta de história, prato cheio.
Para quem gosta de uma boa trama policial,
é aqui mesmo. Para quem gosta de um
bom livro, nem se fala
Leonardo Padura, o autor, é cubano, nascido em 1955, e um dos maiores expoentes da literatura mundial contemporânea. Com estilo investigativo profundo, não se limita apenas em narrar os fatos. Detalhista, descreve locais e pessoas com rara intensidade e leva o leitor a viajar e não querer voltar. De tal modo traça as características dos seus personagens que parece ter convivido com eles íntima e familiarmente.
Resumidamente, o livro – publicado em 2013 – descreve o longo preparativo para o assassinato de Liev Davidovitch Bronstein, também conhecido como Leon Trotsky, o intelectual da Revolução Russa de 1917, e chefe do poderoso Exército Vermelho. O fio condutor é o exílio de Trotsky, desde sua saída da União Soviética até a chegada ao México, passando pela Turquia e Noruega.
Quem diria que poderíamos chegar tão próximo desses atores que traçaram os rumos da história da União Soviética e do século 20? Somos também premiados com passagens que nos remetem à Guerra Civil Espanhola e, de carona, também com a dura e árida realidade de Cuba entre as décadas de 1970 e 2000.
A narrativa intercala idas e vindas em longos capítulos que, às vezes, de tão recheados de emoções, nos faz pensar que o autor perdeu o rumo, mas é justamente esse vai e vem que faz o suspense crescer e nos obriga a ficar grudados no livro, atônitos, ansiosos e, sobretudo, curiosos em relação a como será o final de vida de cada personagem.
A minuciosa descrição do treinamento do enigmático Rámon Mercader, o homem que empunhou uma tosca picareta para matar Trotsky, ganha um retrato tão rico – passando por sua freudiana relação com a mãe militante na Espanha –, que sua mudança de identidade, a vida dupla que passa a assumir como o assassino mais treinado da história e disciplinado membro do Partido Comunista, sempre comandado nos bastidores pela mão pesada de Stalin, por si já dariam uma riquíssima biografia. Seu fim melancólico é descrito com tanta riqueza de detalhes que revela ainda mais a pluralidade literária do autor.
Entramos também na intimidade dos Trotsky: sua família, sua dedicada esposa, seus filhos, suas doenças, sua habilidade intelectual, sua influência mundial como eterno líder revolucionário (IV Internacional) e, como o seu algoz, o amor que tinha pelos cachorros.
A conturbada relação com o casal Frida Khalo e Diego Rivera, com quem conviveu durante seu longo exílio no México, é mais um presente para o leitor. Um livro dentro do outro.
Enfim, o livro é, ao mesmo tempo, suspense-policial (até o último golpe da picareta), didático e contagiante.
*Caio Rosenthal é conselheiro do Cremesp e médico infectologista.