Educação surreal

As fotos de Claudia Martini foram expostas no
Memorial da Procuradoria Geral da República,
em Brasília, em abril de 2014.
Mas é possível vê-las no site www.claudia.martini.com
 

A extraordinária foto da capa desta edição da Ser Médico e a foto acima, de autoria de Claudia Martini, fazem parte da documentação fotográfica que integra o Projeto Ministério Público pela Educação (MPEduc), parceria entre o Ministério Público Federal e os Estaduais, objetivando estabelecer o direito à educação básica de qualidade para os brasileiros. Coleta de informações, realização de audiências públicas, análise de questionários e visitas às escolas por procuradores e promotores estão sendo realizadas para diagnosticar as condições das escolas públicas de ensino básico, permitindo uma atuação do MP junto aos gestores públicos. O projeto é coordenado nacionalmente pela procuradora federal Maria Cristina Manella Cordeiro.

Com base no diagnóstico obtido, o MPEduc encaminha recomendações aos gestores públicos para que sejam tomadas  providências objetivando sanar as irregularidades encontradas, com prazo estipulado. Após o término deste, a instituição realiza nova audiência pública para informar a sociedade sobre os trabalhos desenvolvidos e as providências adotadas ou não pelos gestores.

Fotos que emocionam

Para retratar as condições físicas das escolas públicas nos sete municípios pilotos do MPEduc – Seropédica e Vassouras (RJ), Santana do Mundaú (AL), Novo Repartimento (PA), Cocalzinho (GO), Alto Alegre (RR) e Oiapoque (AM) – foi convidada a fotógrafa Claudia Martini. Ela viajou durante cinco meses, entre 2013 e 2014, fotografando as escolas com o menor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). “O que vi foi surreal. Me emocionei inúmeras vezes ao clicar...”, relata Claudia.

“O que falar para uma professora que, diariamente, retira o ‘quadro negro’ da parede para que os cupins não o devorem de vez?... O que falar para uma criança que pede um banheiro para sua escola porque tem medo de andar no mato e usar uma latrina? O que falar para uma mãe que diz que seu filho sente fome e que a escola oferece merenda somente alguns dias no mês? Para uma professora que faz as necessidades fisiológicas no mato, atrás da escola, porque a água foi cortada pelo dono da terra e a Secretaria de Educação não tomou providências? Para as crianças que não têm um mobiliário adequado e saber que mesas e carteiras estão estocadas no galpão da Prefeitura há meses?... O que falar para os alunos que dividem um livro didático, enquanto no galpão da Secretaria de Educação os livros são tratados como lixo?... O que falar?”, emociona-se a fotógrafa, desejando que suas fotos “façam parte de um passado”.