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PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Bráulio Luna Filho - Presidente do Cremesp


ENTREVISTA (pág. 4)
Kátia Maia - diretora da Oxfam Brasil


CRÔNICA (pág. 10)
Lusa Silvestre*


ESPECIAL (pág. 12)
Médico humanista - Aureliano Biancarelli


SINTONIA (pág. 19)
Medicina translacional


EM FOCO (pág. 22)
Complexo Industrial-militar, por Isac Jorge Filho*


CARA NOVA (pág. 25)
Nova Ser Médico


MÉDICOS NO MUNDO (pág. 26)
Ana Letícia Nery


GIRAMUNDO (pág. 30)
Medicina & Ciência


PONTO.COM (pág. 32)
Mundo digital & Tecnologia científica


HISTÓRIA DA MEDICINA (pág.34)
Das Misturas e Poderes das Drogas Simples


LIVRO DE CABECEIRA (pág. 37)
Antonio Pereira Filho*


CULTURA (pág. 38)
Histórias de vidas anônimas


TURISMO (pág. 42)
Turquia/Curdistão


CARTAS & NOTAS (pág. 47)
Espaço dos leitores


FOTOPOESIA (pág. 48)
Mensagem de Ano Novo


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Edição 73 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2015

SINTONIA (pág. 19)

Medicina translacional

 

Do laboratório ao paciente

Centro de Estudos da Unesp dedica-se a pesquisas de venenos e animais peçonhentos que começam nas ciências básicas e vão até a produção de medicamentos

 

Tudo começou quando, em um plantão no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, o médico Benedito Barraviera atendeu um paciente que havia sido picado por uma cascavel. Durante a infusão do soro, a vítima evoluiu para choque anafilático com edema de glote e insuficiência respiratória. Para salvá-lo, o médico teve de realizar uma traqueostomia de urgência – feita apenas com um bisturi, sem qualquer anestesia, pois não havia cirurgião disponível no plantão. Salvou-o.  Todavia, dias depois, o homem faleceu em decorrência de uma insuficiência renal e hepática.

O caso levou Barraviera a estudar o porquê de certos pacientes evoluírem para lesão no fígado, após picada de cascavel, pesquisa essa que levantou informações essenciais para o desenvolvimento do selante de fibrina, um dos principais projetos do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Cevap-Unesp), que se destaca por manter pesquisas de cunho translacional no País há mais de 20 anos.

Conectar o que se pensa no laboratório ao que se aplica na prática clínica é a maior característica da chamada medicina translacional, que desenvolve pesquisas realizadas na ciência básica, a fim de produzir tratamentos viáveis. A recente área está cada vez mais em voga, principalmente na produção de novos fármacos. No Brasil, é no Cevap que se realizam algumas dessas pesquisas.

Um de seus fundadores, Barraviera é também professor titular do Departamento de Doenças Tropicais e Diagnóstico por Imagem da Faculdade de Medicina do Campus de Botucatu. Desde o início do projeto – com o embrião do que viria a ser o Cevap, um serpentário, constituído por meio da união de um grupo multidisciplinar com pesquisadores das unidades da Universidade de Botucatu, Rio Claro e Araraquara – já se sabia que esse seria um espaço para ciência translacional. “A gente queria, a partir das toxinas animais, produzir medicamentos. Naquele tempo não usávamos esse termo, mas a maneira como pesquisávamos sempre foi translacional”, diz.


A criação do Centro foi oficializada pelo Conselho Universitário da Unesp em 1993, e o primeiro projeto de ciência translacional realizado foi o do selante heterólogo de fibrina, que poderá ser usado na cicatrização de feridas venosas crônicas e já tem a fase de testes autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).

É importante lembrar que pode haver um longo tempo entre uma descoberta no laboratório e o desenvolvimento de um insumo – de 15 a 25 anos, em média –, muito dele gasto com protocolos e testes pré-clínicos, para que o produto possa ser registrado e distribuído.


Benedito Barraviera e o selante de fibrina, um dos principais
projetos da Unesp

 

Soro antiapílico

Ao longo de 2014, ocorreram 12.660 mil casos e 34 mortes por ataque de abelhas africanizadas no País, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Esses acidentes aumentam durante o verão, com as altas temperaturas e os temporais, e seus números podem ser ainda maiores, pois não são de notificação obrigatória. É pensando nesse cenário que o Cevap desenvolveu, como um dos principais projetos de pesquisa, o soro antiapílico, antiveneno contra picadas de abelhas africanizadas, produto inédito, que já tem os ensaios clínicos aprovados pela Conep e aguarda autorização da Anvisa para iniciá-los.

As pesquisas do soro partiram do ex-aluno de pós-graduação, Rui Seabra Ferreira Júnior, hoje coordenador do Cevap, e já duram, pelo menos, 15 anos. O desenvolvimento do produto se deu em parceria com o Instituto Vital Brazil, localizado em Niterói, no Rio de Janeiro.

Estudos como os do selante de fibrina e do soro antiapílico receberam apoio do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit) do Ministério da Saúde, que vem incentivando o desenvolvimento e a produção de insumos estratégicos para o Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo Barraviera, é importante que se estimulem a investigação e o desenvolvimento de soluções para as doenças negligenciadas, pelos pesquisadores do próprio País, pois elas não despertam o interesse da indústria farmacêutica.

“Esse tipo de investimento é muito interessante e essencial para a geração de insumos e formação de cientistas para a solução de problemas nacionais. Temos muitas doenças negligenciadas. Não espere que a indústria farmacêutica vá resolver isso, não vai. São os pesquisadores do País que poderão e deverão fazê-lo”, diz Barraviera.

Com a ascensão da ciência translacional, a organização da política de pesquisa em saúde tem sido alterada pelo mundo. No Brasil, em 2004, foi aprovada pelo Congresso Nacional a Lei 10.973, primeira no País a abordar o relacionamento entre as instituições de pesquisa e a indústria, que trata dos incentivos à inovação e à pesquisa cientifica e tecnológica. Ela dispôs que toda instituição de pesquisa, seja pública ou privada, tem que estabelecer um escritório de inovação e transferência de tecnologia. Na prática, eles funcionam como “vitrines” para as descobertas, que podem ser transferidas a empresas para acabamento final e comercialização.

Todavia, o professor lembra que esperar a indústria conduzir todos os detalhes depois de  uma descoberta é um erro, assim como acreditar  que haverá um desinteresse pela ciência básica se a “molécula candidata” funcionar e  passar a ser usada em pacientes, receio de  muitos pesquisadores. “Existe a cultura entre os  pesquisadores brasileiros de se descobrir algo e,  com isso, manter-se em evidência, sustentando  o apoio financeiro junto às agências de fomento.  Na imensa maioria das vezes, o pesquisador  descobre, mas não desenvolve. Deveria haver  um grupo de cientistas que fizesse essa translação  entre a bancada e o paciente. Muitas vezes,  o pesquisador da ciência básica acha que, se  ele ceder o produto para o desenvolvimento,  vai perdê-lo. Não perde, pois há a lei de patente,  que lhe dá segurança. Além disso, durante a  translação da molécula candidata muita pesquisa básica será necessária”, afirma Barraviera. “Desenvolver medicamentos no Brasil é altamente desejável e possível, mas haverá necessidade de muita paciência e persistência para se vencer a cultura burocrática, além de investimentos públicos focados em temas estratégicos para o país”, conclui.


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