CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág.1)
Bráulio Luna Filho
ENTREVISTA (págs. 4 a 9)
José Cláudio Casali da Rocha
CRÔNICA (págs. 10 a 11)
Antonio Prata*
EM FOCO (págs. 12 a 15)
Lygia da Veiga Pereira
ESPECIAL (Pág. 16 a 29)
Ditadura (1964-1985)
GIRAMUNDO (págs. 30 a 31)
Medicina & Ciência
PONTO.COM (págs. 32 a 33)
Ciência no mundo digital
SINTONIA (págs. 34 a 37)
Emocional x Profissional
CULTURA (págs. 38 a 42)
Africa Africans
CARTAS & NOTAS (pág. 43)
Espaço dos leitores
GOURMET (Pág. 44 a 47)
Pão caseiro
FOTOPOESIA (pág. 48)
Alex Polari
GALERIA DE FOTOS
FOTOPOESIA (pág. 48)
Alex Polari
Os primeiros tempos da tortura
Não era mole aqueles dias
de percorrer de capuz
a distância da cela
à câmara de tortura
e nela ser capaz de dar urros
tão feios como nunca ouvi.
Havia dias que as piruetas no pau-de-arara
pareciam rídiculas e humilhantes
e nus, ainda éramos capazes de corar
ante as piadas sádicas dos carrascos.
Havia dias em que todas as perspectivas
eram prá lá de negras
e todas as expectativas
se resumiam à esperança algo céticas
de não tomar porradas nem choques elétricos.
Havia outros momentos
em que as horas se consumiam
à espera do ferrolho da porta que conduzia
às mãos dos especialistas
em nossa agonia.
Houve ainda períodos
em que a única preocupação possível
era ter papel higiênico
comer alguma coisa com algum talher
saber o nome do carcereiro de dia
ficar na expectativa da primeira visita
o que valia como uma aval da vida
um carimbo de sobrevivente
e um status de prisioneiro político.
Depois a situação foi melhorando
e foi possível até sofrer
ter angústia, ler
amar, ter ciúmes
e todas essas outras bobagens amenas
que aí fora reputamos
como experiências cruciais.
Alex Polari, em Inventário de cicatrizes