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CAPA

PONTO DE PARTIDA (pág.1)
Bráulio Luna Filho


ENTREVISTA (págs. 4 a 9)
Göran Hansson


CRÔNICA (págs. 10 a 11)
Sady Ribeiro*


EM FOCO (págs. 12 a 15)
Oliver Sacks


DEBATE (págs.16 a 21)
Ética e Bioética


SINTONIA (págs. 22 a 24)
Tudo em excesso é veneno!


CARTAS & NOTAS (pág. 25)
Espaço dos leitores


DEPOIMENTO (págs. 26 a 29)
Por dentro de um CAPSad


GIRAMUNDO (págs. 30 a 31)
Curiosidades da Medicina


PONTO.COM (págs. 32 a 33)
Ciência no mundo digital


HISTÓRIA DA MEDICINA (págs. 34 a 37)
Stefan Cunha Ujvari*


CULTURA (págs. 38 a 42)
Coleção de arte


+CULTURA (págs. 42 a 43)
Galeano & Grass


TURISMO (págs. 44 a 47)
Ouro Preto e Diamantina


FOTOPOESIA (pág. 48)
Eduardo Galeano


GALERIA DE FOTOS


Edição 71 - Abril// de 2015

CULTURA (págs. 38 a 42)

Coleção de arte

Bom para a alma e para o bolso?

Marcelo Secaf*




 

               Visitas a galerias de arte e museus fazem parte do aprendizado para inicar uma coleção

 

Viajar não significa apenas conhecer geograficamente um lugar, mas a culinária, a cultura, a estética e todo o intangível da vida humana que coabita o mesmo momento no planeta. Sempre que estou viajando me pego observando pessoas nos museus e pensando: por que estão aqui? O que levou essa gente vir de tão longe e fazer o mesmo que eu? Embora tenham sido criados há não muito tempo, os museus exercem o mesmo fascínio em qualquer povo ou cultura por mais diferentes que sejam entre si. Qual a razão?

No passado, as cortes europeias usavam os retratos realizados por artistas para se imortalizar, mas também como maneira de mostrar dotes e beleza para pretendentes a uniões e casamentos entre a nobreza, para demonstração de riqueza e como propostas de amizade e alianças. A igreja usou a arte como chamariz de fiéis para catequizá-los com imagens de passagens bíblicas, dos costumes e pecados da época. Portador de grande poder e influência, o clero exercia seus interesses nas decisões dos artistas e encomendava trabalhos que atraíssem os fiéis aos seus domínios.

Quadros com detalhes minuciosos eram produzidos pelos artistas em seus ateliês, visando demonstrar técnicas elaboradas para possíveis clientes. Esses, no início, eram membros da nobreza e, posteriormente, mercadores, que assim se imortalizavam exibindo sinais de riqueza, poder e prosperidade.

A quantidade e a qualidade das pinturas e esculturas que os ricos possuíam eram sinais de poder e influência. Também na esfera científica, os “gabinetes de curiosidades” – ou “quartos das maravilhas” – dos séculos 16 e 17 nada mais eram do que coleções de objetos, animais, plantas etc. Muitos deles transformaram-se em salas de estudos de universidades e passaram a ser a base do ensino prático da época. Talvez tenham sido os precursores dos museus.


Exposição do escultor Ron Mueck, na Pinacoteca de S. Paulo


Obra exposta na Bienal de S. Paulo

 

Arte é instigante

Dentre as experiências às quais nos expomos ao longo da vida, a arte é uma das mais instigantes. Admirar uma obra-prima de um gênio em um museu, por exemplo, e entender o contexto, o momento e o motivo que levaram o artista a conceber aquele trabalho é uma das mais agradáveis sensações que podemos experimentar. Presenciar a performance de um artista contemporâneo, que pode vir a ser o início de uma geração ou movimento artístico revolucionário, é possível e será inesquecível.

A arte ainda tem o poder de perpetuar o momento vivido pelo artista, por meio da obra ou do documento fotográfico, acústico ou sensorial, que será experimentado por milhões de pessoas, contribuindo para a evolução natural do ser humano.

Ao adquirir um trabalho de um artista e exibi-lo, comprometemo-nos, mesmo que inconscientemente, a contribuir com uma rede de propagação de cultura, da qual participamos por diversos motivos. A continuidade desse processo de aquisição determina uma coleção de arte.

As coleções traduzem a alma do colecionador, seus interesses e as experiências às quais ele se expôs ao longo de um período, um momento ou uma fase da vida. E demonstram que, de alguma maneira, ele contribuiu para o aprimoramento dos seus próximos e com sua vivência como colecionador.

Esse movimento traz consigo o mercado, algo inevitável desde os primórdios da humanidade evoluída. Dispender uma soma de dinheiro ou fazer uma troca, um escambo e possuir um objeto de arte, para colocar em casa ou não, pode implicar um raciocínio lógico ou reflexivo no momento da compra do próximo trabalho, dando assim a característica da coleção.

Ouvi, certa vez, de um importante colecionador – indagado por uma jovem interessada sobre o que seria necessário para iniciar uma boa coleção de arte – a seguinte resposta: basta ter um caminhão cheio de dinheiro! Certamente é a maneira mais fácil. Porém, existem importantes coleções que foram feitas de maneira lenta e progressiva, sem muito custo, e que se tornaram célebres.

A principal característica de uma coleção de arte é a coerência. Contudo, as variantes são inúmeras, como fase das obras, motivo (natureza morta, por exemplo), época, tipo (escultura, pintura, desenho, fotografia etc.). Por isso, cabe ao colecionador definir o que mais o emociona. Mas tudo isso é mutável e amadurecido ao longo do tempo.


Quem imaginaria que as obrass do Bispo de Rosário, marginalizado e internado por 50 anos
em um hospital psiquiátrico, iriam se valorizar tanto? "A complexidade do mercado de arte
depende, às vezes, de fatores inantingíveis e inimagináveis"

 

Conheço um colecionador cujo único foco é ganhar dinheiro com a valorização dos trabalhos. Ele usa a arte como uma commodity, analisando os movimentos de aquisição dos museus, feiras de arte, revistas e jornais especializados, estudos curatoriais e exposições em galerias. Está, assim, sempre antenado e, geralmente, um passo à frente do mercado na avaliação do que pode se valorizar.
 

Como começar uma coleção

Para ser um colecionador, basta começar. Uma sugestão que costumo dar é procurar, primeiramente, o que agrada visualmente e ao coração, algo intuitivo e subjetivo. Porém, antes do impulso da compra é melhor fazer uma pesquisa sobre o artista. Pode fazer parte do aprendizado evolutivo ir a museus, galerias ou mesmo buscas na internet.

A galeria de arte se propõe, ao vender uma obra, a dar seu aval ao artista. Ela o acompanha e conhece seus interesses e motivos, cujos resultados levarão, futura e provavelmente, ao reconhecimento dele por uma massa crítica que orbita nessa área, o que o tornará valorizado e apreciado.

Por isso, sugiro procurar uma galeria de arte ou uma consultoria, quando o interesse em colecionar, ou errar menos, fizer sentido. O consultor ou art advisor faz o trabalho que um leigo poderia levar muito tempo para conseguir igualar, se houver confiança nele, concordância com os seus argumentos e afinidade emocional em relação a um trabalho artístico.

Existem boas obras de arte que podem ser adquiridas no mercado, cujo universo é enorme. Entretanto, as de artistas conhecidos e disputados podem custar o “olho da cara”. Felizmente, para um colecionador iniciante, elas são minoria. Existe arte também muito boa a preços acessíveis. Claro que, dentro de todo o contexto descrito anteriormente, estamos falando, atualmente, de algo em torno de US$ 5 mil para um trabalho que possa vir a ser valorizado significativamente em um prazo de cinco a dez anos. Sim, o tempo de maturação e valorização da arte costuma ser, via de regra, de médio a longo prazo. Lembre-se de que o artista é uma das pessoas mais à frente do seu tempo no universo que abordamos. Ele sente e transforma o momento crítico em documento para as futuras gerações.

Extremamente complexo, o mercado de arte depende de múltiplos fatores, por vezes intangíveis e inimagináveis. Portanto, guie-se pelo seu coração. No longo prazo, uma coleção terá obras com mais valor no mercado do que outras, mas seguramente algumas delas compensarão o investimento a ponto de suplantar as possíveis perdas. Vale a pena todo o trabalho e sacrifício? Opino que sim, porque enriqueceu a cultura e serviu de combustível para nossa evolução.
 

*Médico radiologista, membro do Conselho de Administração da Pinacoteca do Estado, do Projeto Leonilson e do Instituto de Cultura Contemporânea (ICCo)


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