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CAPA

PONTO DE PARTIDA (pg. 1)
Renato Azevedo Júnior - presidente do Cremesp


ENTREVISTA (pág.4)
Marcia Angell


HISTÓRIA (pág. 9)
Estados Unidos, por Gore Vidal


CRÔNICA (pág. 12)
Luis Fernando Verissimo*


ESPECIAL BOLÍVIA 1 (págs.14 a 25)
A realidade precária dos cursos de Medicina particulares


ESPECIAL BOLÍVIA 2 (págs.14 a 25)
Depoimentos sobre a formação médica em escolas particulares


CABECEIRA (pág. 27)
Por Reinaldo Ayer*


CONJUNTURA (págs. 28 a 31)
Longevidade e cuidados com o idoso


GIRAMUNDO (págs. 32-33)
Curiosidades de ciência e tecnologia, história e atualidades


PONTO COM
Informações do mundo digital


SUSTENTABILIDADE (pág. 36)
Idec, 25 anos


CULTURA (pág. 38)
A flauta encantada do mago do choro


HOBBY
Campeonato de Futebol de Equipes Médicas


GOURMET (pág. 44)
“Cozinhando eu relaxo”


FOTOPOESIA (pág. 48)
Paulo Leminski


GALERIA DE FOTOS


Edição 61 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2012

CABECEIRA (pág. 27)

Por Reinaldo Ayer*

Crônicas subversivas de um cientista

Crônicas subversivas de um cientista são as histórias que Luiz Hildebrando Pereira da Silva foi reunindo ao longo de sua movimentada e produtiva vida. Esse passo literário o coloca como autor de uma obra obrigatória para o deleite de um bom texto e o prazer de percorrer com ele a trajetória de um cientista consciente de seu papel e amoroso nas suas relações humanas.

Hildebrando nasceu em São Paulo e hoje vive em Rondônia, onde dirige o Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais. Militante audacioso do Partido Comunista Brasileiro, cursou a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, interessando-se por pesquisa em Doença de Chagas. Formado, foi trabalhar na Paraíba. Começava sua andança pelo mundo, aliando vocação científica e engajamento. Suas crônicas desse período têm o sabor de fruta do mato. Descreve as pessoas que vai encontrando como seres completos, plenos de vida e histórias.

Em 1964, depois de preso e demitido da USP por conta do Ato Institucional editado pelos militares, foi para Paris trabalhar como pesquisador no Instituto Pasteur, onde já fizera estágio. Sua produção científica o coloca entre os melhores.

Em 1968, retorna ao país, sendo contratado como professor na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. Foi novamente demitido por conta do Ato Institucional nº 5, juntamente com vários outros professores universitários perseguidos por suas convicções políticas, em defesa da democracia. Volta para Paris, onde continua a trabalhar no Instituto Pasteur, sendo nomeado chefe do Laboratório de Diferenciação Celular. Posteriormente, criou e dirigiu a Unidade de Parasitologia Experimental.

Aposentado na França, voltou ao Brasil e foi trabalhar em Rondônia, assumindo a direção dos programas de pesquisa em uma frente avançada da USP. De sua trajetória pela vida, enfrentando adversidades, fica a marca de perseguições durante a ditadura. Ao longo dos anos, continua sua militância política, relatada em crônicas temperadas com humor, profunda admiração e respeito por seus companheiros de sobrevivência no exílio. Sim, no exílio, continuou bem brasileiro.

De seus encontros e reencontros com protagonistas da história recente do país, especialmente da época da ditadura militar, extrai uma ousada crítica de valores e recupera pessoas esquecidas, mas que construíram, de maneira quase anônima, a retomada da democracia. Se de um lado suas crônicas revelam um homem comprometido com o seu tempo, bem como suas convicções humanitárias no trato das suas amizades, de outro, é implacável com seus “inimigos”. Os capítulos do livro vão possibilitando um avanço no tempo e nos tornando cúmplices do autor, como se fôssemos seus parceiros: “Vocação científica...com engajamento”; “Exílio e ciência”; “A longa viagem de volta”.

No final, ao reencontrar sua infância, manifesta: “Essa história de velho comunista, cientista engajado, já está ficando cansativa. Tenho pensado e pensado. Pensei em virar social-democrata, em cientista desengajado, em fabricante de queijo e até em rendeiro. Depois, refletindo mais, cheguei à conclusão de que não valia a pena. Ninguém vai acreditar e vão caçoar de mim. Além disso, já faz tanto tempo! Estou acostumadíssimo! Resolvi continuar comunista!”

Luiz Hildebrando, com suas “Crônicas...”, nos dá o prazer de um belo texto literário e nos faz compreender o significado de cidadania.

* Reinaldo é conselheiro, coordenador do Centro de Bioética do Cremesp e professor da Faculdade de Medicina da USP



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