CAPA
PONTO DE PARTIDA (SM pág. 1)
O Conselho Municipal de Saúde e seu importante papel na aglutinação e mobilização dos trabalhadores da saúde
ENTREVISTA (SM pág. 03)
Inteligente e polêmico, o convidado desta edição é Paulo Henrique Amorim. Sem comentários!
CRÔNICA (SM pág. 10)
O médico Tufik Bauab recupera, em linguagem bem-humorada, um pouquinho do cotidiano que faz a história de cada um
SINTONIA (SM pág. 12)
Esporte competitivo. Qual o limite para que o treinamento não se torne excessivo e prejudicial à saúde?
MEIO AMBIENTE (SM pág. 15)
Doença de Chagas e transmissão oral. Total descaso das autoridades com o meio ambiente e a saúde
CONJUNTURA (SM pág. 18)
Voluntários sadios e a polêmica da remuneração nos testes clínicos
DEBATE (SM pág. 21)
O tema em discussão trouxe à tona o Exame do Cremesp e a qualidade do ensino médico no país
HOBBY DE MÉDICO (SM pág. 28)
Cirurgia plástica e alpinismo? Combinação perfeita! Acompanhe os desafios de Ana Elisa Boscarioli...
ESPECIAL (SM pág. 32)
Cem anos de convivência com a cultura japonesa: a arte e a gastronomia conquistaram os brasileiros, definitivamente
CULTURA (SM pág. 38)
Oscar Niemeyer: dedicação integral à criação e à arte da arquitetura no país e no exterior
TURISMO (SM pág. 42)
Ah! você não pode perder essa viagem a um verdadeiro paraíso batizado de Ilha do Cardoso
LIVRO DE CABECEIRA (SM pág. 47)
Acompanhe a dica de leitura de nosso diretor de Comunicação, Bráulio Luna Filho
POESIA (SM pág. 48)
Cora Coralina é a poetisa que fecha com chave de ouro esta edição da Ser Médico
GALERIA DE FOTOS
CULTURA (SM pág. 38)
Oscar Niemeyer: dedicação integral à criação e à arte da arquitetura no país e no exterior
Oscar Niemeyer
“A gente imagina que daqui a 300 anos ainda vão falar de nós, mas é ilusão. Vão lembrar só do Oscar. Sempre haverá alguém estudando a obra dele”. A frase do antropólogo Darcy Ribeiro, falecido em 1997, evoca a imagem de uma pessoa, três séculos adiante, contemplando a Catedral de Brasília, os museus de arte Niterói e de Curitiba, a Universidade de Constantine, na Argélia ou o Palácio Mondadori, em Milão. E essa pessoa qualquer do futuro tentará decifrar quem foi Oscar Niemeyer, um homem que não superou apenas a expectativa de vida de seu tempo, sendo considerado um dos gênios da humanidade.
Edifício Copam com decoração alusiva aos 100 anos de seu arquiteto
“O Brasil tem 507 anos e Oscar Niemeyer tem 100, completados em 15 de dezembro último. Desses 100, 70 anos são de produção ininterrupta, o que elevou a nossa arquitetura ao status de internacional”, afirmou o professor de arquitetura da Unicamp, Marco Antônio do Valle, autor e orientador de diversas teses sobre o mais influente arquiteto brasileiro. “A obra de Niemeyer foi a que mais se dedicou à plástica da arquitetura do concreto e aos desafios existentes entre a técnica e a beleza. É uma arquitetura figurativa que possibilita a simpatia e a compreensão popular”, opina Valle. Apesar de muito influenciado pelo modernista Le Corbusier, desde cedo ele traçou um caminho próprio na arquitetura. Com o surgimento do concreto armado e das estruturas de metal, Le Corbusier revolucionou a sustentação dos prédios, trocando paredes por pilares. Le Corbusier fazia sua revolução basicamente sobre linhas retas. Niemeyer fez o concreto curvar-se às suas idéias. “Esse jovem tem as montanhas do Rio nos olhos”, teria dito Le Corbusier sobre Niemeyer.
Museu de Arte Contemporânea em Niterói
Em 1943, Niemeyer tinha pouco mais de 30 anos quando concluiu o Complexo da Pampulha em Belo Horizonte, dando início ao estilo que marcaria o seu trabalho. O conjunto de prédios em meio a uma marquise sinuosa rendeu muitas críticas e polêmicas locais. Essa mesma sinuosidade ganharia proporções faraônicas em um dos mais famosos edifícios de São Paulo, o Copan, inaugurado em 1953. Hoje decorado com o número 100 em sua fachada, alusão ao centenário daquele que o projetou, o edifício continua sendo a maior estrutura em concreto armado do país, com 115 metros de altura e 120 mil metros quadrados de área construída. De alta densidade populacional, o prédio tem 1.160 apartamentos, que variam de 26 a 350 metros quadrados, e cerca de 5 mil moradores distribuídos em seis blocos. No térreo funcionam cerca de 70 estabelecimentos comerciais.
Museu Oscar Niemeyer em Curitiba
Assim como o Copan, as obras de Niemeyer no Parque do Ibirapuera foram encomendadas para comemorar o quarto centenário de São Paulo, em 1954. O Palácio das Exposições, também chamado de Oca e a marquise são daquela época. Meio século depois, por ocasião dos 450 anos de São Paulo, Niemeyer agregou o Auditório em forma de trapézio às obras do Ibirapuera. O formato da Oca seria repetido no prédio do Congresso Nacional, em Brasília, em duas versões. Em 70 anos de produção, Niemeyer espalhou outros projetos pela capital paulista, entre eles o Pavilhão da Bienal e a sede do Detran, no Ibirapuera, além do Memorial da América da Latina e o Sambódromo de São Paulo. Para o professor Valle, o sambódromo paulista é uma das obras menos representativas do estilo Niemeyer. Na sua opinião, no Rio de Janeiro o arquiteto inovou ao criar um sambódromo e uma Praça da Apoteose com arcos que formam uma tanga, algo nunca concebido antes. Já o Sambódromo de São Paulo não apresenta nenhuma inovação, de acordo com o professor.
Catedral de Brasília
Valle orientou também a tese da arquiteta Daniela Viana Leal sobre “A fase renegada de Niemeyer”, quando projetou prédios residenciais e comerciais em São Paulo, na década de 1950, que não são citados em sua biografia. A tese é focada nos edifícios Montreal, Triângulo, Califórnia e Eiffel, todos encomendados pelo Banco Nacional Imobiliário (BNI), junto com o Copan, o único desse conjunto mencionado na biografia do arquiteto. Os projetos não saíram como os originais, o que talvez explique a omissão. O BNI, fundado em 1945, quebrou na década de 50, dificultando o andamento do Copan, na avenida Ipiranga, que levou 18 anos para ser construído.
Palácio Mondadori, Milão, Itália
O Copan mudou de dono várias vezes antes de ser concluído. O primeiro prédio dessa série foi o Califórnia, de 1951, sustentado por piloti em V, localizado na Barão de Itapetininga, rua de comércio elegante na época. Segundo Daniela, Niemeyer chegou a reconhecer que piloti em V perdia o sentido naquele local, cuja lei de zoneamento já previa prédios grudados. O Edifício Triângulo, na rua Direita, também não saiu como no papel. O projeto previa três tipos de vidro, aramado em baixo, para segurança, trans¬parente no meio e martelado em cima. Porém, o projeto teve de ser adapatado aos recuos que a Prefeitura exigia e o Triângulo ficou desfigurado. Já o Edifício Montreal, na avenida Ipiranga, foi construído tal como projetado. O Eiffel, na Praça da República, foi um sucesso de vendas na época. Os anúncios o apresentavam como um prédio para “a aristocracia no centro”. Era diferente dos outros, com apartamentos duplex.
No Interior do Estado, Niemeyer assina ainda o Conjunto Itatiaia, em Campinas, construído na década de 1950. Em forma de trapézio, é uma obra fiel ao estilo do arquiteto. Para atrair compradores, os jornais da época o anunciavam como “o primeiro projeto de Oscar Niemeyer para uma cidade do Interior paulista”. O Teatro Estadual de Araras, inaugurado em 1991, é outra obra característica de seu estilo. Das dezenas de edifícios projetados para o Plano Piloto de Brasília, destaca-se o Palácio da Alvorada, o Congresso Nacional e a Catedral de Brasília, todos cartões postais da cidade. O arquiteto comunista projetou uma catedral cheia de simbolismos. A entrada se dá pelo subsolo, um corredor mal-iluminado que contrasta com um saguão que recebe forte luz natural, deixando transparecer o céu único de Brasília.
Parlatino - Memorial da América Latina - São Paulo
De acordo com o professor Valle, “o mais interessante das obras internacionais de Niemeyer é a união da arquitetura brasileira ao imaginário dos países onde ele projeta prédios. Na sede da Editora Mondadori, em Milão, ele absorveu os arcos romanos da arquitetura antiga. Entre outros projetos, também é de Niemeyer a sede do Partido Comunista Francês, construído em Paris e a Universidade de Constantine, na Argélia." Vida longa aos gênios!